Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Bolsonaro: destruidor do futuro

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Segunda, 27 de Dezembro de 2021 às 06:14, por: CdB

 

A política econômica de Bolsonaro procura, com ardor, desregulamentar as atividades econômicas; privatizar as empresas do Estado; vender os bens do Estado; permitir a auto-regulamentação pelas empresas; reduzir os direitos dos trabalhadores.

Por Samuel Pinheiro Machado– de Brasília

Ainda que sejam aspectos relevantes de sua personalidade e de seu comportamento e que não devem ser minimizados, não é correto afirmar que o Presidente Jair Bolsonaro é um psicopata, desvairado, incoerente, manhoso, ignorante, violento, fascista e genocida e que seu governo é incompetente e sem rumo, sem um projeto para o Brasil.

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Bolsonaro em suas “lives” ultrajantes, pela linguagem e pelo conteúdo, e no seu “cercadinho” desacredita os Poderes do Estado
Bolsonaro é tudo isto e pior do que isto tudo. Seu governo tem um projeto e este projeto tem como objetivo a destruição do futuro do Brasil. O projeto do Governo Bolsonaro se caracteriza pela destruição, como ele declarou: “Eu não vim para construir. Vim para destruir.” Jair Bolsonaro, 2019. O projeto econômico de Bolsonaro é um projeto ultra neoliberal cujas premissas são simples: a) todos os problemas econômicos podem ser resolvidos pela empresa privada; b) a empresa privada ainda não os resolveu devido à nefasta ação regulamentadora e empresarial do Estado. A política econômica de Bolsonaro procura, com ardor, desregulamentar as atividades econômicas; privatizar as empresas do Estado; vender os bens do Estado; permitir a auto-regulamentação pelas empresas; reduzir os direitos dos trabalhadores. Na área externa as medidas econômicas têm, com objetivo, abrir amplamente a economia ao capital estrangeiro e às importações; “aferrolhar” essa política econômica neoliberal pela adesão do Brasil à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a obrigação de seguir seus “códigos”; negociar acordos de livre comércio e neles abandonar a possibilidade de usar tarifas de importação; transformar o Mercosul em uma área de livre-comércio. O projeto social de Bolsonaro é uma reversão aos valores mais conservadores da sociedade brasileira, que começaram a ser reformados em 1930. O projeto social de Bolsonaro para o Brasil tem como premissa que grupos marxistas estimularam e implantaram o ateísmo; atacaram a religião cristã e suas igrejas; agridem os princípios da Família; atacam os valores da Pátria e da Nacionalidade; incentivam a libertinagem sexual. Acredita Bolsonaro que o interesse do indivíduo é sempre superior ao interesse coletivo; que a corrupção na sociedade é causada pelo Estado; que a intervenção do Estado na educação é a causa principal da perda dos valores; que as reivindicações das minorias são indevidas por serem essas minorias “inferiores”; que o uso da força para preservar valores é legítima. Os instrumentos de política social de Bolsonaro são eliminar a ação cultural do Estado; beneficiar ao máximo as entidades religiosas, em especial evangélicas; privatizar o ensino e legalizar o ensino em casa; ridicularizar a ciência, os cientistas e os professores; estimular o ódio às minorias étnicas, às mulheres, aos LGBTQIA+; fortalecer as polícias e o Ministério Público para combater a corrupção e “enquadrar” seus “inimigos”.

Ditadura fascista

O projeto político de Bolsonaro é a implantação de um sistema político e governamental autoritário, uma ditadura fascista que garanta a liberdade para o capitalismo (para as empresas) e a submissão dos trabalhadores; consolidar na legislação valores sociais ultraconservadores e a própria perpetuação dessa ditadura. É um projeto de reversão à situação política anterior a 1930, de fortalecimento dos Estados em relação à União. Seu principal instrumento é armar a população, as polícias e as milícias que pretende usar no golpe fascista, que tentará dar em 2022. Outros instrumentos desse projeto político são passar competências e recursos da União para os Estados e Municípios; contratar pessoal sem concurso; nomear indivíduos inexperientes e contrários à ação do Estado em cada área; reduzir recursos das entidades públicas e assim “justificar” sua privatização; controlar o Poder Judiciário. Bolsonaro em suas “lives” ultrajantes, pela linguagem e pelo conteúdo, e no seu “cercadinho” desacredita os Poderes do Estado; acusa seus adversários de comunistas, ateus e pervertidos; acusa o sistema eleitoral de fraudulento; acusa o Congresso e o Judiciário de “não deixá-lo trabalhar”; desacredita os juízes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE); afirma que “desejam matá-lo” e entre outras afirmações, ofende a imprensa e jornalistas e minimiza a covid-19 e ridiculariza os que a temem. Na política externa, Jair Bolsonaro revelou e continua a revela sua admiração pelos governos e líderes de extrema direita; sua devoção irrestrita aos Estados Unidos (EUA) e sua fiel adesão às posições americanas; sua admiração por Israel; seu antagonismo em relação à China; e segue a orientação de Steve Bannon, o americano ideólogo e articulador da extrema direita nos EUA e no mundo.

Política externa brasileira

Jair Bolsonaro dedicou-se a destruir a política externa brasileira em seus fundamentos e assim retirou o Brasil da Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac); retirou o Brasil da União de Nações Sul-Americanas (Unasul); participou, com outros Governos de direita, na criação do Prosul; designou um general para integrar o IV Comando Americano; permitiu a presença de tropas americanas em treinamento no Brasil; participou das manobras de golpe de Estado na Venezuela; anunciou a mudança da Embaixada em Israel para Jerusalém, em afronta às decisões do Conselho de Segurança da ONU. Se, em algum momento, antes de outubro de 2022 Bolsonaro avaliar que não tem chances de vitória nas eleições, tentará o golpe de Estado, sua única possibilidade de escapar dos numerosos processos que terá de enfrentar na Justiça pela enormidade e diversidade de seus crimes contra os brasileiros e o Brasil.  

Samuel Pinheiro Machado, foi Secretário Geral do Itamaraty (2003-09) e Ministro de Assuntos Estratégicos (2009-10).

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

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