Erundina poderia desistir de sua candidatura, abandonando o caráter de chapa-protesto. Mas eis que Luiza Erundina (PSOL-SP), esta veterana de 86 anos e com carreira política inaugurada ainda nos anos 1970, parece não caber muito em algumas previsões.
Por Redação, com BdF - de São Paulo
Candidata à Presidência da Câmara, a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) poderia ser apenas mais uma entre os oito que, até agora, confirmaram participação na corrida rumo ao cargo. Poderia – pelo tamanho do partido que representa, o PSOL, uma sigla com apenas dez das 513 cadeiras da Casa – diluir-se ao menos midiaticamente no cardápio do jogo político que hoje sacode os debates da oposição, do Poder Legislativo, das redes sociais.
Poderia também desistir de sua candidatura nestes dias que antecedem a escolha do próximo líder da Câmara, agendada para 1º de fevereiro, abandonando o caráter de chapa-protesto. Mas eis que Luiza Erundina (PSOL-SP), esta veterana de 86 anos e com carreira política inaugurada ainda nos anos 1970, parece não caber muito em algumas previsões.
Nos últimos dias, ela atraiu os holofotes, fazendo a escolha da legenda chamar mais atenção do que o previsto, e segue demonstrando firmeza na opção por representar oficialmente o PSOL na corrida em uma chapa própria.
Dificuldades
A parlamentar se mostra impermeável ao coro dos que hoje clamam por uma desistência sua sob o argumento de que seu nome ajuda a pulverizar o pleito e a fortalecer o candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado Arthur Lira (PP-AL).
— Só falta pressão do Papa. Estou virando uma Geni da história política do país — afirmou a psolista ao site de notícias Brasil de Fato. Ela também é a única mulher na disputa e destaca o fato de a Câmara jamais ter tido uma na Presidência, “em 198 anos”.
Erundina se exalta ao mencionar as dificuldades que enfrentou no ambiente político desde o início de sua jornada de militante.
— Evidentemente, tenho outras características que se somam ao fato de ser mulher e que têm sido objeto de muito preconceito contra mim na política brasileira — resgata, ao citar seu caráter de gênero, classe social, a condição de nordestina e a opção por pautas de viés popular e, por vezes, polêmicas.
Impeachment
Na entrevista, Erundina disse que não imagina pautas como o impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se viabilizem no âmbito apenas do Legislativo “porque esse Parlamento não tem uma história de autonomia, de independência e compromisso com o povo e suas prerrogativas como a chamada ‘casa do povo”.
— É uma casa sem povo. Mesmo com a presidência – no caso, se fosse eu –, teria que lidar com a cultura política da Casa, a cultura dos partidos todos, que não vinculam seus mandatos e seus cargos àqueles a quem devemos nossa presença no Parlamento.
Ainda segundo a parlamentar paulista, “aquela Casa, a história dela, a cultura dela não promete, para quem quer que esteja na Presidência, o encaminhamento de um processo de impeachment do presidente da República acolhido e encaminhado com toda vontade e determinação e que tenha maioria num primeiro momento pra que essa proposta seja aprovada”.
— Mas os avanços que se conseguem, as votações que se conseguem viabilizar, só acontecem quando você tem uma forte mobilização da sociedade. E, hoje, eu avalio que o impeachment do Bolsonaro é um grande anseio da sociedade brasileira. Mesmo com a pandemia, dificuldade de presença em atos públicos e manifestação presencial, esses anseios não chegam aos ouvidos da Câmara — acrescentou.
Minoritários
De acordo com a deputada, “no caso, se a gente chegar lá, o mandato de presidente da “casa do povo” será uma caixa de ressonância daquilo que a sociedade quer”.
— Sem dúvida nenhuma, a sociedade brasileira quer o impeachment do Bolsonaro. Só não o fez por dificuldades da pandemia, da prevenção ao coronavírus; por isso as manifestações por essa pauta não se manifestam massivamente, fisicamente de forma muito clara por conta das limitações que esta conjuntura atual coloca — calcula.
Ela acredita, no entanto, que os mandatos, sobretudo os nossos partidos, são sempre muito minoritários, mas se viabilizam muitas das nossas propostas, que não seriam viabilizadas sem ter uma forte adesão da sociedade civil organizada. Portanto, eu conto com isso como presidente da Câmara.
— É (preciso) ter uma casa aberta, uma casa com povo, de fato, e um diálogo permanente com a sociedade e procurando responder aos anseios (de segmentos) da sociedade (dos) que se sentem representados ou precisam se sentir representados nos mandatos que estão na Casa por conta desses mesmos setores populares — resume.