Do Brasil à China, passando pela União Europeia e o Vaticano, novo capítulo entre Israel e Irã gera apreensão com uma espiral de violência. Moscou atribuiu parte da culpa ao Ocidente, corrobora justificativas iranianas.
Por Redação, com DW - de Bruxelas/Brasília
Brasília expressou "grave preocupação" com o ataque do Irã contra Israel com mísseis e drones, na noite de sábado, em retaliação ao bombardeio da embaixada de Teerã na capital síria, Damasco, em 1º de abril.
"Desde o início do conflito em curso na Faixa de Gaza, o governo brasileiro vem alertando sobre o potencial destrutivo do alastramento das hostilidades à Cisjordânia e para outros países, como Líbano, Síria, Iêmen e, agora, o Irã", consta do comunicado do Ministério das Relações Exteriores.
"O Brasil apela a todas as partes envolvidas que exerçam máxima contenção e conclama a comunidade internacional a mobilizar esforços no sentido de evitar uma escalada." O Itamaraty afirma ainda que desde outubro último "monitora a situação dos brasileiros", "em particular em Israel, Palestina e Líbano", e desaconselha "viagens não essenciais à região".
Dirigindo-se aos fiéis na Praça de São Pedro, o papa Francisco instou Israel e Irã a evitarem ações capazes de alimentar "uma espiral de violência", ameaçando arrastar o Oriente Médio para um conflito ainda mais profundo: "Chega de guerra, chega de ofensivas, chega de violência. Sim ao diálogo, sim à paz."
UE promete solidariedade incondicional
Em viagem pela China, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, voltou a condenar as investidas iranianas com drones e mísseis como "um ataque absolutamente injustificável", e "uma séria escalada da situação". Antes, ele advertira que Teerã estaria "arriscando um incêndio descontrolado regional", acrescentando que "nestas horas difíceis, a Alemanha está bem ao lado de Israel" e que Berlim vai agora deliberar outras reações "em conjunto como nossos parceiros do G7 e aliados".
Está marcada para a noite deste domingo uma conferência das sete principais nações industriais ocidentais, com o fim de harmonizar sua reação aos bombardeios. Scholz participará por vídeo a partir da China, assistido por um especialista em TI, a fim de garantir a segurança digital.
A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, condenou "com todo o rigor" a operação militar de Teerã "que poderá precipitar toda a região no caos". Na rede social X (ex-Twitter), frisou: "O Irã e seus representantes têm que parar imediatamente", e "nessas horas, Israel merece toda a nossa solidariedade".
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, referiu-se a uma "escalada ímpar": a UE "condena com o maior rigor o inaceitável ataque a Israel", que constitui "uma grave ameaça à segurança regional". O presidente do Conselho da Europa, Charles Michel, enfatizou no X que é preciso "fazer tudo para evitar uma escalada regional maior".
Moscou defende motivos do Irã, acusa Ocidente
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou o ataque iraniano como "atrevido" e assegurou apoio "inabalável" a Tel Aviv. Antes, o democrata convocara uma reunião de emergência com sua equipe encarregada de assuntos de segurança.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, exigiu "o fim imediato das hostilidades", declarando-se "profundamente alarmado com o perigo muito real de uma escalada devastadora em toda a região". O Conselho de Segurança da ONU anunciou uma conferência emergencial para ainda este domingo.
Através de porta-voz, o Ministério do Exterior da China igualmente expressou "profunda apreensão com a escalada atual", instando "as partes envolvidas decisivas a praticarem calma e moderação, a fim de evitar futuros agravamentos". Pequim conclamou a comunidade internacional, "em especial os países influentes, a desempenhar um papel construtivo na paz e estabilidade da região".
Por sua vez, apesar de também demonstrar preocupação, a Rússia atribuiu parte da culpa ao Ocidente, e lembrou que o Irã justifica sua ofensiva aérea contra Israel com base no Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, que trata da legítima defesa em caso de ataque armado, após o bombardeio do consulado iraniano em Damasco. Moscou é aliado próximo de Teerã, que também lhe fornece armas para a guerra de agressão contra a Ucrânia.
A Sociedade Teuto-Israelense (DIG) convocou para este domingo uma manifestação de solidariedade diante do Portão de Brandemburgo, em Berlim. "Com seu ataque bélico e direto a Israel, o Irã inaugurou um novo e perigoso capítulo desta guerra", comentou seu presidente, Volker Beck.
A razão de Estado iraniana seria a aniquilação de Israel, e "esse regime tem que ser isolado", cortando-se todas as relações econômicas. Aqui, a Alemanha teria "hesitado por tempo demais a adotar um posicionamento consequente e claro", frisou o líder da DIG.