Empresas chinesas, segundo o diplomata, aportam recursos em agricultura, energia, infraestrutura e outras áreas brasileiras. O valor exato, segundo Wanming, é de R$ 83 bilhões em conversão direta, levando em conta o valor do dólar na manhã desta quinta-feira.
Por Redação - de Brasília
O estilo chinês de negociar, em momentos de crise, prevaleceu ao discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que flexionou o preconceito e a irracionalidade nas recentes afirmações sobre a qualidade das pesquisas realizadas na China, contra a covid-19. Sem responder diretamente ao mandatário neofascista brasileiro, o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, em entrevista a jornalistas nesta quinta-feira, limitou-se a citar que o volume de investimentos do país asiático, no Brasil, nos últimos dois anos, supera os R$ 80 bilhões, e pretende que continue em crescimento.
Empresas chinesas, segundo o diplomata, aportam recursos em agricultura, energia, infraestrutura e outras áreas brasileiras. O valor exato, segundo Wanming, é de R$ 83 bilhões em conversão direta, levando em conta o valor do dólar na manhã desta quinta-feira.
— Com mais 5 bilhões em novos investimentos já acordados, o total investido no país já tende a chegar 100 bilhões daqui a três ou cinco anos — apontou o embaixador.
A declaração do representante do governo chinês, no Brasil, mostra que, apesar dos sucessivos ataques direcionados ao país pelo presidente Bolsonaro, familiares e membros do seu governo, a China permanece, isoladamente, como principal parceiro comercial do país. Muito à frente, portanto, do segundo colocado; os Estados Unidos. O país asiático foi responsável por 67,7% do superávit de US$ 42,445 bilhões obtido pelo Brasil, de janeiro a setembro deste ano.
Agronegócio
Há mais de uma década, o superávit brasileiro na balança comercial com a China ficou na casa dos 40% e, em uma década, esse percentual quase dobrou, atingindo nos nove primeiros meses de 2020 67,7% e uma receita de US$ 28,757 bilhões. Os valores superam o superávit registrado em todo o ano de 2019, da ordem de US$ 28,087 bilhões. No período, a China foi o destino final de 34,1% das exportações totais brasileiras, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.
CEO do grupo de líderes empresariais chineses e brasileiro, o LIDE China, o empresário José Ricardo dos Santos afirmou, a jornalistas, que ”as relações entre o Brasil e a China começaram em 1974 e nesses 46 anos de relacionamento, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil em 2009, e nos anos de 2018 e 2019 a corrente de comércio (exportação+importação) esteve próxima de US$ 100 bilhões e é possível perceber que a grande força dessa relação é o agronegócio”.
— A China é uma grande compradora de produtos brasileiros e isso é irreversível. E não se trata de colocar todos os ovos em uma única cesta. O Brasil tem uma gigantesca produção agrícola, de soja, milho, algodão, carnes, entre outro produtos, e se não vender para a China vai vender para quem? É importante ter esse ponto de vista da demanda. A China é hoje o único país que tem demandado tanto do Brasil no que diz respeito aos produtos agrícolas — destaca Santos.
Irresponsabilidade
Não é apenas a voz empresarial que se levanta, após as declarações de Bolsonaro. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a defender, nesta manhã, que o Congresso brasileiro discuta se está sendo cometido crime de responsabilidade pela Presidência, o que justificaria abertura de processo de impeachment.
"Se a sociedade, os partidos e os parlamentares, precisavam de um motivo para discutir o impeachment, Bolsonaro acaba de cometer um crime contra a nação ao dizer que não vai comprar a vacina e desrespeitar um instituto da seriedade do Butantan e toda a comunidade científica", publicou Lula nesta manhã, em sua conta de Twitter.
"Se Bolsonaro não acredita na eficácia da vacina, ele que não tome. Mas o papel de um presidente da República é possibilitar que o povo tenha a vacina a sua disposição. Se faltava crime de responsabilidade, essa foi a maior irresponsabilidade de um presidente que já vi", acrescentou.
Na véspera, Bolsonaro desautorizou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que havia anunciado um protocolo de acordo com o Instituto Butantan, para a compra de 46 milhões de doses da vacina Coronavac, que é produzida pelo laboratório chinês Sinovac e está em fase de testes no Brasil.
No Congresso
O mandatário afirmou que as vacinas não serão compradas, e deixou claro que a briga político-ideológica com Doria está por trás de sua decisão, além dos embates diplomáticos que seu governo trava com frequência com a China.
— Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade. Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado nela, a não ser nós — afirmou Bolsonaro.
Ainda nesta quinta-feira, a deputada Jandira Feghali (PCdoB) afirmou que Brasil não pode perder a oportunidade por questões políticas e ideológicas. Ela adiantou que o PCdoB e outros partidos vão entrar na Justiça contra a proibição determinada pelo presidente Jair Bolsonaro da compra da vacina chinesa.
— As vacinas estão na fase três, de testes clínicos em humanos. O Brasil não pode perder a oportunidade de vacinar a população por questões políticas e ideológicas. Estamos conversando com todos os partidos, não só da oposição. O mais importante é garantir a distribuição da vacina, não importa qual — concluiu a parlamentar.