Um dia cheio de emoção. Assim pode-se traduzir a passagem do presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, pelo Rio de Janeiro. Ele começou a série de visitas a ''companheiros de ontem, hoje e sempre'', pelos economistas Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares, em Copacabana, onde também encontrou os juristas Evandro Lins e Silva e Raimundo Faoro. Este último está internado no Hospital Copa D'Or. Tanto Celso Furtado quanto Conceição Tavares evitaram assuntos relativos ao sobe-desce do dólar, das taxas de juros ou contratos com o FMI. - Isso ele está cansado de saber - disse Furtado. Durante cerca de 40 minutos, o tema preferido dos três companheiros de campanhas políticas ''foi o desenvolvimento do Brasil'', completou Conceição. - Tratamos do esforço que precisará ser feito entre o Banco do Brasil, o Itamaraty e o BNDES para conseguir que as exportações cresçam e possam ser financiadas. Esta foi a única restrição externa de que tratamos. No mais, cuidamos de soluções para a casa própria, a distribuição de água e o saneamento, questões que atingem a maioria do povo brasileiro - continuou Conceição, que descartou sua presença no próximo governo. Lula também fez questão de dar um abraço em dona Maria Amélia, viúva do historiador Sérgio Buarque de Hollanda. O filho, compositor Chico Buarque de Hollanda, soube da visita e aproveitou também para mandar por telefone, de Paris onde se encontra, um abraço ao presidente que toma posse em janeiro do ano que vem. Com ela estavam as sobrinhas Miucha, Silvia e Luiza Buarque de Hollanda, cantora e atriz. - Ele já sabe de tudo - disse dona Maria Amélia, após se despedir do presidente eleito, pouco antes de ele se dirigir ao Leblon, para encontrar o comunista histórico Apolônio de Carvalho, com quem conversou por cerca de meia hora. Pouco antes, durante o almoço no hotel Copacabana Palace, Lula já tinha conversado com o ex-presidente de Portugal e deputado do parlamento europeu, Mário Soares, com quem voltou a se reunir, à tarde, no Hotel Glória, onde também fez um rápido pronunciamento, o primeiro depois que foi eleito. - Essa visita ao Rio teve como objetivo um agradecimento histórico a algumas personalidades. Parte delas há quase um século estão brigando pelas conquistas democráticas do Brasil, pelos direitos humanos e pela construção de um país mais justo, mais fraterno, mais solidário - disse, em um dos auditórios do hotel, longe dos abraços que recebeu ao longo do dia, por onde quer que passasse, em meio às buzinas e sirenes do trânsito que parava para a comitiva presidencial passar. Lula, em seu pronunciamento, frisou que fez questão cumprimentar aqueles que têm ''muito a ver'' com as coisas que o motivaram a lutar pelo país. - Minha vitória, na verdade, começou a ser construída há muitos anos. Eu não havia nascido ainda e alguns deles já estavam lutando pela justiça social. Minha vitória foi o coroamento da luta que estes companheiros, alguns há 70 anos, começaram a fazer neste país. Fiz questão de convidar a todos para que, dia 1º de janeiro, estejam em Brasília. Aí sim, seria o coroamento da vida dessas pessoas que tanto dedicaram às liberdades no Brasil. Saio satisfeito. Vou cuidar agora da transição, mas me sinto realizado por ter cumprido essa tarefa de visitar meus antigos, atuais e eternos companheiros de luta pelas liberdades democráticas - concluiu.