A política econômica de Bolsonaro procura, com ardor, desregulamentar as atividades econômicas; privatizar as empresas do Estado; vender os bens do Estado; permitir a auto-regulamentação pelas empresas; reduzir os direitos dos trabalhadores.
Por Samuel Pinheiro Machado– de Brasília
Ainda que sejam aspectos relevantes de sua personalidade e de seu comportamento e que não devem ser minimizados, não é correto afirmar que o Presidente Jair Bolsonaro é um psicopata, desvairado, incoerente, manhoso, ignorante, violento, fascista e genocida e que seu governo é incompetente e sem rumo, sem um projeto para o Brasil.
Ditadura fascista
O projeto político de Bolsonaro é a implantação de um sistema político e governamental autoritário, uma ditadura fascista que garanta a liberdade para o capitalismo (para as empresas) e a submissão dos trabalhadores; consolidar na legislação valores sociais ultraconservadores e a própria perpetuação dessa ditadura. É um projeto de reversão à situação política anterior a 1930, de fortalecimento dos Estados em relação à União. Seu principal instrumento é armar a população, as polícias e as milícias que pretende usar no golpe fascista, que tentará dar em 2022. Outros instrumentos desse projeto político são passar competências e recursos da União para os Estados e Municípios; contratar pessoal sem concurso; nomear indivíduos inexperientes e contrários à ação do Estado em cada área; reduzir recursos das entidades públicas e assim “justificar” sua privatização; controlar o Poder Judiciário. Bolsonaro em suas “lives” ultrajantes, pela linguagem e pelo conteúdo, e no seu “cercadinho” desacredita os Poderes do Estado; acusa seus adversários de comunistas, ateus e pervertidos; acusa o sistema eleitoral de fraudulento; acusa o Congresso e o Judiciário de “não deixá-lo trabalhar”; desacredita os juízes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE); afirma que “desejam matá-lo” e entre outras afirmações, ofende a imprensa e jornalistas e minimiza a covid-19 e ridiculariza os que a temem. Na política externa, Jair Bolsonaro revelou e continua a revela sua admiração pelos governos e líderes de extrema direita; sua devoção irrestrita aos Estados Unidos (EUA) e sua fiel adesão às posições americanas; sua admiração por Israel; seu antagonismo em relação à China; e segue a orientação de Steve Bannon, o americano ideólogo e articulador da extrema direita nos EUA e no mundo.Política externa brasileira
Jair Bolsonaro dedicou-se a destruir a política externa brasileira em seus fundamentos e assim retirou o Brasil da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac); retirou o Brasil da União de Nações Sul-Americanas (Unasul); participou, com outros Governos de direita, na criação do Prosul; designou um general para integrar o IV Comando Americano; permitiu a presença de tropas americanas em treinamento no Brasil; participou das manobras de golpe de Estado na Venezuela; anunciou a mudança da Embaixada em Israel para Jerusalém, em afronta às decisões do Conselho de Segurança da ONU. Se, em algum momento, antes de outubro de 2022 Bolsonaro avaliar que não tem chances de vitória nas eleições, tentará o golpe de Estado, sua única possibilidade de escapar dos numerosos processos que terá de enfrentar na Justiça pela enormidade e diversidade de seus crimes contra os brasileiros e o Brasil.Samuel Pinheiro Machado, foi Secretário Geral do Itamaraty (2003-09) e Ministro de Assuntos Estratégicos (2009-10).
As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil