Depois de um mês de batalhas legais para evitar a exibição de "Imelda", documentário sobre a vida da viúva do ditador Ferdinand Marcos, o filme finalmente estreou nesta terça-feira em Manila em meio a uma grande expectativa.
"Imelda poderia passar oito anos usando sapatos diferentes a cada dia e não repetiria nenhum par", assim começa o vídeo da cineasta filipina Ramona Díaz, premiado este ano no festival de cinema independente de Sundance.
Narrado em primeira pessoa, o documentário conta como a "Borboleta de Ferro", apelido de Imelda, se transformou na embaixadora mais conhecida no mundo e também numa das mulheres mais controversas do século XX.
A Justiça a acusa de ter embolsado, junto com Ferdinand Marcos, uma fortuna de 10 bilhões de dólares durante os 21 anos em que ambos estiveram no poder nas Filipinas.
"Sou uma mulher incompreendida", diz uma Imelda madura no banco de trás de seu carro, que há tempo atrás construía castelos de areia em seu povoado natal de Leyte, sonhando em ser uma princesa.
De fato, só faltou ela ser coroada rainha, já que, sem dúvida, é a mulher mais polêmica da história do país, como mostra o documentário.
Imelda relata dados curiosos de sua vida e faz declarações extravagantes nas quais expõe sua verdadeira personalidade. É o que acontece quando ela descreve como tentaram assassiná-la com uma faca "anti-estética e asquerosa".
Apesar de ser considerada por muitos a cúmplice da decadência das Filipinas na ditadura conjugal que liderava junto com Marcos, o filme também mostra seu lado humano.
"Me considero escrava e, ao mesmo tempo, uma estrela. Sou uma estrela aos olhos do povo porque ele precisa de um modelo a seguir. E sou escrava porque trabalho sem parar pelo país", declara a ex-primeira-dama em sua entrevista à cineasta.
Suas campanhas em prol da cultura e do controle de natalidade e suas relações internacionais são lembradas no documentário, junto com a crua realidade da ditadura: a corrupção, a violação dos direitos humanos e o saque aos cofres do Estado.
Segundo descreve Díaz, Imelda não foi só extravagância e pompa, mas também uma primeira-dama que se infiltrou totalmente na política.
A sobreposição de imagens da fortuna e das jóias dos Marcos, recuperadas pelos oficiais da alfândega, com declarações da própria Imelda negando sua existência tornam o filme polêmico. Tanto que sua protagonista tentou impedir seu lançamento por considerar que ele invade sua privacidade e viola seus direitos como pessoa.
Em várias audiências judiciais nas quais chorou em público, a viúva do ditador pediu que o documentário não fosse exibido, dizendo que foi enganada por sua produtora, que tinha assegurado que o material que conseguiu com Imelda seria utilizado para sua tese de fim de curso.
A sempre polêmica "Borboleta de Ferro", que com seus 75 anos continua amando ser uma personagem pública, retirou seu recurso da Justiça, segundo ela, em prol da liberdade de expressão.
"Tendo estado sobre vistas públicas durante anos, vou retirar meu recurso, no espírito da liberdade e do direito de expressão de todos, com a condição de que a palavra 'documentário' seja apagada do título", disse Imelda no último dia 12 de julho.
Os cartazes do longa-metragem, nos quais pequenas fotos de seus sapatos, juntos, formam o rosto da protagonista, invadiram desde ontem os cinemas de Manila e promovem "o filme que quase não pôde estrear".