Ideias totalmente equivocadas que, ousaria até dizer, dotadas de má-fé, tentam acuar educadores para que evitem justamente a conscientização de seus alunos e alunas.
Por Luiz Fernando Padulla - de São Paulo Quem nunca ouviu alguém dizendo que não gosta de política? Ainda mais em tempos onde noticiários nos bombardeiam com casos e mais casos de corrupção, abusos e "politicagens" que nos deixam atônitos, e muitas vezes, parecem fazer com que percamos nossa capacidade de indignação.Fogo
(Não vou negar que a vontade é pegar um coquetel molotov e sair tacando fogo em todo o sistema, mas infelizmente não dá para fazer isso!). "Ah, mas não adianta, os caras são poderosos e eles mesmos fazem as leis". Sabemos disso, mas se não fizermos frente e contestá-los, continuarão agindo desta maneira. E resistir começa na base. Base essa que começa em nosso entorno. Dentro de casa, no bar, na roda de amigos e até mesmo (principalmente!) nas escolas – apesar de quererem atribuir isso a falaciosa ideia de "doutrinação". Ideias totalmente equivocadas que, ousaria até dizer, dotadas de má-fé, tentam acuar educadores para que evitem justamente a conscientização de seus alunos e alunas. E conscientizar significa formar cidadãos e cidadãs críticos ao seu dia a dia; cidadãos que terão argumentos, saberão exigir que as leis se cumpram, que os políticos eleitos respeitem aqueles que os elegeram. Esse é o medo! Mas para não transparecer, adotam palavras de efeito e proliferam abusos e censura. A mais perigosa delas é a tal "Escola Sem Partido", que na verdade é uma maneira camuflada de evitar a contestação, impondo uma mordaça à real e efetiva educação. Com a ascensão da extrema-direita no Brasil e no mundo (surreal!!!), o flerte com ideias nazi-fascistas afloram cada vez mais. Esse mesmo projeto, ecoando mundo a fora, levou até mesmo uma das ministras da Corte Constitucional da Alemanha a condenar projeto similar em seu país (intitulado "Escolas Neutras"). Para Susanne Baer, esse tipo de prática é similar à vigilância nazista realizada durante a ditadura do Führer. Assim como no surgimento da "política salvadora" do partido nazista – que por sinal, era igualmente direitista apesar de tentarem associá-lo à esquerda – pregavam os bons costumes e a limpeza ética, enfatizando a família e o combate aos corruptos. No Brasil, os mesmos argumentos foram levantados e propagandeados recentemente, junto com mentiras ("fake news") que se alastraram e permitiram a eleição de Bolsonaro e seus comparsas. Com isso, as conquistas feministas (de extrema importância para a igualdade dos gêneros, e que não deve ser confundida como femismo!), das minorias como os LGBTIs e movimentos sociais, correm sério risco de sofrerem com a repressão. E isso será facilmente consolidado se a discussão e o diálogo não for permitido. Percebam que não é uma questão partidária, e sim política!Educação sexual
E vou além. A recente e absurda fala do astrólogo que se acha filósofo, o tal Olavo de Carvalho, afirmando que "quanto mais educação sexual, mais putaria nas escolas (...) no fim, está ensinando criancinha a dar a bunda, chupar pica, espremer peitinho da outra em público" mostra claramente a ideia equivocada sobre o que é efetivamente educação sexual. Ora, será que esse sujeito não entende (é obvio que não!) que educar sexualmente nas escolas é de fundamental importância para que se conscientize os jovens contra doenças sexualmente transmissíveis - ainda mais agora, onde casos de sífilis voltam a preocupar com seu padrão de epidemia - e até mesmo a prevenção da gravidez na adolescência? Educar os jovens em sala de aula permite, inclusive, que se reduzam os casos de aborto – outro ponto que essa gente adora condenar, sem que se faça uma avaliação mais aprofundada e racional, longe de fundamentos religiosos e respeitando a Constituição e o Estado laico. Enquanto educador, tenho a obrigação moral de ajudar esses jovens quando chegam com dúvidas e questionamentos, uma vez que sendo (ainda) um assunto considerado tabu na sociedade – e em muitas famílias – quase sempre não são discutidos em casa, como certos moralistas defendem. (Precisamos reforçar isso: o Estado é laico, ou seja, não defende e não deve seguir obrigatoriamente qualquer religião, assim como suas leis. Isso não quer dizer que o cidadão não poderá ter seu livre arbítrio religioso. O que deve ser respeitado é uma lei para todos. Assim, se a religião A é contra o aborto seu seguidor poderá continuar com suas crenças; já se a religião B, ou a ausência da mesma – permite o aborto, cabe ao Estado garantir que esse cidadão possa realizar o mesmo de forma segura e assistida, uma vez que é uma questão de saúde pública, e não meramente religiosa e/ou cultural. O mesmo vale para a legalização de drogas, como é o caso da maconha. Sua legalização não obrigará ninguém a sair consumindo, mas permitirá que seus (já) usuários não sejam considerados criminosos – muitos deles, inclusive, que necessitam dos efeitos terapêuticos contra dores e doenças crônicas). O perigo desse tipo de divulgação vai além de dogmas religiosos. O mesmo astrólogo, guru do presidente eleito, é contra o uso de vacinas (e ao mesmo tempo defende que o cigarro faz bem à saúde!). Para Olavo, vacinas fazem mal "matam e endoidam" as crianças, as quais estariam cuidadas e seguras apenas "por Nosso Senhor Jesus Cristo". Se esse tipo de imbecilização estivesse restrito ao Brasil e a figura senil deste pateta e seus pupilos, menos mal. No entanto, a raiz da ignorância se propaga como erva daninha. Nos EUA, por exemplo (tido como exemplo de país para a direita), na cidade de Asheville, no estado da Carolina do Norte, pais estão se negando a vacinar os filhos contra a catapora, o que tem desencadeado surtos da doença – que pode, inclusive, ser fatal. (Como bem disse Umberto Eco em 2015, "as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis").Bolsominions
"Ah, mas ele pode ter a opinião dele", alguns bolsominions podem argumentar (juro que quis evitar esse tipo de adjetivo, mas não resisti!). Concordo. Opinião todos podem ter, no entanto, influenciar de forma negativa e com bizarras argumentações e propagação em massa, não é opinião, e sim mau-caratismo. Em 1904, a chamada "Revolta da Vacina", encabeçada por intelectuais da época, era até compreensível, dadas as incertezas dos possíveis resultados e seus efeitos colaterais, justamente pela escassez em pesquisas e resultados. Hoje, no entanto, esse tipo de argumento é inconcebível, e só piora quando (pasmem!) dizem que as vacinas seriam um mecanismo de controle e implementação de doenças por parte da uma "Nova Ordem Mundial", com o objetivo de reduzir o número da população mundial. (Curiosamente, esses mesmos "gênios" que defendem a vida, são apoiadores da devastação de florestas para a implementação do agronegócio e seu pacote de venenos e transgênicos). E quando nós, educadores, apresentamos fatos (comprovados pela Ciência e pela História, por exemplo), contestando esse tipo de absurdo e conscientizando de erros passados para que não voltem a se repetir, querem nos rotular de "doutrinadores". E substanciando esse tipo de força, elegem bancadas que fortalecem cada vez mais essas ideias, ultrajando princípios básicos da democracia e interesses do povo brasileiro. Defendem cinicamente seus interesses pessoais ao apoiar a liberação de agrotóxicos, alegando que são seguros, e propagam que as leis são burocráticas e atrasadas demais, negligenciando os impactos para a saúde e o meio ambiente. Inclusive, o próprio registro e liberação de agrotóxicos passaria agora a ser exclusividade do Ministério da Agricultura "E o que fazer, então?". Não baixar a guarda! Continuar no caminho certo, lutando contra mais esse retrocesso. Só assim poderemos fazer frente e combater efetivamente esses canalhas que estão ocupando o poder. Contestar sempre, não aceitar qualquer tipo de (des)informação e imposição. Lutar contra atitudes lesa-pátria e injustiças travestidas de justiça. Sejamos sábios, coerentes e corajosos. Afinal, não podemos permitir que a profecia de Nelson Rodrigues se concretize, e contra os idiotas temos o dever de lutar e combatê-los para impedor que tomem conta do mundo. E para isso, só há uma solução: educação livre e libertadora!Luiz Fernando Padulla, é professor, biólogo, doutor em Etologia, mestre em Ciências, autor do blog 'Biólogo Socialista'.