Rio de Janeiro, 21 de Dezembro de 2024

A <i>Opus Dei</i> e a eleição do papa

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Quinta, 07 de Abril de 2005 às 15:19, por: CdB

Desde o final dos anos setenta que a nova Idade Media já vinha se desenhando. Hoje usamos a alcunha de Idade Mídia. De qualquer forma, a concentração de capital decorrente de um aumento desmesurado de população é a fonte do problema, tanto hoje quanto na própria Idade Media.
 
Em outras palavras, todas vez que uma região experimenta uma estabilidade que permite o aumento gradativo de população, como nos Estados Unidos, Japão e Europa do pós-guerra, e disso decorre acumulação de capital, em algum momento há um golpe de algum grupo no sentido de se apropriar desse capital.
 
Pode ser de forma sangrenta, de forma truculenta, sem grandes matanças ou simplesmente política. Todo o neoliberalismo mundial é exemplo disso. Da Inglaterra à China, passando pelo Brasil. Seja como for, não existe poder sem organização, poder sem exclusão, poder sem objetivo, sem projeto de poder.
 
Segundo o professor Tamayo-Acosta a estratégia para a eleição foi desenhada pela Opus Dei, com a colaboração do Arcebispo Joseph Ratzinger, dos cardeais americanos Joseph Krol e J. Patrick Cody e do arcebispo de Viena, cardeal Franz König.
 
O centro de operações foi a Villa Tevere, quartel-general da Opus Dei em Roma, onde Wojtyla rezou diante do túmulo do monsenhor Escrivá de Balaguer antes de ir para o conclave que o elegeria Papa.
 
Durante seu pontificado, o Papa desmontou as bases propostas pelo Concílio Vaticano 2º, intensificou a cruzada anticomunista, condenou a modernidade por considerá-la inimiga do cristianismo; e tentou a "restauração" da cristandade por meio da "nova evangelização".
 
Em tudo se pode ver refletido o programa da Opus Dei.
 
A Opus Dei é uma organização católica elitista, implantada em todo o mundo, com uma estrutura hierárquica rígida, enorme poder econômico, disciplina férrea acompanhada de terminologia militar, forte componente proselitista e tendência ao doutrinamento.
 
O mais interessante nessa história toda levantada pelo professor espanhól é que ninguém disse antes dele que um Papa polonês foi eleito porque duas ordens espanholas, a Opus Dei e a Companhia de Jesus, estavam se digladiando.
 
Sabemos que dificilmente os italianos permitiriam que um espanhól fosse papa, nem mesmo que um papa francês assumisse o trono de São Pedro. Hoje a Opus Dei é dona do Banco Santander, que por sua vez comprou o Banespa.
 
Mas lembram como antes de João Paulo II o Vaticano estava falido nas mãos dos cardeais italianos, o escândalo do Banco Ambrosiano etc?
 
Enfim, o resultado final inegável é que num mundo de tantas mortes mediáticas horripilantes, o cadáver do Papa jaz se decompondo sem disfarces via satélite, e todo mundo acha santificado. Belo defunto. Programação normal e o melhor do funeral!

Portanto, se houve um dia um sonho da Era de Aquarius, esse não vingou nem entre os povos mais bem-aventurados. O que parece que está valendo hoje na ordem do dia é quem bate mais. E quem agüenta mais o tranco de apanhar duro, sobrevive.
 
Se os jornais fossem mais investigativos e levassem a cobertura de eleição do novo Papa para verificar se essa história de Opus Dei é de verdade - jesuítas versus Opus Dei, espanhóis versus italianos - não haveria essa histeria que apenas serve aos espertos: a de que Dom Cláudio Hummes é forte candidato.
 
Acho que está cada dia mais claro que não adianta desvelar as coisas apenas para ser bacaninha, ou como fazem alguns intelectuais universitários, para provarem eternamente sua anônima integridade. Quando se faz um discurso como o desse professor espanhól, toma-se partido. E quando se toma partido, principalmente publicamente, aliamo-nos a um grupo com projeto de poder.

Renato Bulcão é professor universitário.

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