A inclusão no registro não garante que o News Cop receba pagamentos do Facebook e do Google. O gabinete do chefe do Tesouro Federal deve primeiro "designar" uma das empresas para intervenção governamental, em que um mediador decide quanto as companhias devem pagar pelo conteúdo, um passo que ainda não foi dado.
Por Redação, com Reuters - de Sydney
A lei australiana, que obriga plataformas como Google e Facebook a pagar veículos locais por notícias, enfrenta um caso improvável: um site que, segundo especialistas, usa perfis falsos de jornalistas e ganhou apoio regulatório para receber os recursos.
O regulador australiano encarregado de fazer cumprir a lei, a Autoridade de Comunicações e Mídia da Austrália (ACMA, na sigla em inglês), adicionou no mês passado o News Cop, um site quase desconhecido sem endereço físico, ao registro público de empresas que podem negociar acordos de licenciamento com os controladores de empresas como Facebook e o Google dentro do sistema do governo.
A decisão da ACMA, que ocorreu após um processo inicial de verificação, levanta questões sobre como a lei controversa será implementada, disseram vários especialistas jurídicos.
O News Cop publica artigos reescritos de outros provedores de notícias. Não tem outro endereço físico a não ser uma caixa postal e foi registrado como empresa em 21 de fevereiro de 2021, mostram os registros, três dias antes da aprovação da lei de conteúdo.
Registro da ACMA
Adam Cox, nomeado no registro da ACMA como o contato do News Cop, se recusou a responder a perguntas sobre os perfis dos jornalistas, mas disse que o site não se beneficiava financeiramente do registro da ACMA e que a empresa ganhava dinheiro com doações de leitores.
Richard Holden, professor de economia da Universidade de Nova Gales do Sul, disse que incluir o News Cop no registro prejudicou a intenção da lei de apoiar o jornalismo de interesse público e mostra que essas regras são facilmente manipuladas.
Um porta-voz da ACMA afirmou que, desde que autorizou o News Cop, a agência contatou a empresa e perguntou sobre o negócio de notícias registrado e sua produção de conteúdo. O porta-voz não forneceu mais detalhes sobre os questionamentos.
A inclusão no registro não garante que o News Cop receba pagamentos do Facebook e do Google. O gabinete do chefe do Tesouro Federal deve primeiro "designar" uma das empresas para intervenção governamental, em que um mediador decide quanto as companhias devem pagar pelo conteúdo, um passo que ainda não foi dado.
Representantes do Facebook, que mudou o nome de sua entidade controladora para Meta, e do Google, que é propriedade da Alphabet, não comentaram.
Tim Graham, um pesquisador de desinformação na Universidade Tecnológica de Queensland, analisou 14 fotos postadas como se fossem da equipe do News Cop e descobriu que 13 "quase certamente" foram geradas por software de inteligência artificial.
Após as investigações da agência inglesa de notícias Reuters, todas as assinaturas nos artigos do News Cop foram alteradas para o nome de Cox, com as fotos de jornalistas alteradas para a imagem de um macaco. Questionado sobre a mudança, Cox disse: "Não tenho ideia, sinto muito".