Nesta quarta-feira, Lula deverá receber o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e, no dia seguinte, poderá ser visitado também pelo ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. Essa agenda ainda está em suspenso.
Por Redação - de Brasília
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não apenas descarta qualquer tipo de retratação quanto à comparação do governo sionista de Benjamin Netanyahu ao regime da Alemanha nazista mas ampliará as críticas ao genocídio em curso, na Faixa de Gaza. O cenário determinado para o reforço à condenação ao Estado de Israel ocorrerá no Tribunal Internacional de Crimes de Guerra, em Haia, na Holanda.
O Tribunal de Haia já avalia, a pedido da Organização das Nações Unidas (ONU), a legalidade da ocupação, por meio de assentamentos, de locais como a Cisjordânia. O Brasil reforçou, nesta terça-feira, sua posição de considerar a ocupação desses territórios como ilegal e criminoso, com o entendimento que a política de ocupação israelense impõe uma espécie de apartheid aos palestinos.
Nesta quarta-feira, Lula deverá receber o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e, no dia seguinte, poderá ser visitado também pelo ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. Essa agenda ainda está em suspenso. Ambos, Blinken e Lavrov, virão ao Brasil para a reunião do G20.
Repercussões
Ao contrário do que tem divulgado a mídia conservadora, cresce o apoio da comunidade judaica às críticas de Lula ao governo israelense. Nesta manhã, o coletivo Vozes Judaicas por Libertação elaborou uma nota em defesa do presidente brasileiro por ter comparado o que ocorre na Faixa de Gaza ao Holocausto.
"A contradição de o povo judaico ser ora vítima e agora algoz é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no imaginário de muitos de nós", afirma o texto. E continua: "Apoiamos as colocações do presidente Lula e cobramos que a radicalidade de suas palavras seja colocada em prática".
O coletivo diz que "a comparação entre genocídios é sempre delicada" e que "não há como estabelecer qualquer hierarquia", mas afirma que as falas do chefe do Executivo "são de grande importância”.
Palestinos
"Se a criação e fundação de um Estado judaico foi uma medida de sobrevivência num mundo sitiado, ela logo se tornou um pesadelo. O Estado de Israel não trouxe emancipação verdadeira aos judeus pois a sua existência é mantida às custas da negação da autodeterminação dos palestinos", acrescenta o documento.
O Vozes Judaicas por Libertação é integrado por professores, educadores, ativistas, empresários e atua em defesa dos direitos dos palestinos ao seu território, sem se sentir representado pelas associações israelitas brasileiras. Entre seus integrantes estão o professor da PUC-SP Bruno Huberman, a pesquisadora Beatriz Kalichman, a historiadora Branca Zilberleib e o ativista Yuri Haasz.
“A comparação entre genocídios é sempre delicada pois a experiência vivenciada por cada povo afetado é inigualável. Cada um representa uma narrativa singular e dolorosa na história das comunidades vitimadas. Logo, não há como estabelecer qualquer hierarquia entre genocídios. É impossível estabelecer uma métrica objetiva para determinar o 'pior' genocídio da história. Categorizar historicamente vítimas maiores ou menores é uma perigosa armadilha de reprodução de racismo”, pondera o grupo.
Adolf Hitler
O coletivo judaico pontua, ainda, que "as palavras têm poder". "Se a forma como Lula se expressou na ocasião foi pouco cuidadosa — tropeçando justamente neste ninho de comparações forçadas — sua fala tem o objetivo de atingir a imaginação e provocar uma crise moral sobre Israel”. O Vozes Judaicas por Libertação contraria outras instituições judaicas, no país, inclusive de esquerda, que criticaram o presidente.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib), em nota, afirma que o governo Lula "abandona a tradição de equilíbrio e a busca de diálogo da política externa brasileira". "Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista", alega a Conib.
Desde o domingo, Lula enfrenta uma onda de reações após suas declarações recentes comparando a atual matança na Faixa de Gaza por Israel ao genocídio perpetrado por Adolf Hitler contra os judeus. Para o diplomata Celso Amorim, ex-chanceler do Brasil e assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, no entanto, a fala do presidente foi positiva.
Reação
Em uma entrevista coletiva no domingo (18), Lula declarou que "o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus". As palavras desencadearam uma série de ataques, não apenas em Israel, mas também no Brasil, por parte de instituições sionistas e da imprensa conservadora.
Segundo Amorim, "a fala de Lula sacudiu o mundo e desencadeou um movimento de emoções que pode ajudar a resolver uma questão que a frieza dos interesses políticos foi incapaz de solucionar".
Como principal conselheiro de Lula em assuntos diplomáticos, Amorim também criticou fortemente a reação do governo israelense à declaração do presidente brasileiro.
Rabinos judeus ortodoxos do grupo Torah Judaism também aplaudiram o presidente brasileiro e disseram que as ações de Netanyahu são ainda mais graves do que as práticas nazistas.