Segunda, 01 de Novembro de 2021 às 07:45, por: CdB
Na noite de 16 de setembro, o Consulado da China no Rio, que também fica em Botafogo, na Zona Sul carioca, foi alvo de um ataque à bomba. Ninguém ficou ferido. Apesar de poder ser classificado como um ato terrorista, o Itamaraty demorou duas semanas para se manifestar sobre o caso à época. A imprensa brasileira deu importância diminuta ao caso.
Por Redação, com Sputnik - do Rio de Janeiro
Depois de ser feito refém junto com a família durante um assalto à sua residência oficial, na madrugada de sábado, o cônsul-geral de Portugal no Rio de Janeiro, Luís Gaspar da Silva, "está traumatizado". É o segundo crime contra consulados em pouco mais de 1 mês no mesmo bairro carioca.
Na noite de 16 de setembro, o Consulado da China no Rio, que também fica em Botafogo, na Zona Sul carioca, foi alvo de um ataque à bomba. Ninguém ficou ferido. Apesar de poder ser classificado como um ato terrorista, o Itamaraty demorou duas semanas para se manifestar sobre o caso à época. A imprensa brasileira deu importância diminuta ao caso.
Já no roubo ao Consulado Geral de Portugal no Rio, a resposta do Ministério das Relações Exteriores (MRE) foi mais tempestiva, apesar de ser uma cópia parcial da reação do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) de Portugal. Questionado pela agência russa de notícias Sputnik no domingo a respeito de um telefonema que o chanceler Carlos França fizera ao seu homólogo português, Augusto Santos Silva, o Itamaraty enviou uma nota, oito minutos depois, com parte do texto reproduzindo o conteúdo de tuítes do MNE português.
"O governo brasileiro expressa solidariedade ao Cônsul-Geral de Portugal no Rio de Janeiro, Embaixador Luiz (sic) Gaspar da Silva, à sua família e às demais pessoas afetadas pelo assalto ao Consulado-Geral de Portugal no Rio de Janeiro (...). O Ministro Carlos França telefonou ao seu homólogo, Ministro Augusto Santos Silva, e garantiu-lhe o máximo empenho das autoridades brasileiras na investigação", lê-se em parte da nota. O Itamaraty acrescenta que acompanha o tema com atenção, auxiliando as investigações, e mantém contato com a embaixada e os consulados de Portugal para oferecer o apoio cabível.
Ainda de acordo com o comunicado, o governo brasileiro está seguindo as obrigações elencadas na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, sobretudo a de garantir a segurança de embaixadas e repartições consulares instaladas em território nacional.
"As relações luso-brasileiras são fortes e baseiam-se na profunda ligação entre os povos e na boa colaboração entre os governos", lê-se em outro trecho. As partes inicial e final do comunicado coincidem com o conteúdo dos tuítes do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, publicados 4 horas e 40 minutos antes.
À Sputnik insistiu em um posicionamento do Itamaraty sobre o assalto ao Consulado de Portugal, sendo o segundo crime contra representações diplomáticas em pouco mais de um mês no mesmo bairro após o da China, mas não houve resposta até o fechamento desta reportagem.
Embaixador sobe o tom: 'Foi uma intrusão no nosso território'
Já o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal confirmou à Sputnik que a residência do cônsul-geral de Portugal no Rio foi alvo de um assalto à mão armada, do qual não resultaram quaisquer danos pessoais.
"Cônsul, família e os funcionários das instalações encontram-se bem. No assalto foram roubados apenas bens pessoais. As autoridades policiais brasileiras estão a proceder às competentes investigações, com toda a colaboração do Consulado Geral", lê-se na resposta do MNE enviada à Sputnik.
O MNE também confirmou o telefonema de Carlos França a Augusto Santos Silva, acrescentado que o chanceler brasileiro deu garantias de máxima segurança para todas as missões diplomáticas e consulares portuguesas. O homólogo português agradeceu o gesto em nome do governo português. No site da presidência de Portugal, uma nota informa que o presidente Marcelo Rebelo de Sousa se inteirou da situação ocorrida com o cônsul Luís Gaspar da Silva, com quem falou na noite de sábado.
Já na noite de domingo, Luís Faro Ramos, embaixador de Portugal no Brasil, elevou o tom em declaração ao jornal Público, prometendo formalizar uma queixa junto às autoridades federais brasileiras e cobrando celeridade e resultados nas investigações.
– É grave, estamos a falar de território português. Segundo as convenções internacionais, foi uma intrusão no nosso território. Felizmente não há vítimas, tanto o cônsul como a família estão bem. Apanharam um susto enorme – afirmou Faro Ramos.
À agência Lusa, João Marco de Deus, vice-cônsul de Portugal no Rio, disse que Gaspar da Silva e sua família "estão fisicamente bem, obviamente bastante traumatizados".
Vítimas foram amarradas e trancadas em um quarto
De acordo com o depoimento de uma das vítimas, ao qual Sputnik teve acesso, seis bandidos participaram do crime, revelado pela repórter Paolla Serra, do diário conservador carioca O Globo. A filha de um dos funcionários do consulado, que mora em uma das casas da representação diplomática, relatou que, por volta das 02h00, estava dormindo em seu quarto, quando foi despertada por um barulho vindo do quarto de seus pais. Ao se levantar e abrir a porta do seu quarto, viu um assaltante armado com uma pistola fazendo seu padrasto de refém e se dirigindo à porta da sala.
O homem era pardo, tinha 1,62m, estava de touca e máscara, vestindo casaco e calça jeans. Depois de ele abrir a porta, outros cinco bandidos, todos armados com facas, entraram na casa e renderam a funcionária, seu marido e a filha.
Após ser rendida, os assaltantes obrigaram a funcionária a levá-los à casa do cônsul, que fica no mesmo terreno, na Rua São Clemente, uma das principais e mais movimentadas de Botafogo. Lá, também fizeram de reféns o cônsul Gaspar da Silva, sua esposa e seu filho. Todos foram mantidos no quarto da funcionária, alguns amarrados e outros contidos, sempre sob a vigilância de dois bandidos.
"Após aproximadamente 50 minutos, os assaltantes se retiraram do quarto, fechando a porta com os reféns dentro do mesmo e informaram que iriam para o consulado português e que era para eles ficarem em silêncio", lê-se em parte do depoimento.
A depoente relatou que, por volta das 03h30, descobriu que a porta não estava trancada. Segundo ela, aos poucos os reféns foram saindo do quarto e verificaram que os assaltantes não estavam mais dentro da residência da funcionária. Ela percebeu que a casa havia sido toda revirada e compareceu à 10ª Delegacia de Polícia (Botafogo) para comunicar o crime.
Neste final de semana, a Polícia Civil cumpriu diligências em buscas de provas, inclusive na mata atrás do terreno do consulado, que dá acesso ao Morro Santa Marta, o primeiro a receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), projeto que começou a sucumbir após a Olimpíada de 2016 por falta de verbas. À Sputnik esteve na 10ª DP, mas um policial de plantão informou que o delegado não concederia entrevista. Nosso repórter também foi ao Consulado Geral de Portugal no Rio para tentar falar com o cônsul ou o vice-cônsul, mas um segurança disse que eles não prestariam informações.
Apesar do crime ocorrido no dia anterior, não havia viaturas policiais em frente à representação diplomática na tarde deste domingo, diferentemente do acesso à favela Santa Marta e do Consulado da China no Rio, em frente aos quais havia carros da Polícia Militar e de segurança privada.