Ministro alemães se mostram abertos a ideia de conceder asilo a cidadãos que fogem da Rússia após Kremlin anunciar convocação de 300 mil reservistas. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, minimizou os relatos de homens em idade militar fugindo em massa da Rússia.
Por Redação, com DW - de Berlim/Moscou
Ministros do governo alemão indicaram que, sob condições específicas, a Alemanha está pronta para receber cidadãos russos em fuga da mobilização militar parcial ordenada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. De acordo com o Ministério da Defesa russo, até 300 mil reservistas serão convocados, em meio à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.
– Desertores ameaçados de repressão podem, via de regra, obter proteção internacional na Alemanha – disse a ministra do Interior, Nancy Faeser, em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine.
– Qualquer um que se oponha corajosamente ao regime de Putin e, por isso, esteja em grande risco, pode pedir asilo por perseguição política – afirmou.
No Twitter, o ministro da Justiça alemão, Marco Buschmann, escreveu, usando a hashtag "mobilização parcial", que aparentemente muitos russos estão deixando o país.
– Qualquer um que odeie o caminho de Putin e ame a democracia liberal é bem-vindo na Alemanha – ressaltou na rede social.
Enquanto isso, a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, elogiou os manifestantes russos contrários à guerra e acrescentou que ninguém dentro do país pode continuar fechando os olhos para o que está acontecendo na Ucrânia.
– Todo russo agora corre o risco de ser convocado para esta guerra – disse.
Rússia minimiza situação
Na quinta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, minimizou os relatos de homens em idade militar fugindo em massa da Rússia. Ele disse que as informações sobre a lotação nos aeroportos "são muito exageradas".
– Precisamos ter muito cuidado com isso para não nos tornarmos vítimas de informações falsas sobre esse assunto – afirmou.
Desde que Putin declarou uma mobilização parcial de reservistas,na quarta-feira, os voos dos próximos dias da Rússia para países que não exigem visto dos russos, como Armênia, Turquia, Azerbaijão e Sérvia, se esgotaram. Longas filas foram relatadas nas fronteiras terrestres da Rússia com a Geórgia, a Finlândia, o Cazaquistão e a Mongólia. Também houve protestos em pelo menos 38 cidades, com 1,3 mil detidos.
ONG pede acolhimento a desertores
A organização de direitos humanos Pro Asyl, com sede na Alemanha, também pediu que os países concedam asilo a desertores e dissidentes da Rússia e de Belarus, país aliado ao Kremlin.
– De acordo com a legislação da União Europeia (UE), aqueles que escapam de uma guerra que viola o direito internacional têm direito a asilo e proteção. Nesse sentido, a Alemanha e a Europa devem agora organizar de forma desburocratizada a admissão das pessoas contrárias à guerra de agressão russa – disse o chefe do departamento europeu da Pro Asyl, Karl Kopp, ao jornal Rheinische Post.
Desde que a Ucrânia foi invadida pela Rússia, em 24 de fevereiro, a Alemanha acolheu cerca de 1 milhão de ucranianos. Segundo Faeser, 438 dissidentes russos, incluindo jornalistas, também se beneficiaram de um processo acelerado para obter proteção na Alemanha.
No entanto, ela ressaltou que o asilo político não é concedido automaticamente - os requerentes são primeiro submetidos a verificações de segurança.
A Comissão Europeia também disse que as pessoas que fogem da mobilização parcial na Rússia têm o direito de solicitar asilo na UE. "Esta é uma situação sem precedentes", disse Anita Hipper, porta-voz da UE responsável pela migração.
Para Hipper, as aplicações precisariam ser analisadas caso a caso. Ela acrescentou que o trabalho está em andamento com os Estados-membros da UE para encontrar uma abordagem conjunta.
Países Bálticos se negam a receber russos
Na quarta-feira, após o anúncio de Putin, autoridades dos países membros da UE no Báltico (Letônia, Lituânia e Estônia) disseram que não oferecerão asilo a os russos em fuga.
O ministro das Relações Exteriores da Letônia, Edgars Rinkevics, citou preocupações de segurança por Riga se recusar a oferecer refúgio a essas pessoas.
Já o ministro das Relações Exteriores da Estônia, Urmas Reinsalu, disse que "a recusa em cumprir o dever cívico de alguém na Rússia ou o desejo de fazê-lo não constitui motivo suficiente para receber asilo em outro país".
Segundo informação divulgada pelo porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano, cerca de 500 mil russos já deixaram o país desde o início da guerra.