A mudança significa, para o consumidor brasileiro, até R$ 4,71 a mais (49,6%) em relação ao reajuste anterior, em junho, quando a conta de luz já havia aumentado de R$ 6,24 para R$ 9,49 pela bandeira tarifária vermelha patamar 2. As providências pedidas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) são superficiais.
Por Redação, com RBA - de Brasília
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) colocou em prática o aumento de quase 50% sobre a conta de luz. A nova bandeira, chamada de bandeira da ‘escassez hídrica’, terá uma taxa no valor de R$ 14,20 por 100 quilowatt hora. A tarifa começa a valor a partir do primeiro minuto desta quarta-feira e ficará em vigor até 30 de abril de 2022.
A mudança significa, para o consumidor brasileiro, até R$ 4,71 a mais (49,6%) em relação ao reajuste anterior, em junho, quando a conta de luz já havia aumentado de R$ 6,24 para R$ 9,49 pela bandeira tarifária vermelha patamar 2. As providências pedidas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) são superficiais.
— Reduzindo a utilização de equipamentos que consomem muita energia como chuveiros elétricos, condicionadores de ar e ferros de passar — declarou o ministro das Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque.
Nada de concreto
O discurso do ministro, em rede nacional, chamou atenção do professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Ribeiro. O geógrafo observou, à agência nacional de notícias Rede Brasil Atual (RBA) que o ministro, embora reconheça a situação, “não propôs nada de concreto” para contorná-la.
Ao contrário, em sua fala Albuquerque citou que o governo foi pego de “surpresa” pelo regime de chuvas na região Sul, que acabou sendo “pior do que o esperado”. E, ao final, concluiu que a superação da crise irá depender do “empenho de todos nós” e “também das chuvas”.
De acordo com Ribeiro o que faltou, na verdade, foram medidas de prevenção por parte do governo de Jair Bolsonaro. Estudioso do regime de chuvas desde a década de 1990, o professor diz que historicamente há alternâncias em seu volume.
— Sabemos que temos uma demanda firme, estabelecida, que é a necessária para gerar energia elétrica, abastecimento humano, animal e agrícola. Mas ao mesmo tempo temos que ter clareza de que há uma oscilação do volume de chuvas, isso é conhecido. E eventualmente essa oscilação pode ser agravada — resumiu.
O professor da USP adverte que o avanço do desmatamento nos biomas brasileiros é uma dessas questões que impactam no regime de chuvas, ao reduzir o que chama de “corredor natural de transferência de umidade” da Amazônia para o Sul e o Sudeste. Outro aspecto, segundo ele, é a oscilação das temperaturas do oceano.
Canetada
Neste ano, por conta do fenômeno La Niña, houve o resfriamento das águas até maio, o que também implica na redução de chuvas, porque se altera a circulação atmosférica, conforme explica. A previsão é de que esse fenômeno ocorra novamente em outubro.
— Mas nada disso é novidade. Sabemos que isso ocorre, existe literatura mostrando que isso pode ocorrer. Temos até a capacidade hoje graças a modelos sofisticados de prever quando isso pode acontecer e quais as implicações. Mas esse governo, que parece não acreditar na ciência, e isso fica cada vez mais evidente, não considera esse tipo de situação — pontuou.
Ainda segundo Albuquerque, “até o horário de verão, que o presidente numa canetada resolveu simplesmente acabar, nem isso é cogitado agora”.
— E é curioso que o próprio setor de comércio, bares e restaurantes solicitou o retorno do horário de verão para ampliar a possibilidade de atrair clientes. Nem isso foi aventado — contesta.
Reveses
O geógrafo da USP defende que, para além de um racionamento em escala individual, é preciso também controlar o consumo de energia do setor industrial, responsável por grande parte do uso. Ele cobra a renovação dos equipamentos que possam de ter maior eficiência energética.
Assim como a repotencialização das hidrelétricas, que já estão operando, e o estímulo a fontes de energia alternativas. Sem essas medidas, a estiagem pode produzir mais reveses, como a paralisação das operações de transporte de carga pelos rios. Empresas já interromperam o uso da hidrovia Tietê-Paraná e a estimativa é de prejuízos na ordem de R$ 3 bilhões a R$ 5 bilhões.
— É de fato preocupante, porque é um governo que mostra seu despreparo e falta de qualificação técnica para enfrentar os problemas reais e agudos que atingem a sociedade brasileira — concluiu Wagner Ribeiro.