A angústia sobre o destino de um refém britânico no Iraque vai pesar sobre o primeiro-ministro Tony Blair nesta quinta-feira, quando ele enfrenta uma eleição local e um debate no seu Partido Trabalhista a respeito da guerra.
A pressão sobre Blair aumentou na quarta-feira, quando o engenheiro Kenneth Bigley, 62 anos, sequestrado há quase duas semanas, pediu ao primeiro-ministro que interceda por sua libertação - o apelo foi feito num vídeo em que ele aparece dentro de uma jaula. Blair disse que a Grã-Bretanha responderá aos sequestradores de Bigley se eles entrarem em contato, o que, de acordo com ele, ainda não aconteceu.
O seqüestro ofuscou os esforços de Blair para que a conferência do Partido Trabalhista tratasse de temas domésticos. Esse encontro é o ponto de partida para a campanha eleitoral que pode lhe dar um terceiro mandato, na eleição que deve ocorrer em maio de 2005.
Os trabalhistas, divididos a respeito da guerra, encerrarão a sua convenção anual com um debate a respeito do envolvimento militar no Iraque. Uma votação em prol da retirada das tropas seria constrangedora para Blair.
Em outro importante teste para o primeiro-ministro, os eleitores da cidade de Hartlepool, no nordeste da Inglaterra, um tradicional reduto trabalhista, escolherão um novo deputado, numa eleição suplementar. Uma vitória esmagadora da oposição seria humilhante para o governo.
As pesquisas dizem que os trabalhistas devem assegurar um novo mandato em 2005, mas a questão da guerra fez a popularidade de Blair cair, o que pode prejudicar a formação de uma bancada forte.
O comovente apelo de Bigley serviu para lembrar que o futuro de Blair e dos trabalhistas continua inextrincavelmente ligado ao Iraque. O vídeo em que o engenheiro aparece enjaulado e acorrentado foi ao ar pela emissora árabe Al Jazeera. Seus sequestradores, ligados à Al Qaeda, ameaçam decapitá-lo se mulheres detidas em cárceres iraquianas não forem libertadas.
Bigley acusou Blair de mentir a respeito da crise dos reféns, ao dizer que havia negociado, sem tê-lo feito. Questionado sobre o apelo de Bigley, Blair disse que os sequestradores ainda não entraram em contato, situação em que "responderíamos imediatamente", segundo ele. Mas o primeiro-ministro afirmou que seu governo não vai negociar com os militantes.
A questão do Iraque já prejudicou os trabalhistas em recentes eleições locais e para o Parlamento Europeu. Em outra humilhação, o partido perdeu uma vaga parlamentar em um importante reduto seu.
Blair preferia que a conferência trabalhista tratasse de assuntos como saúde e educação. Na tentativa de curar as divisões provocadas pela guerra, ele ensaiou um pedido de desculpas na última terça-feira.
Ele admitiu que, para justificar a guerra, se baseou em informações erradas a respeito da presença de armas de destruição em massa no Iraque, mas não lamentou a deposição de Saddam Hussein.Alguns membros do partido se contentaram com isso. Outros, não.
O Partido Conservador, da oposição, apoiou a guerra, mas seu líder, Michael Howard, também criticou Blair por causa do assunto. Em entrevista à revista New Statesman, ele acusou o primeiro-ministro de mentir para justificar o conflito.