Salah Hassan parece triste e cansado. O cameraman da Al Jazeera, de 33 anos, pai de dois filhos, conta a história de sua prisão em banheiro imundo. Com uma xícara de chá, no lobby do hotel onde está baseada a sucursal da emissora em Bagdá, ele lembra do dia 3 de novembro do ano passado, quando deixou a redação para cobrir um ataque a bomba a um comboio dos Estados Unidos em Dialah, no lado oeste de Baquba, na Grande Bagdá.
Quando ele estava entrevistando as pessoas, na cena dos acontecimentos, soldados dos EUA, que haviam previamente fotografado Hassan em um outro evento coberto por ele, levaram-no para a central de polícia, interrogaram-no e repetidamente o acusaram de saber, com antecedência, do ataque a bomba, e de estar mentindo que havia chegado depois do fato.
- Eu disse a eles que revisassem meus tapes, pois alí estava claro que eu somente havia chegado cerca de 30 ou 40 minutos depois das explosões. Eles me chamaram de mentiroso - disse Hassan.
De Baquba, Hassan disse que eles o levaram para uma base, no Aeroporto Internacional de Bagdá, onde foi aprisionado em um banheiro por dois dias. Depois desta estada, foi levado para Titkit, distante cerca de 500 km de lá. Mais dois dias em um outro banheiro e ele foi levado, em um caminhão de cinco eixos de um outro comboio para Abu Ghraib, uma prisão construída no tempo de Saddam Hussein. Hoje as instalações servem como centro principal de dentenção para cerca de 13 mil prisioneiros.
Neste ambiente, Hassan conta que foi saudado por soldados dos Estados Unidos, ao som de Parabéns pra Você, depois despido e teve uma etiqueta presa ao pulso com apenas a credencial de "Boy or bich da Al Jazeera". Desta forma, ele foi deixado por 11 horas ao relento, em plena e gelada madrugada do outono iraquiano.
Na manhã seguinta, foi acordado aos chutes por soldados norte-americanos, que lhe trouxeram uma camiseta suja que o obrigaram a vestir..Era vermelha e tinha uma mancha ainda fresca do vômito de uma outra pessoal. Ali mesmo ele foi interrogado por dois outros norte-americanos, em roupas civis, de quem ouviu as acusações costumeiras, tanto a ele quanto à Al Jazeera, de que são colaboradores dos "terroristas".
Neste meio tempo, uma rede de amigos contratou um advogado de alta patente, chamado Hider Nur Al Mulha para começar a trabalhar no sentido de libertar o prisioneiro. O caso chegou à Suprema Corte do país. Salah Hassan, apesar da enxurrada de evidências, após 15 dias de prisão, foi novamente levado para a cadeia, de onde saiu apenas no dia 25 de janeiro.
O exército norte-americano não respondeu aos vários pedidos de explicação sobre o tour em Abu Ghaib, nem aos numerosos e-mails da reportagem do jornal The Nation, com sede em Washington. O único porta-voz militar que se pronunciou sobre o caso foi o tenente-coronel Daniel Williams, das Forças de Coalisão:
- A Al Jazeera é uma organização noticiosa profissional e sempre bem-vinda - afirmou.
Tradução: Gilberto de Souza