Em Washington, durante visita oficial de dois dias, o chanceler argentino, Rafael Bielsa, convocou seis experientes embaixadores peronistas para discutir a agenda externa do país. Em pauta um endurecimento em relação ao Brasil nos próximos meses.
- (O presidente Néstor) Kirchner está cansado dos entraves econômicos brasileiros, a falta de apoio do governo brasileiro à Argentina junto ao FMI e também da liderança que o presidente Lula quer na região - disse um funcionário da Chancelaria ao jornal Clarín, em entrevista publicada nesta segunda-feira.
Segundo o jornal argentino, a gota d'água que fez transbordar o sentimento antibrasileiro foi a iniciativa do Itamaraty de mediar a crise equatoriana através da Confederação Sul-Americana de Nações, apesar de este ser, segundo o governo de Kirchner, um trabalho que diz respeito à Organização dos Estados Americanos (OEA).
Bielsa chegou a ser convidado pelo chanceler brasileiro Celso Amorim para participar da missão da CSN como presidente pró-tempore do Grupo do Rio, mas declinou do convite.
- Houve falta de acordo - reconheceu ao Clarín o porta-voz da chancelaria argentina, Oscar Feito, que participou das reuniões de Washington.
Segundo o jornal, citando fontes da chancelaria, Kirchner nunca teve uma boa relação pessoal com Lula e acredita que o Brasil está tentando ocupar todos os cargos disponíveis nos organismos internacionais.
- Se há um lugar na OMC, o Brasil quer; se há um lugar na ONU, o Brasil quer; se há um lugar na FAO, o Brasil quer. O Brasil quis até mesmo eleger um papa - teria dito Kirchner, recentemente, segundo essa mesma fonte.
Ainda de acordo com o jornal, a maioria dos diplomatas de carreira da Chancelaria argentina, embora não simpatizem com Kirchner politicamente, concorda com o freio que o país quer colocar nas ambições do Brasil na região.