Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Brumadinho: mais da metade das crianças tem excesso de metal no corpo

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Quarta, 25 de Janeiro de 2023 às 08:10, por: CdB

Exames feitos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) recolheram amostras de urina e sangue de 3.297 pessoas, de todas as comunidades do município, com o objetivo de identificar a presença ou não de metais pesados.

Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília

Em fevereiro de 2022, moradores de Brumadinho receberam uma notícia triste. Grande parte da população estava com alta quantidade de metal pesado no corpo.

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Suspeita é de que a água e o ar possam estar contaminados pelo material da barragem da Vale

Exames feitos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) recolheram amostras de urina e sangue de 3.297 pessoas, de todas as comunidades do município, com o objetivo de identificar a presença ou não de metais pesados. A população participou, ao mesmo tempo, do Projeto de Saúde Brumadinho e do Projeto Bruminha, este voltado para as crianças.

O estudo concluiu que 33,7% dos homens e mulheres adultos apresentavam níveis elevados de arsênio na urina e 37% apresentavam manganês no sangue.

Metade das crianças de 0 a 6 anos possuía ao menos um metal pesado no corpo. Sendo que 41,9% apresentaram níveis elevados de arsênio e 13% de chumbo.

Água e ar contaminados?

A conclusão do estudo surpreendeu a todos, em especial aos moradores da comunidade de Aranha. Eles não tiveram contato com a lama na época do rompimento, mas apresentaram os maiores níveis de metais pesados no corpo, com destaque para arsênio e chumbo.

Alexandre Gonçalves, morador de Aranha e agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), recebeu seu resultado particular por correspondência. “Foi apavorante”, relembra. O documento informava que ele estava com alto nível de arsênio, sua esposa com elevados níveis de arsênio e manganês, e a filha com mais que o dobro do nível recomendado de chumbo.

– Foi um momento de pânico. A gente falou: meu Deus, o que vamos fazer? Vamos arrumar a mala e ir embora? – conta. “Teve análise de criança com quatro metais pesados acima do recomendado. Uma situação muito complexa e de incerteza”, diz.

A suspeita é de que a água e o ar possam estar contaminados pelo material da barragem da Vale, que se rompeu em 2019 na comunidade Córrego de Feijão, em Brumadinho. Aranha está a sete quilômetros do local do desastre, mas está no alto. “Da nossa casa a gente olha e vê o Córrego do Feijão”, explica Alexandre.

Ele e sua família moram na comunidade do Aranha há dois anos e, portanto, chegaram depois do rompimento da barragem. Isso é apenas um dos indícios de que o desastre-crime segue acontecendo.

São várias doenças

Os problemas de saúde também aparecem nas cidades banhadas pelo Rio Paraopeba e pela represa de Três Marias. Houve aumento de várias doenças, em especial as relacionadas à saúde mental (depressão, insônia, ansiedade), alterações na pele, distúrbios gastrointestinais (vômito, diarreia, dor de barriga) e agravamento de hipertensão. Problemas de saúde que também são continuados.

– O sofrimento só acaba quando o desastre termina. Se o desastre ainda está em curso, se não foram modificadas as condições para voltar a como era antes, a pessoa continua com alteração do modo de vida e continua sofrendo – explica Paula Mota, coordenadora da equipe de Saúde e Assistência Social do Instituto Guaicuy.

As doenças de pele também, segundo ela, persistem. “As próprias pessoas relatam que, após o contato com a água, as doenças aparecem ou pioram. Pode não ser só por conta do metal, mas também de bactérias, fungos ou vírus, pois o ambiente se desequilibrou”, pondera.

Sem vontade de solução

Em todos os casos, as pessoas atingidas reivindicam que o Estado e a Vale realizem exames aprofundados e forneçam auxílio coerente com a gravidade da situação.

Para dar conta de toda essa gama de lesões à saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), na avaliação de Paula, é insuficiente nas regiões atingidas. As unidades básicas não possuem profissionais, formação e equipamentos para atender a toda demanda.

– Eu posso te afirmar, com toda certeza, que para a saúde nada foi feito – indigna-se, relatando a falta de atitude da empresa e do Estado nos pontos necessários. “O único programa que a Vale atua, em alguns territórios, é o Ciclo Saúde, que oferta formações e materiais para as unidades de Saúde sobre doenças que não são relacionadas ao rompimento”, diz Paula.

O pacote de Resposta Rápida, do anexo 1.3 do acordo feito entre Vale e Estado de Minas, foi pouco ou nada implementado até o momento. A implantação é de responsabilidade da Vale.

Para a coordenadora, as regiões precisam de um sério fortalecimento do sistema público de Saúde, incluindo: políticas de atenção básica, atenção à saúde mental, vigilância ambiental, nutricional, sanitária e epidemiológica para muitos anos à frente, afinal, as consequências podem surgir depois de décadas.

Respostas

A mineradora foi questionada sobre a situação da comunidade Aranha e a ausência de programas de saúde na bacia.

O governo de Minas Gerais foi perguntado sobre as atitudes frente à exposição já comprovada de cidadãos de Brumadinho a metais pesados. Também foi questionado sobre as ações em saúde ao longo de toda a bacia.

No entanto, não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.

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