A eleição de Perillo foi viável a partir de uma costura entre alas da legenda, diante da ameaça de uma disputa fratricida com o ex-senador José Aníbal (SP) que desistiu na última hora e abriu caminho para que Perillo fosse eleito por aclamação.
Por Redação - de Brasília
Esfacelado em uma divisão interna sem precedentes, o outrora poderoso Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) passa, agora, a ser presidido pelo ex-governador de Goiás e ex-senador Marconi Perillo. Sob a tutela do deputado Aécio Neves (MG), que detém a maioria dos votos no Diretório Nacional da legenda, Perillo foi eleito nesta quinta-feira para um mandato de dois anos. Ele substituirá o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que decidiu não permanecer mais à frente do partido e questiona se continuará no ninho tucano.
A eleição de Perillo foi viável a partir de uma costura entre alas da legenda, diante da ameaça de uma disputa fratricida com o ex-senador José Aníbal (SP) que desistiu na última hora e abriu caminho para que Perillo fosse eleito por aclamação.
— Eu queria dar uma satisfação, porque eu coloquei minha candidatura a presidente do diretório. Coloquei agora nesse final de semana. Conversei com muitos companheiros, mas não pareceu suficiente para a disputa. O que nós não podemos é ficar fazendo de conta que a nossa unidade é sólida. Estamos unidos, olha essa vitória, mas é uma unidade que não tem uma âncora política sólida. PSDB está um pouco perdido no panorama que temos hoje da política brasileira — afirmou Aníbal nesta quinta, durante a convenção.
Desafeto
Perillo foi, na realidade, a alternativa viável para que o deputado Aécio Neves (MG) exercesse a maioria obtida entre os integrantes do colégio eleitoral. A indicação de Perillo para comandar o PSDB foi uma indicação do parlamentar. A nova executiva terá a participação de Aécio e a maioria dos membros ligados ao seu grupo político
No ano passado, o PSDB sofreu mais uma derrota ao perder o governo de São Paulo, Estado que administrava há quase três décadas. Após uma debandada de tucanos históricos, como Geraldo Alckmin - hoje vice-presidente da República - e a saída do ex-governador João Doria, o partido acabou sem candidato próprio ao Palácio do Planalto e suas alas entraram em guerra.
Leite tentou construir uma chapa liderada pelo ex-senador Tasso Jereissati para a presidência do PSDB, mas não conseguiu, uma vez que Tasso e Aécio são desafetos declarados. O governador gaúcho promoveu, recentemente, intervenções nos diretórios do PSDB na capital paulista e no Estado, mas o grupo de Aécio vem ganhando força.
A composição do novo Diretório Nacional do PSDB começou a ser definida na véspera, por sistema eletrônico de votação. Nesta quinta-feira, houve a eleição do presidente do partido tanto digital quanto presencialmente, em Brasília.
Trauma
Nas prévias realizadas pelo PSDB para a escolha do candidato à Presidência, há exatos dois anos, Aécio apoiou Leite, em um movimento que tinha como objetivo derrotar Doria. Mesmo assim, Doria venceu a eleição interna e instalou um trauma entre os tucanos.
Pressionado pelo próprio partido, no entanto, o ex-governador renunciou à candidatura e, onze meses depois, pediu desfiliação. O PSDB fez aliança com o MDB, que lançou Simone Tebet, hoje ministra do Planejamento.
— Ainda não nos recuperamos do trauma das prévias — afirmou Perillo, que também adotou o discurso da necessidade de reunificar o partido.
Já empossado no cargo, o ex-governador disse que vai trabalhar "incansavelmente" para o PSDB ter um concorrente à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2026. O pré-candidato a essa indicação, desde agora, é Eduardo Leite. Na outra ponta, Aécio se prepara para disputar o governo de Minas.
Corrupção
Aécio era senador e presidente do PSDB quando, em 2017, foi acusado de pedir propina de R$ 2 milhões a Joesley Batista, um dos donos da JBS, em troca de favores no Congresso. Em julho deste ano, o Tribunal Regional da 3.ª Região (TRF-3) manteve sua absolvição por unanimidade.
Perillo, por sua vez, chegou a ser preso em 2018. Foi acusado de corrupção passiva e organização criminosa em caso envolvendo suspeita de pagamentos da empreiteira Odebrecht.
No ano passado, porém, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes anulou medidas da investigação contra Perillo, tornando inviável o processo contra ele. O ex-governador ainda tentou se eleger para uma cadeira no Senado, mas foi derrotado.