Além das duas mortes de pessoas em áreas de selva, mais de cem macacos estariam infectados com febre amarela no sul do Brasil. O Ministério da Saúde argentino monitora a situação dos primatas.
Por Redação, com Sputnik - de Buenos Aires
Além das duas mortes de pessoas em áreas de selva, mais de cem macacos estariam infectados com febre amarela no sul do Brasil. O Ministério da Saúde argentino monitora a situação dos primatas.
Enquanto a Argentina passa por uma situação crítica devido ao avanço do coronavírus, o Ministério da Saúde do país intensificou na semana passada as ações de vigilância e alerta preventivo diante da descoberta de dois macacos mortos por febre amarela no município rural de Palma Sola, no estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, a apenas 30 quilômetros da fronteira com a província argentina de Misiones.
– Estamos comprometidos com esse tema para desenvolver medidas preventivas a fim de minimizar qualquer risco e, se necessário, desenvolver ações de controle – afirmou a ministra da pasta da Saúde, Carla Vizzotti, durante encontro virtual na semana passada sobre epidemiologia, imunizações, zoonoses e vetores da carteira sanitária.
Nas localidades de Piñalito e El Soberbio, Misiones, Argentina, um grupo de especialistas, coordenado pelo Centro Nacional de Diagnóstico e Pesquisa em Endemoepidemias (CeNDIE) da Administração Nacional de Laboratórios e Institutos de Saúde (ANLIS) Dr. Carlos Malbrán, já está trabalhando na coleta de insetos transmissores e na busca ativa de suscetíveis, macacos ou primatas não humanos, que são os hospedeiros primários da doença.
Porém, o que até agora parecia uma situação epizoótica, ou seja, afetava apenas animais, já reflete consequências em humanos, pelo menos do outro lado da fronteira. No dia 12 de abril, a Secretaria da Saúde de Santa Catarina confirmou em boletim oficial que houve duas pessoas que morreram com o vírus da febre amarela e um total de cinco casos. Além disso, 119 macacos já morreram em decorrência da doença e há outros 25 sob investigação.
Sentinelas de febre amarela
Especialistas irão acampar em Piñalito para monitoramento ecoepidemiológico de arbovírus em campo. Os arbovírus são um grupo de vírus transmitidos pela picada de artrópodes (insetos, aracnídeos, crustáceos, miriápodes). Nas áreas silvestres o transmissor da febre amarela é o mosquito Haemagogus e nas áreas urbanas o vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo mosquito da dengue.
A febre amarela urbana não é registrada no Brasil desde 1942, enquanto na Argentina ficou a trágica memória da grande epidemia de 1871, que deixou mais de 14 mil mortos só na cidade de Buenos Aires.
Bióloga e pesquisadora do Conicet, Laura Tauro, que também irá acampar na selva, faz parte do Centro de Pesquisas da Mata Atlântica (CEIBA) e do Projeto Carayá, que observa o estado de conservação e habitat desses bugios, cuja presença saudável na selva sinaliza que a febre amarela não está ameaçando a área.
Ilaria Agostini estudava a região durante o último surto de febre amarela na selva em 2008-2009. Naquela época, a população de macacos carayá praticamente desapareceu e, depois de alguns meses, em Piñalito e em vários outros lugares de Misiones deixaram de se ouvir uivos. A selva ficou silenciosa. Agora ela está recuperada e a equipe já identificou os grupos.
– Dá trabalho, mas ontem encontramos um grupo de carayá vermelhos, tem também os pretos, a que chamamos de Os Vikings. Pudemos ver sete macacos, machos e fêmeas, junto com um filhote – conta Tauro. E acrescenta: "A última vez que os vimos foi no início de 2020. Eles são o maior grupo que restou na área e foram vistos em perfeita saúde. Na verdade, nós os ouvimos uivando a semana toda".
Simultaneamente, os especialistas realizam vigilância entomovirológica, para prevenção e controle de patógenos transmitidos por mosquitos. Eles já capturaram vários que serão analisados. É uma das melhores maneiras de determinar se o vírus está circulando ou não.
Há riscos de avanço da febre amarela na Argentina?
Felizmente, 95% da população missionária está vacinada contra a febre amarela. De qualquer forma, desde o lançamento do alerta do Ministério da Saúde, agentes de saúde da província têm visitado áreas rurais para entrevistar vizinhos e vacinar pessoas que ainda não foram imunizadas.
Da mesma forma, o turismo foi reduzido devido à pandemia, embora a recomendação seja que se alguém visitar Misiones, as Cataratas do Iguaçu ou qualquer outro parque, aplique a vacina e, se for para a selva, use roupas fechadas e repelente.
O maior risco, diz a bióloga, está nos moradores da área de fronteira que não são vacinados. "Na região existem muitas empresas florestais. Gente que mora em lugares profundos na selva, que tem muito pouco acesso à cidade, aonde vai esporadicamente", alertou a especialista.