Exames feitos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) recolheram amostras de urina e sangue de 3.297 pessoas, de todas as comunidades do município, com o objetivo de identificar a presença ou não de metais pesados.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília
Em fevereiro de 2022, moradores de Brumadinho receberam uma notícia triste. Grande parte da população estava com alta quantidade de metal pesado no corpo.
Exames feitos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) recolheram amostras de urina e sangue de 3.297 pessoas, de todas as comunidades do município, com o objetivo de identificar a presença ou não de metais pesados. A população participou, ao mesmo tempo, do Projeto de Saúde Brumadinho e do Projeto Bruminha, este voltado para as crianças.
O estudo concluiu que 33,7% dos homens e mulheres adultos apresentavam níveis elevados de arsênio na urina e 37% apresentavam manganês no sangue.
Metade das crianças de 0 a 6 anos possuía ao menos um metal pesado no corpo. Sendo que 41,9% apresentaram níveis elevados de arsênio e 13% de chumbo.
Água e ar contaminados?
A conclusão do estudo surpreendeu a todos, em especial aos moradores da comunidade de Aranha. Eles não tiveram contato com a lama na época do rompimento, mas apresentaram os maiores níveis de metais pesados no corpo, com destaque para arsênio e chumbo.
Alexandre Gonçalves, morador de Aranha e agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), recebeu seu resultado particular por correspondência. “Foi apavorante”, relembra. O documento informava que ele estava com alto nível de arsênio, sua esposa com elevados níveis de arsênio e manganês, e a filha com mais que o dobro do nível recomendado de chumbo.
– Foi um momento de pânico. A gente falou: meu Deus, o que vamos fazer? Vamos arrumar a mala e ir embora? – conta. “Teve análise de criança com quatro metais pesados acima do recomendado. Uma situação muito complexa e de incerteza”, diz.
A suspeita é de que a água e o ar possam estar contaminados pelo material da barragem da Vale, que se rompeu em 2019 na comunidade Córrego de Feijão, em Brumadinho. Aranha está a sete quilômetros do local do desastre, mas está no alto. “Da nossa casa a gente olha e vê o Córrego do Feijão”, explica Alexandre.
Ele e sua família moram na comunidade do Aranha há dois anos e, portanto, chegaram depois do rompimento da barragem. Isso é apenas um dos indícios de que o desastre-crime segue acontecendo.
São várias doenças
Os problemas de saúde também aparecem nas cidades banhadas pelo Rio Paraopeba e pela represa de Três Marias. Houve aumento de várias doenças, em especial as relacionadas à saúde mental (depressão, insônia, ansiedade), alterações na pele, distúrbios gastrointestinais (vômito, diarreia, dor de barriga) e agravamento de hipertensão. Problemas de saúde que também são continuados.
– O sofrimento só acaba quando o desastre termina. Se o desastre ainda está em curso, se não foram modificadas as condições para voltar a como era antes, a pessoa continua com alteração do modo de vida e continua sofrendo – explica Paula Mota, coordenadora da equipe de Saúde e Assistência Social do Instituto Guaicuy.
As doenças de pele também, segundo ela, persistem. “As próprias pessoas relatam que, após o contato com a água, as doenças aparecem ou pioram. Pode não ser só por conta do metal, mas também de bactérias, fungos ou vírus, pois o ambiente se desequilibrou”, pondera.
Sem vontade de solução
Em todos os casos, as pessoas atingidas reivindicam que o Estado e a Vale realizem exames aprofundados e forneçam auxílio coerente com a gravidade da situação.
Para dar conta de toda essa gama de lesões à saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), na avaliação de Paula, é insuficiente nas regiões atingidas. As unidades básicas não possuem profissionais, formação e equipamentos para atender a toda demanda.
– Eu posso te afirmar, com toda certeza, que para a saúde nada foi feito – indigna-se, relatando a falta de atitude da empresa e do Estado nos pontos necessários. “O único programa que a Vale atua, em alguns territórios, é o Ciclo Saúde, que oferta formações e materiais para as unidades de Saúde sobre doenças que não são relacionadas ao rompimento”, diz Paula.
O pacote de Resposta Rápida, do anexo 1.3 do acordo feito entre Vale e Estado de Minas, foi pouco ou nada implementado até o momento. A implantação é de responsabilidade da Vale.
Para a coordenadora, as regiões precisam de um sério fortalecimento do sistema público de Saúde, incluindo: políticas de atenção básica, atenção à saúde mental, vigilância ambiental, nutricional, sanitária e epidemiológica para muitos anos à frente, afinal, as consequências podem surgir depois de décadas.
Respostas
A mineradora foi questionada sobre a situação da comunidade Aranha e a ausência de programas de saúde na bacia.
O governo de Minas Gerais foi perguntado sobre as atitudes frente à exposição já comprovada de cidadãos de Brumadinho a metais pesados. Também foi questionado sobre as ações em saúde ao longo de toda a bacia.
No entanto, não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.