Seap vê prática crescer enquanto reforça tecnologia, amplia bloqueadores e enfrenta casos de corrupção entre agentes.
Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro
A entrada de celulares, drogas e objetos proibidos nos presídios do Rio ganhou um novo capítulo que já desperta preocupação entre as autoridades. Ao lado das tradicionais tentativas de visitantes que escondem ilícitos em alimentos, calçados e até produtos de limpeza, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) passou a registrar uma rota aérea silenciosa, que ignora filas, escâneres e revistas corporais: drones usados para transportar contrabando por cima dos muros. As informações são do portal Extra.

A prática ainda é incipiente, mas não mais rara. Segundo a Seap, os episódios começaram a se multiplicar nos últimos anos e trazem uma camada extra de sofisticação a um sistema prisional já pressionado por métodos cada vez mais criativos de entrada de ilícitos. Agentes relatam flagrantes envolvendo drogas escondidas em solados de chinelos, caixas de leite, pães, potes de feijão e frascos de detergente e remédios.
Casos recentes mostram avanço da rota aérea
Entre 2020 e março deste ano, quatro drones foram interceptados tentando levar celulares ou entorpecentes para dentro das unidades. Em janeiro, um equipamento com câmera acoplada foi derrubado próximo ao Presídio Carlos Tinoco da Fonseca, em Campos, carregando droga. Dois meses depois, pequenos tubos com entorpecentes foram arremessados sobre a Cadeia Pública Franz de Castro Holzwarth, em Volta Redonda. Também em 2023, agentes flagraram drones transportando celulares e carregadores.
A secretária da Seap, Maria Rosa Nebel, afirma que o fenômeno exige vigilância permanente. “É uma questão que merece atenção constante. Estamos atentos a esse tipo de movimentação e atuamos de forma preventiva e integrada com outras forças de segurança para coibir qualquer tentativa de utilização desses equipamentos em atividades ilegais no entorno das unidades”, diz ela.
Enquanto o uso de drones aumenta, a Seap registra queda nas apreensões de drogas e celulares: de janeiro a setembro deste ano, foram interceptados 66,3 quilos de entorpecentes e 1.858 aparelhos, contra 233 quilos e 9.701 celulares no mesmo período de 2024.
Tecnologia reforçada e investimentos milionários
A queda nos números, diz a secretaria, é efeito direto do fortalecimento do Grupo de Intervenção Tática (GIT) e da expansão dos escâneres corporais e bloqueadores de sinal. Além disso, o governo estadual prepara a instalação de um sistema integrado para bloquear celulares, sinal de internet e drones nas 49 unidades prisionais do Rio.
O investimento total é de R$ 431,5 milhões, incluindo locação de equipamentos, instalação, manutenção, atualizações e suporte técnico por três anos. Lançada em abril passado, a licitação teve implementação iniciada agora em duas unidades do Complexo de Gericinó: a Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho e o Presídio Gabriel Ferreira de Castilho. O contrato com a empresa IMC Tecnologia em Segurança Ltda. prevê cerca de R$ 563 mil para o Castilho e R$ 282 mil para a Jonas Lopes. As duas foram priorizadas pela limitação orçamentária. Pelo edital, todas as unidades deverão estar equipadas até o início de 2027.
Tentativas inusitadas e casos envolvendo agentes
Mesmo com mais tecnologia, episódios recentes mostram que a criatividade dos cúmplices dos presos não vem diminuindo. Em julho, três mulheres — a companheira e duas amigas de detentos — tentaram entrar no Complexo de Gericinó com drogas escondidas nos próprios chinelos. Os calçados pareciam normais, mas o escâner corporal identificou imediatamente a adulteração.
Nem sempre, porém, os flagrantes envolvem visitantes. Duas semanas antes do episódio das sandálias, um policial penal tentou entrar com substâncias ilícitas escondidas em caixas de leite que seriam distribuídas no café da manhã dos presos. Outro caso, em novembro, revelou um policial penal envolvido em pelo menos quatro ocorrências semelhantes no Presídio Evaristo de Moraes. Durante seus plantões, sacos de lixo eram arremessados por cima do muro contendo drogas, celulares, bebidas alcoólicas e chips.
Sobre episódios envolvendo servidores, a secretária Maria Rosa Nebel reforçou que a Seap tem adotado medidas rigorosas. Ela afirma que o policial flagrado no Evaristo de Moraes está sendo “rigorosamente” investigado pela corregedoria, “com todas as medidas cabíveis sendo adotadas na esfera administrativa e criminal”.
“É importante reforçar que a imensa maioria dos nossos policiais penais atua com seriedade e compromisso. Casos isolados não refletem a conduta da categoria”, disse a secretária.
Operação revela apreensão recorde e fuga inusitada
Nem sempre a tentativa de entrada de ilícitos envolve truques sofisticados. Em 24 de novembro, agentes do Presídio Nelson Hungria (Bangu 7) se surpreenderam com a chegada de uma visitante carregando diversas sacolas pesadas e volumosas. Após passarem os itens duas vezes no escâner, os agentes decidiram abrir os pacotes e descobriram um verdadeiro depósito de contrabando: 130 celulares, 17 quilos de maconha, 3,5 quilos de cocaína, 80 pedras de crack, 185 gramas de haxixe e 50 chips de celular.
Ao perceber que havia sido descoberta, a mulher fugiu do local. Diante da gravidade do episódio, a Seap suspendeu as visitas por tempo indeterminado. O diretor, o subdiretor e o chefe de segurança do presídio foram afastados preventivamente. Quatro presos identificados como chefes da facção Povo de Israel foram transferidos para Bangu 1, unidade de segurança máxima.