Passamos administrar uma nova rotina, novos hábitos e proibições, com a obrigatoriedade de ficar dentro de casa, com o convívio social reduzido; uma vida nova sem a permissão dos prazeres vividos e conhecidos, restritos de novidades, sem o que era estabelecido.
Por Simone Oliveira Faro - de Resende (RJ)
Desde que se iniciou a pandemia, vivemos a incerteza de quando vai acabar. Isso gera estresse ao homem moderno que não está acostumado a muitas reflexões.
— Pandemia é stress — declara a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva
Passamos administrar uma nova rotina, novos hábitos e proibições, com a obrigatoriedade de ficar dentro de casa, com o convívio social reduzido; uma vida nova sem a permissão dos prazeres vividos e conhecidos, restritos de novidades, sem o que era estabelecido. Durante eras, construímos a sociedade em que vivemos hoje com um certo conforto, sem precisar garimpar ouro em minas ou cultivar o próprio alimento. Não temos contato interior.
A correria do dia a dia não permite tempo para estarmos com os familiares e amigos. Agora, existe muito tempo, mas não sabemos como o utilizar. Situação essa que nos deixa vulnerável ao adoecimento emocional, sem saber como agir e deixar o vazio deixado por esta lacuna. Muitos de nós aumentamos o consumo de bebida, de comida, como forma de controlar a ansiedade e a depressão desde o início da quarentena.
A princípio, o término seria em maio. Depois, junho. E chegamos em agosto com o conhecimento que não teremos réveillon e ainda sem a prometida vacina.
Sobrevivência
Solidão e angústia são constantes à todos. Inúmeras famílias choram a perda de seus entes. Enterros sem velórios, no mundo todo. Médicos que mais parecem astronautas, enfermeiros mortos. Vivemos o caos, isolados, chocados e sem saber quando isso terá fim. Um cenário desconhecido e assombroso até aqui. O que faremos? O noticiário aponta para mais de 100 mil mortos.
— Vivemos uma sociedade doente. Quanto mais competição melhor. O capitalismo trouxe o individualismo. Não há mais ideal humano. Não sabemos sequer o que nos faz feliz. Mataram os valores reais. Perdemos o conhecimento, mas ganhamos o instinto de solidariedade que é consciência e consciência é luz — declara a psiquiatra, sobre a pandemia.
Sem saber para onde vamos, tentamos nos apoiar e olhar juntos para uma mesma direção. A saída é tentar manter a busca não apenas pela sobrevivência, mas pela auto-reflexão de quem somos. Se a angústia nos torna ansiosos, se o temor nos deixa inseguros, talvez seja a hora de resgatarmos a nós mesmos e aos outros, com dinâmicas outras, com outras importâncias.
Quem sabe, agora, tenhamos a harmonia necessária para refletir sobre isso e tentar um futuro diferente, com mais saúde emocional e espiritual?
Simone Oliveira Faroé jornalista.