Todos os dias parte alguém próximo a alguém. Um irmão, um aluno, uma amiga da faculdade, o pai do vizinho, a filha do conhecido, o camarada antigo, o camarada novo, todos os dias, alguém próximo de alguém, parte para não mais voltar.
Por Joan Edesson de Oliveira - de Brasília
Todos os dias parte alguém próximo a alguém. Um irmão, um aluno, uma amiga da faculdade, o pai do vizinho, a filha do conhecido, o camarada antigo, o camarada novo, todos os dias, alguém próximo de alguém, parte para não mais voltar.Cenário de destruição
Com tal cenário de destruição somos obrigados a buscar, no mais fundo de nós, forças para resistir. Precisamos enterrar e chorar os nossos mortos pensando em como salvar os vivos. Precisamos ter empatia com os que sofrem pelos seus mortos, enquanto somos solidários com o sofrimento e com a fome dos que ficam. Precisamos inventar uma força nova dentro de nós, para sermos capazes de frear a destruição do país, para sermos capazes de fazer frente à rapinagem, para por fim ao bombardeio de mentiras. É necessário interromper a conta dos mortos, é preciso defender a vida, é urgente garantir ao menos um prato de comida na mesa de milhões de brasileiros que passam fome em silêncio, obrigados ainda a suportar o sarcasmo e o cinismo dos urubus que sobrevoam à espera que os corpos esfriem. Quando esta tormenta passar, e ela passará, não sabemos quantos faltarão à reunião da família, não sabemos quantas cadeiras vazias haverá no encontro dos amigos, não temos ideia de quantos terão tombado ao nosso lado. Mas a tormenta só passará se a dor virar indignação, se o desespero der lugar à coragem, se o pranto virar luta. Honraremos os nossos mortos se lutarmos para libertar os vivos, para garantir a vida, a vacina para todos, o fortalecimento da saúde pública e, acima de tudo, se expulsarmos os demônios que nos atacam, se pusermos para correr essas hienas que hoje mordem os nossos calcanhares. É necessário que lutemos, pelos que partem, pelos que ficam.Joan Edesson de Oliveira, é educador, mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará.
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