A gripe aviária tucana

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Publicado sábado, 2 de setembro de 2006 as 14:49, por: CdB

No auge da crise do mensalão, parte da mídia decretou o fim do PT e afirmou, sem esconder uma ponta de alegria, que o partido não poderia sobreviver a tamanho desastre ético e político. Essa possibilidade começou a ser derrubada na prática com a demonstração de vitalidade e resistência dada pela militância petista no PED (Processo de Eleições Diretas) que mobilizou centenas de milhares de pessoas para escolher a nova direção partidária em todo o Brasil. Ainda assim, a derrocada do PT continuou e continua a ser anunciada. O atual cenário das pesquisas de opinião, que sugere a reeleição de Lula ao mesmo tempo em que o PT está fora da disputa pelo governo na maioria dos estados, serve de argumento
para os que vêem o partido como um doente terminal.

Curiosamente, uma boa parcela dos mesmos “formadores de opinião” que tiveram agudez de raciocínio para entender com rapidez a agonia petista parece não estar percebendo que o andar da carruagem da conjuntura política nacional aponta para um lugar muito perigoso para outra agremiação: o PSDB. Ou pelo menos para aquele grupo de políticos, a maioria de São Paulo, que nos acostumamos a ver como dirigentes e figuras públicas mais importantes do PSDB. É verdade que os sintomas da doença do partido ainda não são perceptíveis, mas o risco encubado é
enorme, assim como a possibilidade de epidemia num eventual segundo mandato de Lula. Algo como um vírus de gripe aviária política que, se sofrer a mutação mais perigosa, pode fazer estragos entre os mais emplumados tucanos.

O principal problema interno da cúpula do PSDB hoje é a profunda insatisfação alimentada por tucanos de diversos estados contra a seção paulista do partido, que – assim como acontece no PT – sempre deu as cartas. Essa força natural, pois o partido nasceu de uma dissidência do PMDB em São Paulo, cresceu e consolidou-se nos oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso, mas agora é diretamente questionada. A imposição de duas candidaturas que redundaram em derrota – a de José Serra em 2002 e, ao que tudo indica, a de Geraldo Alckmin em
2006 – minou a liderança paulista no PSDB.

Para quem não se lembra, há quatro anos Serra, com o apoio do ainda forte FHC, só confirmou sua candidatura à Presidência depois de tirar do páreo o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati, numa luta que jamais teve as suas cicatrizes completamente fechadas. Dessa vez, apesar da disputa ter ocorrido entre dois paulistas, a opção por Alckmin acabou desagradando profundamente a algumas bancadas parlamentares e seções regionais do partido – sobretudo no Nordeste – que enxergaram na decisão da cúpula tucana um arranjo entre paulistas (Serra acabou virando candidato ao governo de SP) que favorece a reeleição de Lula. Caso a vitória do petista se confirme, a tendência dos tucanos descontentes é disputar a direção do partido. Se perderem, a saída do PSDB não está descartada. Nesse grupo estão hoje importantes políticos, como o próprio
Tasso e os governadores Cássio Cunha Lima (Paraíba), Marconi Perillo (Goiás) e Lúcio Alcântara (Ceará), entre outros.

Outro sintoma encubado muito perigoso para os tucanos de alta plumagem são as discussões em torno do projeto de concertação nacional, que hoje tem como principal palco o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e como arauto o ministro Tarso Genro. A idéia de concertação, mesmo “tendo surgido na sociedade e não no governo” como lembra o ministro, traz em si o germe de um acordo político-eleitoral que – para desespero tanto de alguns tucanos quanto de muitos petistas – pode se valer da alternância programada na Presidência para, na verdade, perenizar no poder um grupo hoje espalhado principalmente por PT, PSDB
e PMDB.

Há quem defenda no governo federal e mesmo na direção nacional do PT que, se reeleito, Lula apóie em 2010 um nome tucano ou peemedebista que seja capaz de aglutinar forças e vencer tranqüilamente as eleições daqui a quatro anos. Ne