Especialistas em desinformação pedem que a UE resista à pressão dos EUA para desmantelar a legislação digital.
Por Redação, com Europa Press – de Bruxelas
Especialistas em desinformação pediram nesta terça-feira à União Europeia que resista às pressões dos Estados Unidos para desmantelar a legislação digital, depois de assinalar que Washington está se retirando da luta contra a interferência digital, aliando-se à Rússia, China ou Irã, além de se tornar “o porta-voz” das grandes plataformas digitais.

Nina Jankowicz, pesquisadora e ex-diretora executiva do Disinformation Governance Board, alertou que a Casa Branca está desmantelando todos os serviços de combate à desinformação e, juntamente com as grandes plataformas digitais, “discorda totalmente daqueles que exigem transparência deles” durante uma sessão sobre as ameaças e ataques híbridos da Rússia na Europa no Comitê Especial do Parlamento Europeu sobre o Escudo Europeu da Democracia.
Ele alertou os eurodeputados de que a Comissão Europeia está mirando os EUA e que buscará que a Europa volte atrás na legislação que obriga os gigantes digitais a monitorar o conteúdo publicado em suas redes.
– Eles estão preparando uma campanha com o objetivo de forçar as instituições europeias a encerrar seu apoio à Ucrânia e a desmantelar a Lei de Serviços Digitais. Peço a eles que se mantenham firmes, pois essa é a melhor maneira de mostrar à Rússia e a outros adversários em potencial que eles não deixarão de se defender – disse Jankowicz, que chamou os EUA de “autocracia” da qual a UE deve se distanciar e se defender.
– Se a Europa quer se defender da Rússia, se a Europa quer defender sua soberania e sua democracia, ela tem que enfrentar os valentões de quintal da Casa Branca neste momento – disse ele.
Interferência nas eleições e fluxos de migração ilegal
Christo Grozev, jornalista investigativo da Bellingcat, alertou que a interferência digital russa tem aumentado desde 2007 e que, nos últimos anos, ela assumiu a forma de sabotagem de infraestruturas críticas, como aeroportos e hospitais, além de maior interferência nas eleições e manipulação dos fluxos migratórios.
Ele deu como exemplo as recentes eleições alemãs e as eleições na Moldávia, nas quais o objetivo também é promover uma narrativa anti-ucraniana. Com relação à migração ilegal, ele se referiu à crise em Belarus, onde, segundo ele, há indícios de que muitos dos migrantes que cruzam para a Europa passaram um tempo na Rússia, que os apresentou como refugiados.
– A Europa não pode abandonar seus princípios, mas a Europa tem que nomear essa guerra e chamá-la pelo seu nome, ou seja, é uma guerra – disse Grozev, insistindo que essa é a única maneira de “combatê-la com a seriedade que ela exige”.
A presidente do Comitê Especial sobre o Escudo Europeu, Nathalie Loiseau, argumentou que, embora a Europa seja um projeto de paz e “nenhum de seus países membros esteja em guerra com a Rússia”, é preciso reconhecer que há anos a Rússia está em guerra “nas sombras” e com ataques híbridos contra as democracias europeias.
– Esses ataques híbridos assumem uma série de formas múltiplas: ataques cibernéticos, campanhas de desinformação, sabotagem de infraestrutura crítica, interferência eleitoral e instrumentalização de fluxos migratórios – disse ele.