Muitos países já exigem a comprovação de vacinação para várias atividades públicas, inclusive a Alemanha, onde o acesso a lojas só é permitido com a comprovação de vacinação ou recuperação da doença, por exemplo. Quanto à vacinação infantil contra o coronavírus, dezenas de países já começaram as campanhas, entre eles os Estados Unidos.
Por Redação, com DW - de Brasília
Em meio a um ‘panelaço’ ensurdecedor, nas maiores cidades do país, no pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão na noite passada, o presidente Jair Bolsonaro (PL) distorceu dados para defender seu governo, voltou a se posicionar contra o passaporte vacinal, defendeu que crianças entre 5 e 11 anos devem se imunizar contra a covid-19 somente com prescrição médica e alfinetou governadores que optaram por decretar o confinamento, ainda que parcial, durante a pandemia.
— Não apoiamos o passaporte vacinal, nem qualquer restrição àqueles que não desejam se vacinar. Defendemos que as vacinas para as crianças entre 5 e 11 anos sejam aplicadas somente com o consentimento dos pais e prescrição médica. A liberdade tem que ser respeitada — acrescentou.
Muitos países já exigem a comprovação de vacinação para várias atividades públicas, inclusive a Alemanha, onde o acesso a lojas só é permitido com a comprovação de vacinação ou recuperação da doença, por exemplo. Quanto à vacinação infantil contra o coronavírus, dezenas de países já começaram as campanhas, entre eles Estados Unidos, Israel e a União Europeia.
Vacinas
Durante a exibição do pronunciamento, foram registrados panelaços e gritos de "Fora Bolsonaro" em grandes cidades, como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
Na fala, Bolsonaro fez um balanço de seu governo, destacou a flexibilização do porte de armas e mencionou a distribuição de 380 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 neste ano "todas adquiridas pelo nosso governo", alfinetando governadores como o de São Paulo, João Doria, que, frente a letargia do governo na compra de imunizantes, decidiu investir na Coronavac. Posteriormente o governo federal iniciou a campanha nacional de vacinação com o imunizante chinês.
Na fala, Bolsonaro tentou justificar o atraso no começo da vacinação no Brasil alegando que não havia imunizante disponível para comercialização em 2020.
Investigações
No entanto, o presidente ignorou no pronunciamento que já havia a oferta de vacinas no ano passado, inclusive com tentativas de negociação diretas com o Brasil, como revelou a CPI da Pandemia. Em 2020, o governo recusou ao menos cinco ofertas da Pfizer para a compra de vacinas, o que poderia ter agilizado o começo da imunização no Brasil e ter salvo milhares de vidas.
Bolsonaro disse que completou três anos de governo "sem corrupção". No entanto, há várias investigações abertas contra membros de seu governo. Quando questionado por repórteres sobre casos de corrupção, o presidente costuma ser agressivo, irônico, não responder as perguntas ou abandonar entrevistas. Entre os investigados estão o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, por suspeita de facilitação à exportação ilegal de madeira do Brasil para os Estados Unidos e Europa.
Além disso, a CPI da Pandemia revelou suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin e suposto pedido de propina em uma negociação para adquirir vacinas da AstraZeneca.
Pandemia
O presidente destacou que o governo federal liberou "recursos bilionários para que estados e municípios se preparassem para enfrentar a pandemia" e, mais uma vez, criticou governadores e prefeitos por políticas de fechamento de comércio e restrição da circulação.
"Com a política de muitos governadores e prefeitos de fechar comércios, decretar lockdown e toque de recolher, a quebradeira econômica só não se tornou uma realidade porque nós criamos o Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte] e o BEm [Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda]", disse o presidente.
Enchentes
Criticado durante toda a semana por não interromper suas férias em Santa Catarina para gerenciar a calamidade provocada pelas chuvas na Bahia e no norte de Minas Gerais, o presidente afirmou que, desde o início das enchentes, determinou que o ministro da Cidadania, João Roma, e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, prestassem apoio total aos moradores dos municípios atingidos.
Cenas de Bolsonaro andando de jet ski viralizaram essa semana, enquanto dezenas de cidades estavam debaixo da água, deixando dezenas de milhares de desabrigados, centenas de feridos e mais de 20 mortos.