Segundo Mascaro, “o fascismo não é um problema da falta de leis, de vergonha na cara ou de problema moral – embora também possa haver uma questão de leis, diques de contenção institucionais ou mesmo um apelo moral para que as pessoas não sejam fascistas”.
Por Redação, com BdF – de São Paulo
O avanço da ultradireita no Brasil e no mundo é uma consequência direta das crises intrínsecas ao capitalismo. A constatação é do jurista, filósofo e professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Alysson Mascaro, em entrevista ao site de notícias Brasil de Fato (BdF), nesta quarta-feira.
Segundo Mascaro, “o fascismo não é um problema da falta de leis, de vergonha na cara ou de problema moral – embora também possa haver uma questão de leis, diques de contenção institucionais ou mesmo um apelo moral para que as pessoas não sejam fascistas”.
Sofrimento
Esses fatores, no entanto, não são significativos dada a estrutura de exploração que sustenta o capitalismo.
— Seres humanos organizam a sua vida por 40, 50 e 60 anos para acordarem de manhã, trabalharem para alguém que eles eventualmente nem sabem quem, deixarem o filho na creche para voltarem no final do dia cansados, pegarem o filho e ter pouquíssimas horas de vida para fazer aquilo que poderia ser o prazer da sua vida — constata.
O nome dessa prática, de acordo com o filósofo, “é capitalismo. Esta sociedade organiza uma forma de percepção de mundo de sofrimento. Em qualquer sociedade capitalista as pessoas sofrem”.
— De tal sorte que o capitalismo, quando entra em crise, vai para extrema direita. Sem o recurso das instituições e da democracia, o capitalismo aumenta o flagelo em cima da classe trabalhadora — acrescentou.
Produção
Mascaro, que tem se dedicado a estudar o tema da extrema direita e do fascismo, já há algum tempo, avalia esse avanço da extrema direita no continente europeu, principalmente, mas em nível mundial, como se percebe, acredita que “o fascismo é o problema do capitalismo. O capitalismo é um modo de produção de exploração. 1% da humanidade explora e 99% são explorados”.
— Quem está me vendo é explorado certamente, porque é quase uma probabilidade estatística. Se você trabalha, você é explorado. ‘Ah, mas eu trabalho e tenho um carro’: você é um explorado com carro. O explorador é o dono da fábrica de automóvel. Você não é o detentor dos meios de produção, você só tem um carro — elucida.
Autoflagelo
Ainda na entrevista ao BdF, Mascaro observa que “a vida do povo nunca é boa no capitalismo, nem para classe trabalhadora do campo, nem da cidade, nem para quem é da indústria, nem para quem presta serviço ou está no comércio. Tudo é ruim. Apenas existem variações do mesmo ruim”.
— Então nesta situação, vai que o povo vota em eleições em gente que defende o povo. Vai que o povo se cansa desta forma teatral da democracia na qual sempre é o rico que ganha. Mas é sempre a classe trabalhadora do mundo se autoflagelando, porque em eleições na maior parte do mundo, é o pobre votando contra o seu interesse imaginando estar votando em favor do seu interesse. O candidato vem com uma pauta moral, manda meme de gatinho dizendo para votar no partido, e sempre o meme da direita é mais bonitinho do que da esquerda, porque tem recursos — constata.
Massacre
De tal sorte, afirma Mascaro, “que crise do capitalismo sempre leva a burguesia a tomar uma posição de extrema direita. Quando algum movimento social se levanta ou quando eventualmente um governo de esquerda ganha uma eleição em qualquer país do mundo e começa uma pequena reforma, isso já acende um sinal de alerta da burguesia”.
— No Brasil com Lula e Dilma, bastou uma alteração pontual na miséria da classe trabalhadora, que passou a ser menos miserável. Então vem um golpe contra Rousseff, que sofre um impeachment por causa de uma tal pedalada fiscal, que eu, como jurista, nunca encontrei no Código Penal. Nós temos um quadro no qual o capitalismo está em crise e a sua solução historicamente é para extrema direita. É a forma do capitalismo se manter massacrando ainda mais o povo destas sociedades — conclui.