Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Aquecimento global ameaça correntes oceânicas, dizem cientistas

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Sábado, 18 de Maio de 2024 às 13:05, por: CdB

A AMOC é um sistema de circulação que transporta superficialmente, ao longo do Oceano Atlântico, águas aquecidas ao nível dos trópicos para o Norte do Atlântico que se afundam, mais frias e densas, já perto da região polar.

Por Redação, com Público – de Lisboa

Os mares e oceanos do planeta parecem um mundo distante para nós, que vivemos em terra firme, mas o que acontece nas profundezas influi, direta e definitivamente, nos destinos de todos os seres vivos. Recente estudo da revista Nature Communications usou modelos matemáticos para estimar que, entre 2025 e 2095, no cenário em que as emissões de gases do efeito estufa mantêm-se na tendência atual, a circulação termoalina meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês) poderá atingir um ponto sem volta e entrar em colapso. A ameaça, no entanto, está longe de ser consensual no meio científico.

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O fenômeno El Niño aquece as águas dos oceanos na faixa tropical e muda o clima ao redor do mundo

A AMOC é um sistema de circulação que transporta superficialmente, ao longo do Oceano Atlântico, águas aquecidas ao nível dos trópicos para o Norte do Atlântico que se afundam, mais frias e densas, já perto da região polar. Esta massa de água é determinante para a Europa, uma vez que lança calor e humidade para o continente, amenizando o clima. Basta comparar os Invernos gelados de Nova Iorque com o Inverno bastante mais quente de cidades costeiras que ficam a latitudes semelhantes, como Porto e Lisboa.

— Se essa circulação se reduzisse, em pouco tempo teríamos menos calor a ser transportado para as latitudes elevadas e o fator amenizador desapareceria — disse ao site português de notícias Público Álvaro Peliz, investigador e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que trabalha na área da oceanografia física e estuda a dinâmica dos oceanos.

 

Temperatura

Um relatório do fim de 2022 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre os pontos sem retrocesso associados à progressão das alterações climáticas ajuda a imaginar aquele cenário. De início, o colapso da AMOC poderia provocar uma descida na temperatura média da Europa, entre 3 e os 8 graus Celsius.

Mas num contexto de alterações climáticas, imaginando-se uma temperatura média superficial da Terra 2,5 graus Celsius acima dos valores pré-industriais – há previsões de que já nos próximos anos a temperatura média poderá atingir mais 1,5 graus em relação ao passado pré-industrial –, o colapso da AMOC seria em parte mitigado pelo aquecimento global. Nesse caso, os cenários antevêem que a Europa já não esfriaria tanto. No entanto, também iria perder precipitação, tornando-se muito mais seca, o que teria consequências na produção alimentar.

“O encerramento da AMOC teria um profundo impacto na agricultura ao nível global”, lê-se no relatório da OCDE. Com um colapso daquela corrente somado ao aquecimento global, “mais de metade da terra apropriada para o crescimento de trigo e de milho é perdida”, segundo o documento.

 

Avaliação

“A Europa seria especialmente afetada (…). Um colapso da AMOC iria aumentar a sazonalidade, reduzindo a produtividade agrícola, com invernos mais frios e verões mais secos”, aponta o documento, apresentando um cenário bastante difícil.

De qualquer forma, o consenso científico não antevê o colapso da AMOC, pelo menos para o século XXI.

“É muito provável que a AMOC enfraqueça ao longo do século XXI para todos os cenários de emissões (de gases com efeito de estufa)”, adianta o relatório Alterações Climáticas 2021 — A Base da Ciência Física, que faz parte do sexto e mais recente ciclo de avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês).

 

Colapso

Mas “há uma confiança média de que não vai haver um colapso abrupto antes de 2100”, prossegue o documento da reconhecida autoridade internacional que, desde 1990, tem analisado e compilado o conhecimento científico que vai sendo produzido na área climática para informar a governança mundial.

É no contexto daquela avaliação do IPCC e com base nos dados obtidos a partir da monitorização da AMOC que Álvaro Peliz relativiza a importância do artigo publicado na Nature Communications e desdramatiza os seus resultados.

— É um artigo entre muitos artigos. Todos os meses, senão semanas, saem artigos sobre a AMOC. Aquele, porque se situa fora da expectativa, ganhou mais visibilidade. Mas não vale a pena estar a trazer um cenário catastrofista — conclui.

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