O ato chegou a bloquear a Avenida Borges de Medeiros. Dirigentes da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS) acompanharam a manifestação, que depois percorreu as ruas do Centro até a Assembleia Legislativa do RS.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília
Entregadores de aplicativo com bicicleta que usam o Ponto de Apoio iFood Pedal no Centro Histórico de Porto Alegre realizaram uma manifestação em frente ao local, na segunda-feira. Entre os motivos do protesto estão o aumento da taxa cobrada pelo serviço e a degradação do espaço e das bicicletas de trabalho.
O ato chegou a bloquear a Avenida Borges de Medeiros. Dirigentes da Central Única dos Trabalhadores do RS (CUT-RS) acompanharam a manifestação, que depois percorreu as ruas do Centro até a Assembleia Legislativa do RS, quando o grupo foi recebido pelo superintendente-geral da Casa, Genil Pavan.
Entregador há dois anos e meio, Talisson Vieira foi um dos organizadores do ato. Segundo ele, a luta é por valorização da categoria que faz a cidade se mover com a entrega de alimentos.
Ele conta que, desde a semana passada começaram rumores sobre o aumento da taxa do ponto de apoio, através de pesquisas de preços. Ao chegarem hoje para retirar as bicicletas, a surpresa: um aumento que no final do mês chega a 300%. “A gente pagava cerca de R$ 50 ou R$ 60 por mês, ao todo, para usar as bicicletas elétricas do iFood e o espaço do ponto de apoio. Hoje simplesmente passou para R$ 28 por semana, mais R$ 2 por retirada, que é um preço absurdo. No final do mês, se tu folgar um dia por semana, dará R$ 230, o que antes era 50 passou pra 230”, conta.
Outro fator de descontentamento é a degradação do ponto de apoio. “No início, quando veio a iFood Pedal para Porto Alegre, tinha puff para deitar, cadeira a vontade, micro-ondas. Hoje a gente tem dois puffs, porque foram rasgando e simplesmente retiraram. São 100 entregadores, daí o pessoal tem que descansar no chão, no piso frio, além da falta de manutenção das bicicletas, o que já levou a acidentes”, afirma.
Ainda segundo Talisson, os entregadores poderiam até aceitar o aumento da taxa para uso das bicicletas e do espaço. “Desde que melhorasse a qualidade do local e das bicicletas elétricas”, aponta. Ele também relata entregadores sendo ameaçados por funcionários do local e situações de priorização de algumas pessoas, o que acabou gerando intrigas entre os trabalhadores.
Início de uma organização dos trabalhadores
Mestrando em Ciência Política, Leonardo Rodrigues Limeira estuda a questão dos entregadores de aplicativo e apoiou a manifestação. Presente no ato, ele conta que os gerentes do local estavam diante do estabelecimento rindo dos trabalhadores. “Até o momento que a CUT chegou, daí eles se mandaram pra dentro”, afirma.
Segundo ele, os trabalhadores disseram que a questão da taxa foi o estopim de uma situação de desvalorização que já vem há tempo. "Os valores pagos são muito baixos e existem coisas como as entregas duplas, que o entregador recebe centavos a mais para fazer outra entrega num local próximo. Além das péssimas condições, bikes sem manutenção, pneus carecas, freios que não funcionam, bancos soltos, sem retrovisores, sem iluminação para circular à noite", exemplifica.
Para Leonardo, o ato já tem um saldo positivo na questão organizativa. “Muitos participaram pela primeira vez de uma manifestação, muitos se prontificaram a continuar a organizar a categoria e se estabeleceu um diálogo entre a CUT e esses trabalhadores. Além do encaminhamento com a Assembleia Legislativa."
Na avaliação da Talisson, a presença da CUT-RS foi muito benéfica para dar força à luta. "A gente não tem um sindicato, por exemplo como a Uber. Mas iFood, 99, Rappi, a gente não tem. As condições de trabalho são muito difíceis, a gente trabalha muito e ganha pouco, e ainda faz propaganda para as empresas nas bags e camisetas.
Ele conta que logo depois da manifestação, os entregadores que participaram foram bloqueados e não podem mais acessar as bicicletas do ponto de apoio.
"Exploração dos trabalhadores vulnerabilizados"
O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, esteve na manifestação. Para ele, é evidente que a situação dos entregadores de alimento, no caso do Ifood, “é um grande sistema de exploração dos trabalhadores vulnerabilizados”. Ele critica o fato de não terem um lugar para tomar uma água, para descansar, enquanto trabalham pedalando bicicleta, entregando refeições.
– Chegou ao cúmulo que a empresa altere unilateralmente o valor do contrato mensal que esses trabalhadores pagam para utilizar os equipamentos do Ifood. Os trabalhadores também reclamam que não receberam equipamentos para se proteger da chuva e do frio. Eles estão suportando tudo isso com recursos próprios, o que para eles está impossibilitando a própria sobrevivência – comenta.
Segundo Amarildo, a CUT-RS está nesta luta por direitos. “Estamos integralmente comprometidos na luta, no apoio a esses trabalhadores e vamos seguir juntos para que essa situação seja resolvida ou mitigada, e eles consigam recuperar a dignidade no trabalho”, finaliza.
A fim de ter a posição oficial do iFood Pedal, o Brasil de Fato contatou a Tembici, empresa responsável pelo espaço e suas bicicletas, bem como pelas bicicletas de aluguel Bike Itaú. Contato inicial via chat informou que o único canal de atendimento à imprensa é através de email. A mensagem foi enviada, mas até o fechamento desta matéria não houve retorno.