Vespertino, ou seja, com circulação sempre na tarde do dia em curso, o Correio do Brasil saiu com a matéria sobre o PowerPoint ainda na quarta-feira, véspera das edições matutinas dos diários mantidos pela direita brasileira, no alto da capa, na qual especificava que a apresentação de Dallagnol não passava de um amontoado de pressupostos, sem qualquer prova contra Lula.
Por Redação, com BdF - de Brasília
A decisão da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de determinar o pagamento do procurador Deltan Dallagnol de indenização ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na véspera, consolida a tese de que a Operação Lava Jato atuou, com o apoio da mídia conservadora, para o golpe de Estado que se consolidou com a eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), após a queda da presidenta deposta Dilma Rousseff (PT), em 2016.
Quase seis anos depois, nesta quarta-feira, dia seguinte decisão judicial, o espaço na capa das edições impressas de jornais brasileiros é bem mais tímido. Como indenização por danos morais, Lula pediu R$ 1 milhão. O valor, contudo, foi fixado em R$ 75 mil.
Autor de ‘A política além da notícia – A guerra declarada contra Lula e o PT’, o escritor Milton Alves falou ao site de notícias Brasil de Fato (BdF) sobre a diferença na cobertura. Segundo ele, a condenação é uma "reparação" tímida se comparada aos danos causados pela Operação Lava Jato.
— É evidente que é uma vitória do presidente Lula. Essa condenação é uma reparação, mas sabemos que a Lava Jato foi uma operação política destinada a destruir o Partido dos Trabalhadores, destruir e desmontar as conquistas sociais e econômicas, desmontar o sistema Petrobras, que começava a trabalhar numa direção que enfrentava os monopólios internacionais do petróleo e as grandes companhias — afirmou.
Pressupostos
Segundo Alves, “o PowerPoint ganhou as manchetes da Folha, do Estadão e do Globo em 15 de setembro de 2016”.
— Isso ocorreu em toda a grande mídia patronal e corporativa, os telejornais deram destaque, foi destaque na imprensa mundial. Hoje, são pequenas notas falando da condenação do Deltan Dallagnol, que hoje tenta uma carreira política para se blindar — lamentou Alves.
Vespertino, ou seja, com circulação sempre na tarde do dia em curso, o Correio do Brasil saiu com a matéria sobre o PowerPoint ainda na quarta-feira, véspera das edições matutinas dos diários mantidos pela direita brasileira, no alto da capa, na qual especificava que a apresentação de Dallagnol não passava de um amontoado de pressupostos, sem qualquer prova contra Lula. A História, portanto, ressalta a importância da mídia independente.
Power Point
Os votos favoráveis a Lula no STJ foram feitos pelos ministros Luís Felipe Salomão (relator do caso), Raúl Araújo, Antonio Carlos Ferreira e Marco Buzzi. A ministra Maria Isabel Gallotti divergiu dos colegas. Ela disse não ter visto abuso de Deltan no caso.
Em seu voto, o relator apontou que Deltan se afastou dos ritos do Direito Processual e Penal na apresentação. “(Deltan) Valeu-se de um Power Point que compunha diversos círculos preenchidos com palavras que se afastavam da nomenclatura típica do Direito Processual e Penal", disse Salomão.
“É imprescindível que a divulgação de oferecimento de denúncia se faça de forma precisa, coerente e fundamentada. A espetacularização do episódio não é compatível com a denúncia nem com a seriedade que se exige da apuração destes fatos”, complementou o ministro.
Processo
Representando o ex-presidente, o advogado Cristiano Zanin Martins fez duras críticas a Dallagnol em sua sustentação oral. “O ex-procurador exibiu em rede nacional e internacional um Power Point e, segundo consta, utilizou de recurso digital e usou de gráficos e setas indicando o apelante ora como comandante, ora como maestro de uma organização criminosa”.
— Deltan Dallagnol emitiu juízo de culpa. Não existia, na época, sequer processo. O Power Point trata do crime de organização criminosa, que não era discutido na denúncia tratada naquela oportunidade pelo Ministério Público — afirmou Zanin, em sua exposição.
O ex-procurador já havia sido denunciado no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), mas, depois de uma série de adiamentos, ele se livrou do julgamento disciplinar porque o órgão reconheceu a prescrição do caso. A denúncia apresentada na exibição do Power Point chegou a levar Lula à cadeia. Posteriormente, contudo, o processo foi anulado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em função da incompetência da Vara Federal de Curitiba para analisar supostos crimes cometidos contra a Petrobras.