A Argentina obteve uma adesão de 76,07% à sua oferta de reestruturação de dívida, apesar de ter proposto às centenas de milhares de credores a maior redução de capital da história. A oferta garantiu a recuperação de apenas cerca de 30 centavos por cada dólar do valor nominal dos bônus originais.
O ministro da Economia, Roberto Lavagna, informou que o país obteve um corte em sua dívida de US$ 67,2 bilhões. Lavagna disse que pelo total da dívida em default de US$ 102,5 bilhões (incluindo juros vencidos), o país emitirá novos títulos no valor de US$ 35,238 bilhões. Com esses números de aceitação, o ministro descartou ter que realizar no futuro algum pagamento aos credores que não aceitaram a troca e que pretendem resgatar seus investimentos na Justiça.
Recusaram a oferta proprietários de títulos em default no valor de cerca de US$ 19,6 bilhões. A campanha do presidente Néstor Kirchner foi essencial para o êxito da troca. Ele se encarregou de todo o processo de reestruturação - cuja primeira proposta foi lançada em setembro de 2003 - sempre advertindo que se os credores não a aceitassem, perderiam todo o dinheiro.
- Nós argentinos conseguimos dar um passo importantíssimo para a recuperação da Argentina - disse o presidente.
O resultado ficou em linha com as estimativas do mercado, que registrou forte alta durante as seis semanas em que a operação se desenvolveu, entre 14 de janeiro e 25 de fevereiro.
- É muito interessante, alto (o nível de adesão), reconfortante para o país - disse o ex-presidente do Banco Central argentino Rodolfo Rossi.
Apesar do alto nível de adesão, a dívida pública continua sendo um peso, a 72% do Produto Interno Bruto (PIB), ante pouco menos de 60% em 2001.
O ministro Lavagna disse que o governo já recebeu ofertas para colocar novos bônus, e que no dia 18 de março serão divulgados os dados definitivos da operação.
Nas ruas
O anúncio da taxa de aceitação era esperado com ansiedade por empresários e analistas.
Alfredo Coto, presidente da cadeia de supermercados Coto, uma das empresas que mais emprega no país, disse que "há um antes e um depois da troca. Espero que agora, com esses otimismo, nós empresários possamos gerar investimento e renda".
Outros empresários de distintos setores convidados para o discurso de Kirchner também mostraram satisfação com os resultados.
Nas ruas de Buenos Aires, no entanto, a expectativa era moderada.
- Dedico-me a temas de exportação e acredito que (a saída do default) pode atrair capital, abrir um pouco mais os mercados, o crédito (à Argentina) - disse Pablo Elid, de 38 anos, formado em relações exteriores, enquanto esperava um ônibus.
Luis, um psicológo de 67 anos que deixava a estação de trens da cidade, não pensa o mesmo:
- Não sou otimista... Não é para se vangloriar deixar de pagar o que se deve.