Por que os políticos tucanos e de plumagens similares não falam mais abertamente em privatizações, um tema caro ao seu ideário econômico? Há uma resposta óbvia a tal questão e que consiste em lembrar a derrota que sofreram nas urnas em 2002. Isso não significa, porém, que deixaram de pensar no assunto ou que varreram essa proposta de seus programas partidários. Hoje, a palavra "saiu de moda", mas, volta e meia, algum político ou economista não resiste e abre o seu coração. Isso aconteceu recentemente com o candidato Geraldo Alckmin. Em entrevista ao jornal O Globo, admitiu que pretende retomar a política de privatizações implementada pelo governo FHC. Alckmin citou os bancos estaduais entre suas prioridades: "A maioria já foi privatizada, mas deveriam ser todos. Tem muita coisa que se pode avançar. Susep, sistema de seguros, tem muita coisa que se pode privatizar", reconheceu.
Nesta mesma entrevista, Alckmin foi perguntado se os Correios estariam nesta lista de "muita coisa que se pode privatizar". A resposta foi evasiva, mas deixou a porta aberta para a iniciativa: "Correios acho que teria que amadurecer um pouco", disse. Amadurecer um pouco, tomando a expressão em seu sentido mais básico, significa dizer que a empresa ainda está "verde" e precisa esperar um pouco para ser "colhida". É sintomático que, no discurso da campanha eleitoral, essas declarações permanecem no subterrâneo do discurso. Ocorre o mesmo no Rio Grande do Sul, onde a candidata tucana Yeda Crusius não fala em privatizar mas sim em implementar um "novo jeito de governar". Mas ela escolheu como seu vice de chapa, o empresário Paulo Feijó (PFL), que já defendeu publicamente a privatização do Banrisul e inclusive de escolas estaduais. Assim como a palavra "privatização" não aparece no discurso de Yeda, seu vice permaneceu escondido na propaganda de televisão no primeiro turno.
O Estado perfeito, segundo Paulo Feijó
Alguns partidários e apoiadores das candidaturas tucanas dizem que associá-las ao tema das privatizações é uma mentira e que nada disso está em seus planos. O que conspira contra essa opinião são as declarações dos próprios candidatos. A entrevista de Alckmin ao Globo é clara e sem ambigüidades. Mais ainda as idéias expressas por Paulo Feijó. Logo após assumir a presidência da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do RS (Federasul), em 2004, Feijó disparou uma saraivada de críticas contra o governo Rigotto, apresentando sua receita para a gestão do Estado: "o Estado deve deixar de participar de atividades que não dizem respeito a ele. O estado precisa prover à sociedade segurança e liberdade, talvez transporte coletivo, mas não uma Procergs (companhia de Processamento de Dados do RS), não uma CEEE (companhia pública energética). Nós temos iniciativa privada para estas atividades, que podem oferecer ao consumidor e ao público preços mais competitivos via licitação. Não compete ao estado operar nestes casos", disse Feijó ao jornal Diário Popular (30/05/2004).
Mas o entusiasmo privatista de Feijó não pára por aí. Na mesma entrevista, ele apresentou sua concepção de mundo perfeito: "Eu quero a competição, quero ter a liberdade de optar de quem comprar combustível, de quem comprar energia, de quem comprar telefone, de quem comprar água. Eu quero que seja promovida a competição, a competição é que traz eficiência e menores preços ao mercado. A partir do momento em que você só pode comprar de um não interessa se é do estado ou não, está errado. Interessa é melhor qualidade, menor preço e variedade de oferta". Ou seja, nem a água escapa de seus planos. O que é sintomático, neste e em outros casos, é o esforço em tentar ocultar seus discursos e seus agentes. Ainda no RS, o deputado federal Eliseu Padilha (PMDB), ex-ministro dos Transportes do governo FHC, partidário das privatizações de longa data e articulador da campanha de Alckmin, condicionou o apoio de seu partido a Yeda Crusius a um compromisso público contra a propos
A agenda da privatização morreu?
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Quarta, 04 de Outubro de 2006 às 10:51, por: CdB