O entrevero foi presenciado pelo jornalista Jamil Chade, que gravou o momento e divulgou em seu Twitter. A discussão começou após um discurso do ativista, que foi convidado para falar sobre populismo.
Por Redação, com agências internacionais - de Genebra
Embaixadora do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), a diplomata Maria Nazareth Farani Azevedo protagonizou, nesta sexta-feira, um dos episódios mais degradantes para o Itamaraty, ao longo de sua história. A representante do Brasil no fórum mundial quase foi às vias de fato contra o ex-deputado federal Jean Wyllys, na capital suíça.
O entrevero foi presenciado pelo jornalista Jamil Chade, que gravou o momento e divulgou em seu Twitter. A discussão começou após um discurso do ativista, que foi convidado para falar sobre populismo. Segundo o jornalista, o ex-deputado explicou que Bolsonaro ganhou com uma campanha baseada na disseminação de notícias falsas e no discurso de ódio.
A embaixadora, então, pediu a palavra e começou a atacar as falas do ativista — que deixou o Brasil por conta de ameaças. No vídeo, a representante do Brasil aparece se levantando para sair, quando um dos membros estrangeiros questiona: “a senhora não quer ouvir a resposta dele?”.
Ela rebateu:
— Só se eu tiver direito de responder de novo.
Democracia
Em meio a risadas dos membros da comissão, que ouviam Wyllys, alguns participantes a alertaram de que não é dessa forma que funciona. Nesse momento, o ex-deputado toma o microfone e começa a falar sobre as atitudes do governo de Jair Bolsonaro.
— Se a senhora quisesse um debate, ouviria minha resposta. Minha presença amedronta a senhora e seu governo, que não tem compromisso com a democracia, sobretudo em um momento em que a imprensa revela ligações entre organizações criminosas, os assassinos de Marielle Franco e a família do presidente da República — disparou o ativista.
A embaixadora interrompe as falas de Wyllys diversas vezes enquanto ele pedia para que ela “respeitasse a democracia”. Nesse momento, ela levanta e deixa a sala.
Imagem
O jornalista que gravou o momento afirmou que, nos corredores da ONU, há um movimento para considerar o gesto da diplomacia brasileira como um assédio contra defensores de direitos humanos.
Em meio ao ambiente conflagrado, na diplomacia brasileira,o presidente afirmou que irá trocar pelo menos 15 embaixadores brasileiros no exterior. Serão cortados aqueles que não estiverem “vendendo uma boa imagem do Brasil no exterior”.
Bolsonaro está reclamando de sua “imagem ruim”, apresentado nos meios de comunicação do exterior como”racista, homofóbico e ditador”. Ele deu a entender que caberia aos diplomatas brasileiros reverter isso.
Embaixada
Em outro episódio espinhoso para o Itamaraty, a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém, conforme prometido por Bolsonaro, foi alvo de um comentário frio por parte do governo do presidente de Israel, Benjamin Netanyahu. O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, afirmou nesta sexta-feira que eventual decisão sobre transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém diz respeito à soberania do Brasil.
O comentário de Shelley foi feito ao ser questionado se há expectativa de um anúncio nesse sentido durante a viagem do presidente Jair Bolsonaro a Israel no fim do mês.
Bolsonaro chegou a prometer, durante a campanha eleitoral e depois de eleito, a transferência da embaixada, medida defendida pela bancada evangélica, uma das primeiras a declarar apoio ao então candidato. O compromisso, no entanto, se choca com interesses comerciais com países árabes e entrou em banho maria, ou, como disse o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, ficou “um pouco para as calendas”.