O Parlamento alemão autorizou, nesta sexta-feira, a instauração de um inquérito parlamentar sobre a presença de espiões do país, em Bagdá, que ajudaram na invasão do Iraque em 2003, época em que o governo alemão opunha-se abertamente à guerra. Os legisladores votaram pela realização da investigação, que examinará vários aspectos do trabalho dos serviços de segurança e de sua cooperação com os EUA.
O inquérito também analisará o suposto seqüestro de um homem com cidadania alemã pela agência Central de Inteligência dos EUA (CIA) e a transferência secreta de ao menos um suposto terrorista através da Alemanha. O governo da chanceler Angela Merkel, uma política conservadora, havia argumentado antes que a investigação seria uma perda de tempo capaz apenas de alimentar o antiamericanismo no momento em que o país europeu tenta reaproximar-se dos EUA.
Mas três partidos de oposição uniram forças em favor do inquérito. Uma série de reportagens alega que dois agentes alemães em Bagdá ajudaram os norte-americanos a lançar a invasão de várias formas, entre as quais identificando alvos para serem bombardeados. A investigação deve analisar vários aspectos da questão, tais como se ministros ou outras autoridades estavam cientes e aprovaram o repasse de informações aos norte-americanos.
Entre os que podem ser pressionados está o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, que, à época, era chefe de gabinete e coordenador da área de inteligência do chanceler que antecedeu Merkel no poder, Gerhard Schroeder, do Partido Social Democrata.
Informações relevantes
A questão ganhou cores dramáticas na Alemanha porque a opinião pública opunha-se fortemente à guerra. Schroeder venceu a eleição de 2002 respondendo a esse clamor e criticando qualquer tipo de "aventura" militar no Iraque. O governo de Merkel, formado por conservadores e pelos social-democratas, reconheceu que algumas informações relevantes foram repassadas por dois agentes aos EUA, entre as quais dados sobre a presença de policiais e militares em Bagdá.
Mas as autoridades afirmam que esses agentes não desempenharam papel nenhum na seleção de alvos a serem bombardeados. Eles teriam apenas avisado os norte-americanos para não atingirem alvos civis como hospitais.