Rio de Janeiro, 05 de Dezembro de 2025

Charlie Kirk, Peninha e Trump

A análise de Rui Martins sobre a repercussão do assassinato de Charlie Kirk e as consequências para a liberdade de expressão, especialmente em relação ao humor de Peninha.

Segunda, 22 de Setembro de 2025 às 17:45, por: Rui Martins

Deram um tiro lá longe no Estado do Utah, nos EUA, e o estampido ressoou forte nas periferias, agitando principalmente as redes sociais da extrema direita brasileira, revoltadas com o vídeo postado no Instagram e YouTube pelo influenciador e youtuber Eduardo Bueno, conhecido como Peninha, também jornalista, escritor, historiador, cujo estilo teatral no Canal Buenas Ideias, é irônico, jocoso, satírico, sarcástico e ferino.

Por Rui Martins, editor do Direto da Redação
Charlie Kirk, Peninha e Trump | O assassinato de Charlie Kirk foi o pretexto para uma caça aos opositores de Trump
O assassinato de Charlie Kirk foi o pretexto para uma caça aos opositores de Trump

Poderíamos dizer que Peninha transpõe para as telas dos celulares e dos computadores os lances desprezíveis e imorais do cotidiano político brasileiro, tipos PECs da blindagem, da bandidagem e da anistia para os chefes golpistas, sem rodeios, em tintas mais fortes que as do Pasquim.

Peninha gosta da maneira crua de se dizer as coisas, mais próxima do humor francês dos jornais Canard Enchainé, Charlie Hebdo e Hara-Kiri, vindos da liberdade inspirada pela Revolução Francesa.

E aqui ocorre uma contradição nos defensores do chamado pleno direito à liberdade de expressão vigente nos Estados Unidos. Essa liberdade só funciona para os detentores do poder, quem a ultrapassa é imediatamente punido, como acaba de ocorrer com o animador Jimmy Kimmel, cujo show noturno de sucesso nos EUA com seu nome acaba de ser suspenso pela TV ABC, por ter criticado indiretamente o governo.

Jimmy Kimmel, que já foi mestre de cerimônias na entrega dos Oscars, pagou pela frase “Atingimos novos patamares neste fim de semana, com a camarilha MAGA tentando desesperadamente retratar esse jovem Tyler Robinson, que assassinou Charlie Kirk, como alguém diferente de um deles e fazendo tudo o que pode para obter vantagem política com isso”. MAGA, Make America Great Again, é a abreviação do movimento de extrema direita de Trump, popularizado nos bonés vermelhos de seus seguidores e usado também pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, virtual candidato à presidência.

O caso do tiro matando o líder da extrema direita norte-americana Charlie Kirk está provocando uma caça aos que fizeram comentários considerados maldosos ou irreverentes nas redes sociais, com demissões de professores, funcionários públicos e privados, estimuladas pelo presidente Donald Trump e por seu vice, J D Vance.

Existe mesmo uma campanha para anulação de vistos de permanência de estrangeiros que ironizaram o assassinato de Charlie Kirk. Para isso se incentivam denúncias, utilizando cópias de mensagens enviadas por e-mail ou redes sociais.

Os Estados Unidos estão retornando ao período do macartismo, enquanto já começa a circular o receio de que o atual autoritarismo trumpista possa levar a uma inédita ditadura no país da Liberdade, comandada por Trump, Vance e Marco Rúbio.

O envio de reforços da Guarda Nacional para Los Angeles, Washington, Memphis, Chicago etc., é considerado sinal de autoritarismo e militarização de questões de segurança pública, criando um esquema gradativo de controle militar do país.

A alguns dias da Assembleia da ONU, Donald Trump exagerou em sua demonstração de poder, ao não ter concedido vistos de entrada nos EUA para membros de algumas delegações nacionais, inclusive para o ministro Alexandre Padilha do Brasil.

Trump também vai restringir o visto permanente dos jornalistas, que era de cinco anos, para 240 dias. E complicou a obtenção do credenciamento para correspondentes estangeiros.

Eduardo Bueno alvo da extrema direita

A nossa extrema direita, a pretexto do Peninha Bueno ter feito gozação irreverente com o assassinato do extremista de direita norte-americano Charlie Kirk, procurou prejudicá-lo pelas redes sociais.

É verdade que o Peninha exagerou nas tintas. Mas, no seu canal Buenas Ideias, ele utiliza um humor agressivo e satírico. Na verdade, Peninha usou da mesma liberdade de expressão defendida por unhas e dentes pela extrema direita brasileira e era utilizada pelo próprio Charlie Kirk. E não se pode esquecer que ele próprio reconheceu e pediu desculpas por ter carregado nas tintas.

Ora, esse episódio revela uma enorme hipocrisia dos canais e redes sociais da extrema direita brasileira e dos que colocam comentários exaltados nas redes sociais. Se esquecem que essa extrema direita sempre exaltou o ódio, o assassinato e a tortura, na pessoa do coronel Carlos Brilhante Ustra, como fazia o ex-presidente Bolsonaro, que pedia “o assassinato de umas 30 mil pessoas para melhorar o Brasil”. De deputados e senadores que pediam a morte de Lula. E dos que comemoraram o assassinato de Mariele Franco.

Não se pode esquecer que Charlie Kirk era racista, homofóbico, negacionista quanto às vacinas e um defensor e propagandista do uso de armas pelos norte-americanos. Ele dizia: “Acho que vale a pena aceitar, alguns assassinatos por ano, (como o dele?) a fim de que a população possa se beneficiar do direito de ter uma arma, que protege nossos direitos”. Morrem cerca de 50 mil pessoas por armas, todos os anos, nos EUA.

De acordo com a imprensa estadunidense, Charlie Kirk era um dos 12 apóstolos de Trump junto à juventude norte-americana. Uma de suas declarações mais absurdas era a de que suas filhas teriam o filho no caso de serem estupradas e ficarem grávidas.

Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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