Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Doença de Chagas: uma nova realidade de enfrentamento

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Segunda, 14 de Janeiro de 2019 às 08:54, por: CdB

O consumo de alimentos contaminados com parasitos, como caldo de cana e açaí, é a principal forma de transmissão da doença.

Por Redação, com ACS - de Brasília

Por muito tempo, a possibilidade de receber uma picada do inseto conhecido como barbeiro e adquirir a Doença de Chagas preocupava a população brasileira. Durante as aulas de ciências, aprendíamos todo o ciclo da doença: o inseto barbeiro infectado picava a pele de uma pessoa e depositava suas fezes na região; ao coçar o local, as fezes contaminadas caiam na corrente sanguínea; e, assim, era transmitida a doença de chagas.
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Por muito tempo, a possibilidade de receber uma picada do inseto conhecido como barbeiro e adquirir a Doença de Chagas preocupava a população brasileira
Mas essa realidade mudou. Ações realizadas no controle de vetores ajudaram o Brasil a receber, em 2006, a certificação internacional da interrupção da transmissão vetorial da doença pela principal espécie do inseto, o Triatoma infestans.
Atualmente, a doença é transmitida principalmente pelo contato do ser humano com o ciclo silvestre do inseto, como picadas que acontecem nas zonas de mata e a transmissão oral pela ingestão de alimentos contaminados, explica o coordenador-geral de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Renato Vieira Alves. – A forma tradicional de transmissão, com o barbeiro colonizando e infestando residências, foi controlada no Brasil. Atualmente, os casos novos registrados acontecem principalmente na região norte do país. Mesmo nesses casos, a transmissão não costuma acontecer nos domicílios, mas na mata. Nessa nova realidade, a transmissão da doença de chagas acontece principalmente pela alimentação, quando em algum momento da produção do alimento existe a contaminação do alimento pelo conteúdo do estômago do inseto – esclarece Alves. Entre 2008 a 2017, a maioria dos estados brasileiros registraram casos confirmados de doença de chagas. Entretanto, a maior distribuição, cerca de 95%, concentra-se na região Norte. Destes, o estado do Pará é responsável por 83% dos casos

Consumo de alimentos é a principal forma de transmissão

Em relação às principais formas prováveis de transmissão ocorridas atualmente no país, 72% foram por transmissão oral, 9% por transmissão vetorial e 18% não identificada. “A contaminação alimentar acontece principalmente por caldo de cana, açaí e outros alimentos que são consumidos in natura, sem processo de cozimento”, destaca o coordenador. De acordo com Alves, os cuidados que devem ser tomados com a doença de Chagas são praticamente os mesmos para qualquer doença transmitida por alimentos. “Por exemplo, ao consumir alimentos desse tipo, procurar por lugares com boa condição de higiene e inspecionados pela vigilância sanitária. Preparando em casa, é importante ter todos os cuidados de higienizar, lavar bem e também, possivelmente, escaldar os frutos antes do consumo. Qualquer tratamento térmico com cozimento acima de 45ºC elimina o perigo de transmissão da doença”, orienta. Por outro lado, o resfriamento ou congelamento de alimentos não previne a transmissão oral da infecção. Quanto à transmissão vetorial, a recomendação do Ministério da Saúde é adotar medidas de proteção individual (repelentes, roupas de mangas longas, etc.) durante a realização de atividades noturnas (caçadas, pesca ou pernoite) em áreas de mata ou barreiras físicas nas casas, com telas nas janelas e portas, para evitar a invasão eventual dos vetores.

Ainda existem vestígios do passado

Mas ainda existem marcas do passado bem marcadas na população. Hoje a prioridade para o Ministério da Saúde é ampliar o diagnóstico e acesso ao tratamento para as pessoas infectadas ao longo de décadas de intensa transmissão e que resultaram em estimativa de cerca 1 milhão de pessoas no país atualmente. Nesse sentido, em outubro de 2018 foi publicado o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para a doença. Este documento estabelece os critérios para diagnóstico, tratamento e manejo clínico a serem seguidos pelos gestores do SUS.

O que é a Doença de Chagas?

A doença de Chagas (tripanossomíase americana) é uma condição infecciosa aguda e crônica causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, parasita encontrado em fezes de insetos. Estima-se que existam aproximadamente 12 milhões de portadores da doença crônica nas Américas, e que haja no Brasil, atualmente, pelo menos um milhão de pessoas infectadas. A transmissão da doença de Chagas pode ocorrer de diferentes formas: • Contato com fezes/e ou urina de triatomíneos (insetos popularmente conhecidos como barbeiro), por via direta (vetorial); ingestão de alimentos contaminados com parasitos; via materno-fetal; transfusão de sangue ou transplante de órgãos;  acidentes laboratoriais, pelo contato da pele ferida ou de mucosas com material contaminado. O período de incubação da Doença de Chagas, ou seja, o tempo que os sintomas começam a aparecer a partir da infecção, é dividido da seguinte forma: Transmissão vetorial – de 4 a 15 dias. Transmissão transfusional/transplante – de 30 a 40 dias ou mais. Transmissão oral – de 3 a 22 dias. Transmissão acidental – até, aproximadamente, 20 dias. A Doença de Chagas pode apresentar sintomas distintos nas duas fases que se apresenta, que são a aguda, na fase inicial e a crônica, quando os sintomas inicias desaparecem sem tratamento e retornam posteriormente. A fase aguda, que é a mais leve, a pessoa pode apresentar sinais moderados ou até mesmo não sentir nada. Na fase aguda, os principais sintomas são: Febre prolongada (mais de 7 dias); dor de cabeça; fraqueza intensa; inchaço no rosto e pernas. Na fase crônica, a maioria dos casos não apresenta sintomas, porém de 30 a 40% das pessoas podem apresentar, depois de vários anos sem nenhum sinal clínico, formas sintomáticas e potencialmente graves: Problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca; problemas digestivos, como megacolon e megaesôfago. A Doença de Chagas tem cura e quanto antes for realizado o tratamento melhor. Todo caso diagnosticado deve ter acompanhamento médico e, quando indicado, deve ser tratado com medicação específica, disponível, gratuitamente, no SUS.
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