O caso Waldomiro Diniz está encerrado. A avaliação foi feita pelo ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, principal alvo da oposição, em sua primeira entrevista coletiva desde a eclosão do escândalo, há 38 dias.
Dirceu afirmou que não está mais incomodado com o caso, mas manifestou seu desconforto por não ter percebido o problema antes de ele surgir. "Fiquei inconformado por eu não ter me dado conta do que estava acontecendo, mas este assunto está nas mãos da Justiça, do Ministério Público e da comissão de sindicância."
O prazo dado à comissão de sindicância que apura o caso Waldomiro Diniz no governo termina hoje. Ainda não se sabe se o relatório será divulgado ou se a comissão pedirá uma prorrogação deste prazo. "Durante 40 dias eu fui investigado, devassado, e o governo também... Este é um governo que não rouba e não deixa roubar", acrescentou Dirceu.
O ex-assessor da Casa Civil foi flagrado em fita de vídeo pedindo dinheiro a um empresário do jogo para si próprio e para a campanha de governadores. Após a divulgação do caso pela revista Época, Waldomiro foi demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pediu providências da Polícia Federal e do Ministério Público.
Modelo econômico "perverso"
Sem se recusar a responder às perguntas, Dirceu negou que o caso tenha paralisado o governo e rebateu as críticas feitas por aliados, inclusive petistas, à política econômica.
Ele admitiu no entanto, que o modelo econômico é "perverso", mas disse que o governo está criando as condições para obter um crescimento da economia maior do que 3,5% este ano. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, o país registrou retração econômica, resultado que acelerou as críticas à economia.
"Se é verdade que o país tem um modelo econômico perverso, porque exclui, também é verdade que se está trabalhando para o país retomar o crescimento", disse o ministro a jornalistas antes de realizar uma palestra em evento sobre inclusão social em São Paulo.
Dirceu também afirmou que as mudanças na economia são necessárias, mas têm que ser feitas sem sobressaltos. "Nós precisamos ir mudando o modelo brasileiro. O país tem problemas graves realmente, mas nós não podemos fazer aventuras nem pacotes, porque o país já passou por milagres, pacotes e o final sempre foi trágico", disse.
Ele afirmou que o governo está administrando a dívida de R$ 1 trilhão, que os juros caíram de 25% ao ano (em janeiro de 2003) para 16,25% e que cairão mais.
Paralisia
Dirceu considera que o governo está atuante e rebateu as críticas de imobilismo em função das investigações do caso Waldomiro. Como exemplos, ele lembrou a aprovação projetos no Congresso, como as medidas provisórias que traçam um novo modelo para o setor elétrico e o projeto de Parceria Público-Privada (PPP), além do relatório da reforma do Judiciário na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
O ministro também destacou que, na próxima semana, o governo envia ao Congresso o projeto que altera o papel das agências reguladoras. "Não existe paralisia no governo. Existem problemas político-administrativos que precisam ser resolvidos", acrescentou Dirceu, citando como exemplos desses problemas questões como a falta de recursos e as greves da Polícia Federal.
O ministro só não quis responder se seu inferno astral já teria terminado e também não gostou da aproximação dos jornalistas quando se encaminhava ao elevador para deixar o prédio. Neste momento, chamou a todos de "bando de mal-educados".