A Argentina merece um enfoque especial no Festival Internacional de Cinema de Locarno, que chegou a promover um encontro entre um grupo de jovens cineastas argentinos e o público. O filme argentino na competição é de Martin Retjman, considerado um dos precursores, com seu filme Rapado (92), do novo cinema. Numa Argentina, onde Solanas se tornou mito, os novos cineastas deixam o cinema político, numa tentativa para se curarem dos anos de ditaduras militares, mas deixam sempre evidente ser um país com sérios problemas econômicos, que afetam a industria cinematográfica. No seu encontro com a imprensa, Retjman criticou o fato de continuar nas mãos da velha geração, a concessão de subvenções para o novo cinema.
Entrevista com Martin Retjman
Pergunta - Qual a razão de Buenos Aires funcionar no seu filme como uma ilha?
Retjman - Vivo em Buenos Aires, uma cidade da qual para mim é difícil sair. Trata-se de um sentimento pessoal, mas que ao mesmo tempo reflete um pouco a situação da cidade. É difícil se sair de BA porque não existem muitos lugares interessantes nos seus arredores. Quando saio de BA é em avião, para um lugar bem mais longe, seja uma província distante ou para ir ao exterior. Alem disso, apesar dos seus lados cosmopolitas, é uma cidade bastante isolada.
Pergunta - Por que o Canadá é importante no seu filme e não os EUA?
Retjman - Existe sempre uma referência ao Canadá, porque para os argentinos, a Argentina poderia ter sido um Canadá. Isso porque tinha a mesma situação do Canada no começo do século e era um país de imigração, com um grande território e poucos habitantes. Canadá acabou tendo um destino economicamente bom e a Argentina teve um destino desastroso. Além disso, o Canadá não é um pais central e, no filme, é tratado quase que como um país de ficção. Isso já não seria possível com os EUA.
Pergunta - Para os argentinos tudo que é melhor vem do exterior, como o spa no Brasil, e o Canadá seria o melhor país para se ganhar dinheiro?
Retjman - Na Argentina pensa-se sempre que fora é melhor. Muitos querem viver no exterior, embora não possam. Isso se acentuou nestes últimos anos, com as filas diante dos consulados para obtenção de vistos ou nacionalidade. Não é uma emigração das classes baixas, mas da classe média, um fenômeno bem particular.
Pergunta - Alguma razão especial para o título Luvas Mágicas?
Retjman - O filme conta diversas histórias, não há uma história central, na verdade a única coisa central é a relação de Alejandro com seu automóvel, até aparecerem as luvas, que poderiam tudo mudar para o melhor, mas finalmente mudam tudo para pior.