O resultado das eleições no Brasil, com gestão a partir de janeiro, parecia dar sinais de que, de fato, a direita estaria ganhando força no Mundo. Doce ilusão. Mesmo tomando o poder até em países-chaves da Europa e das Américas, esses governos do atraso têm demonstrado desunião em temas centrais da atualidade.
Por Jaime Sautchuk - de São Paulo
Começa pelo fato de que o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, quer porque quer ser dono do mundo, nem saber de multilateralismo. Bateu de frente com a China em questões militares e geopolíticas, mas teve que pisar no freio nas econômicas, em especial a comercial. Sentiu que o mercado chinês não é de pouca brincadeira.
O daqui, seu ajudante de ordens, mesmo antes de assumir dá sinais de que seguirá o chefe na política externa. Disse, por exemplo, que o Brasil também irá retirar sua assinatura do Acordo de Paris sobre a Mudança Climática, assinado em dezembro de 2015, que propõe a redução na emissão de gases de efeito estufa.
Os EUA assinaram o compromisso, juntamente com outros 194 países das Nações Unidas, mas, em junho passado, Trump retirou a assinatura, de modo intempestivo, dizendo não ver riscos de aquecimento do Planeta. Demonstrou, em verdade, completo descaso pelo assunto, com a costumeira arrogância.
Contudo, em discurso na Assembleia Geral da ONU, semana passada, em Nova Iorque, o chefe de estado francês, Emmanuel Macron, tido como aliado, reagiu com firmeza. Ele pediu que os demais países da ONU não façam parceria comercial com quem não respeitar esse acordo. Ou seja, com os EUA e, quiçá, o Brasil.
Na mesma direção, Macron reiterou o apoio da França a políticas multilaterais, se contrapondo às posições estadunidenses e do futuro governo brasileiro. Segundo ele, essa postura “nos colocará em um conflito de todos contra todos, que afetaria inclusive a quem se considere mais forte”.
Num primeiro momento, o Brasil sai ganhando com isso, uma vez que a China é grande compradora de grãos, produto que por aqui há com fartura. E quem mais gosta são os ruralistas, que vendem mais soja e milho a bons preços a esse grande mercado que se abre.
No entanto, já é possível mensurar grande queda nas exportações à Europa, por conta de conceitos emitidos pelo futuro presidente e por seus porta-vozes. Essa tendência deve se agravar ainda mais com a anunciada saída do Acordo de Paris, em especial pelo fato de a Amazônia brasileira ser vista como uma espécie de “último reduto” que precisa ser preservado.
Leve-se em conta que as vendas de grãos aos chineses também são circunstanciais, pois eles reclamam da distância física e, agora, também política, já que o presidente eleito diz que não quer saber de relações com os “vermelhos”.
Ademais, estão avançadas as conversas de Pequim com Moscou sobre esse assunto, fazendo crer que a soja russa ganhará a preferência, por ser mais vantajosa a eles.
Jaime Sautchuk, é jornalista.
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