ONG registra três assassinatos de jornalistas no país em 2022, incluindo o britânico Dom Phillips. México, com 11 mortos, e Ucrânia, com oito, lideram lista.
Por Redação, com DW - de Brasília
O Brasil foi um dos países mais perigosos para jornalistas no ano de 2022, segundo a ONG de defesa da liberdade de imprensa Repórteres sem Fronteiras (RSF).
Em seu relatório mais atual, a RSF lista três mortes de jornalistas no Brasil em 2002, de um total de 57 profissionais de mídia em todo o mundo.
A ONG destaca que o continente americano é um dos mais perigosos, com 11 assassinatos de jornalistas no México, seis no Haiti e três no Brasil. No total, são 27, o maior número em 20 anos, pelos dados da ONG. Assim, o continente americano, segundo os dados da organização, responde por quase metade dos assassinatos de profissionais da imprensa e colaboradores de veículos de comunicação.
Entre os jornalistas assassinados no Brasil está o britânico Dom Phillips, cujo corpo desmembrado foi encontrado numa região remota da Amazônia, assim como o do indigenista Bruno Pereira, como lembra a RSF. No barômetro interativo da organização, Bruno Pereira aparece como colaborador do diário britânico The Guardian, um dos veículos para o qual Dom Philips escrevia.
A outra vítima listada pela RSF é Givanildo Oliveira, conhecido como Gigi, criador do portal de notícias Pirambu News, de Fortaleza. Ele foi assassinado depois de noticiar a prisão de um suspeito de homicídio no bairro onde morava.
Guerra na Ucrânia
Depois de dois anos em queda, a tendência positiva foi revertida: o número global de assassinatos de jornalistas registrado pela RSF, até 1º de dezembro de 2022, subiu quase 20% na comparação com o mesmo período do ano anterior, passando de 48 para 57.
A guerra iniciada pelo presidente russo, Vladimir Putin, na Ucrânia, desempenhou um grande papel nessa elevação, declarou à DW o especialista da RSF Christopher Resch. Com um total de oito mortos, a Ucrânia é o segundo país do mundo mais perigoso para jornalistas no ranking da ONG.
Também estão na lista a Síria e o Iêmen, países em guerra, ambos com três assassinatos.
México no topo da lista
O México é novamente o país com o maior número de jornalistas assassinados no exercício da profissão: foram 11 vítimas, ou quatro a mais do que em 2021. Com isso, o país latino-americano ocupa pela quarta vez seguida o topo da lista.
Na maioria dos casos, as vítimas são mortas devido a suas investigações sobre o tráfico de drogas. Crime organizado e corrupção até os mais altos níveis do Estado costumam ser uma combinação letal para jornalistas investigativos.
A diferença, no caso mexicano, é que muitos jornalistas locais pagam com a vida seu engajamento pela liberdade de imprensa. É o oposto do que ocorre em guerras, quando os mortos costumam ser correspondentes vindos do exterior.
A Repórteres sem Fronteiras há anos coopera com uma organização mexicana para melhorar a proteção de jornalistas que trabalham arriscando a própria vida. Mas, apesar de medidas estatais, "quase nada mudou", afirma Resch. Só em janeiro foram quatro assassinatos.
Mais jornalistas presos
A ONG também registrou alta no número de jornalistas detidos: em 1º de dezembro eles eram 533 em todo o mundo, incluindo 78 mulheres. O total representa um novo recorde, maior ainda do que o do ano anterior, de 470.
O número de mulheres jornalistas atrás das grades subiu 28%. Cerca de um quarto delas estão detidas na China e no Irã. Resch diz que elas sofrem especial repressão em países como o Irã e Belarus, onde se joga com a vulnerabilidade delas. "Isso é usado conscientemente para espalhar o medo e o horror da repressão", comenta Resch.
Caso Assange
Para melhorar a situação de todos os profissionais que trabalham no jornalismo, entre eles também câmeras e produtores, a RSF pressiona em todas a regiões do planeta pelo respeito a convenções internacionais, sobretudo a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Com isso tem-se ao menos a possibilidade de mover uma ação judicial contra o que acontece nos países. "Mesmo que inicialmente seja apenas algo num papel", comenta Resch.
E isso vale não apenas para ditaduras ou regimes autoritários, mas também para democracias. O fundador da plataforma Wikileaks, Julian Assange, continua detido no Reino Unido. Os Estados Unidos pedem sua extradição e o ameaçam com a prisão perpétua.
A RSF menciona novamente o caso no relatório de 2022. Por um lado, a ONG afirma que a pressão da opinião pública costuma surtir efeito. "Jornalistas que foram libertados sempre nos relatam isso", explica Resch.
Mas Resch se mostra pessimista sobre a situação de Assange. "Acho a situação relativamente sombria. Mas também não quero dizer que não haja mais chances."