A isenção falha do Datafolha
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Quarta, 09 de Abril de 2014 às 11:47, por: CdB
A pesquisa Datafolha resultante do trabalho de campo feito nos dias 2 e 3 de abril de 2014 é um primor de “dirigismo” e deixa várias pontas soltas em seu arrazoado defensivo de que a pesquisa não induz os entrevistados a serem anti-Dilma, anti-PT, anti-Reeleição.
Os próprios resultados mostram discrepâncias internas gritantes.
1 As pesquisas Datafolha dos últimos meses são quase sempre marcadas por um desejo incontido dos entrevistados por mudanças, sendo este pleito um daqueles “pró-mudança” no Palácio do Planalto;
2 As mesmas pesquisas Datafolha costumam identificar que o “a mudança desejada” na condução do Brasil não é quanto ao perfil partidário-ideológico do presidente da República, resultando invariavelmente em baixos índices de intenções de voto nos candidatos oposicionistas, Aécio Neves e Eduardo Campos e uma hipotética variação em que Marina Silva assumiria a cabeça da chapa do PSB;
3 Não precisa ser laureado com um improvável Nobel duplo reunindo Estatística e Ciência Política para perceber que tais fulgurantes inconsistências – qual seja, o brasileiro deseja mudança, mas esta tem que ser com Dilma, Lula e o PT no governo – pode ser muito mais resultado direto da forma como é idealizada os formulários com o conteúdo das questões levadas aos entrevistados. Essas questões pisam e repisam em questões que realçam o mal-estar do brasileiro mediano com a iminência do retorno da inflação, o aumento da criminalidade nos centros urbanos, os protestos populares de junho de 2013 claramente identificados pela grande imprensa como sendo anti-Governo, anti-Dilma, anti-PT, anti-Reeleição;
4 Premidos contra um cenário onde tudo desmorona, onde o futuro parece ser roubado do Brasil, onde são gritantes os sinais de falência do jeito petista de governar e onde o clima de corrupção e suspeição se alternam no noticiário nacional a cada novas 24 horas, fica evidente as técnicas de indução para “fazer a cabeça” dos entrevistados a tornar o pleito 2014 como francamente de oposição e não de continuidade;
5 Concluindo, temos diante dos resultados da última pesquisa Datafolha uma sociedade brasileira bipolar, indecisa, incoerente, insurgente e rebelada contra a atual estabilidade institucional que reina no país: quer porque quer mudar o Governo e quer porque quer continuar com o mesmo governo por novos quatro anos.
6 De duas, uma. O povo, no final das contas, não é bobo: aceita o “encaminhamento” racional levado a ele pelos pesquisadores do Datafolha, rejeita tudo o que é ruim e mal para o Brasil, mas conclui de acordo com suas reais intenções, suas mais sinceras intenções. E estas apontam para um Brasil que vem reescrevendo sua história, fazendo das políticas de inclusão (e justiça) social sua principal bandeira e plataforma política. E tendo na criação de empregos o mais forte contraponto à visão catastrofista há muito esposada pelos mais tradicionais meios de comunicação do país. Por isso, querem desesperadamente mudar tudo para assim manter o mesmíssimo governo, com as mesmas visões, ideais, plataformas e políticas públicas.
Nos últimos dias vemos um esforço do grupo Folha de S.Paulo, à frente o seu Datafolha, para justificar lisura procedimental na aplicação de pesquisas de intenção de votos, avaliação do governo e outros temas de interesse nacional.
Acontece que as explicações oferecidas estão muito longe de convencer.
Como uma pesquisa mostraria isenção se os cenários levados a campo favorecem claramente o Brasil que não dá certo e, por conseguinte, os candidatos da oposição a Dilma Rousseff?
Como fazer de conta que os questionários aplicados pelo Datafolha são nada mais nada menos que um extensão de sua política editorial, seguida à risca por seu noticiário geral e pelos muitos colunistas que – raríssimas exceções – tendem sempre a desgastar a imagem da presidenta, associar seu nome a coisas muito díspares.
Tais associações multidisciplinares associam claramente Rousseff ao ocaso do governo carioca de Sérgio Cabral, à possibilidade de apagões resultantes de escassez de chuvas a abastecer as principais represas do país, à morte de operários na construção do estádio paulista em Itaquera.
E martelam em diversos editoriais que a principal culpada pela compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, era a presidente, pois em 2006 era a presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Deixam de lado, estrategicamente e também corporativamente seus pares no referido Conselho - gente graúda como o peso-pesado da indústria Jorge Gerdau, Fabio Barbosa, presidente do Grupo Abril, que não por acaso edita a revista Veja, antiga ponta-de-lança instrumentalizada pelo conservadorismo para desalojar o Partido dos Trabalhadores do Palácio do Planalto.
A propósito, é sintomático constatar que o jornalismo-embromação continua se “fazendo de morto” ao tomar conhecimento dessas singelas declarações sobre o affair Petrobras-Pasadena e nada fazendo para levar tais declarações ao conhecimento do grande público:
1 - Fábio Barbosa, presidente da Editora Abril, que integrava o Conselho de Administração da Petrobras quando a compra da refinaria no Texas foi aprovada por unanimidade. Disse Barbosa: "A proposta de compra de Pasadena submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, da qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim. A operação foi aprovada naquela reunião nos termos do relatório executivo apresentado."
2 - Claudio Luiz Haddad, economista e empresário, afirma que a diretoria da estatal fez apresentação consistente do negócio e recomendou sua aprovação. Haddad também lembrou que as negociações foram assessoradas pelo Citibank, que deu aval às condições de compra da refinaria. "O Citibank apresentou um 'fairness opinion' (recomendação de uma instituição financeira) que comparava preços e mostrava que o investimento fazia sentido, além de estar em consonância com os objetivos estratégicos da Petrobras dadas as condições de mercado da época", disse.
3 - Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, que ainda mantém cadeira no Conselho de Administração da Petrobras, afirmou que o negócio foi decidido com base em "avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio." Gerdau assevera que ele, ao aprovar em 2006 a operação de compra e 50% de participação na refinaria Pasadena "não tinha conhecimento, como os demais conselheiros, das cláusulas Put Option e Marlim do contrato". A primeira dessas cláusulas obrigou a Petrobras, posteriormente, a comprar 100% a refinaria, o que trouxe prejuízos à estatal.
Para mostrar independência editorial e apartidarismo político não custava à Folha de S.Paulo abrir suas páginas para abrigar longas entrevistas com o trio Barbosa, Haddad e Gerdau. Seria um gesto condizente com seu discurso de “só ter rabo preso com o leitor”, como clamava sua publicidade institucional em décadas passadas.
Depois disso, fica bem mais fácil acreditar no diabo quando declara ser muito chegado no uso diário de água benta que acreditar em um instituto de pesquisa que deixa tantos fios desencapados e espalhados, mas sempre, cuidadosamente, apontando para essa esquisita tendência bipolar da sociedade brasileira.