França, Grã-Bretanha e Alemanha estudam a possibilidade de permitir que o Irã mantenha tecnologia nuclear que pode ser usada na fabricação de bombas atômicas, disseram diplomatas na quarta-feira, sinalizando a possibilidade de um acordo com Teerã.
Isso levaria a um confronto entre os três grandes países da Europa e os Estados Unidos, que vêm apoiando a iniciativa de negociação da União Européia (UE) com a condição de que Teerã renuncie a todas as atividades destinadas a produzir combustível nuclear.
Mas um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA minimizou as declarações dos diplomatas, dizendo que Washington e os três europeus ainda estão unidos na insistência para que o Irã abandone as tecnologias estratégicas.
Tanto os EUA quanto o trio europeu suspeitam que o Irã pretenda fabricar armas nucleares. Os europeus ofereceram incentivos políticos e econômicos para que a república islâmica suspenda seu programa de enriquecimento de urânio, um processo que pode gerar combustível para usinas nucleares, mas também para bombas atômicas. O Irã diz que seu programa nuclear é exclusivamente civil.
Anteriormente, a UE dizia que só iria aceitar o fim do programa de enriquecimento, mas agora diplomatas dizem que é possível que o país possa continuar com um programa limitado desse tipo.
"Os iranianos estão oferecendo isso há muito tempo. A novidade é que a UE está pensando a respeito", disse um diplomata com acesso às negociações.
Uma proposta negociada em Paris, na semana passada, foi de que o Irã possa manter até 500 centrífugas (as máquinas que enriquecem o urânio), segundo diplomatas. É uma quantidade insuficiente para a produção de combustível para bombas, e mesmo assim o equipamento seria atentamente vigiado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU).
"A UE não disse que sim, mas não disse que não", disse o diplomata.
O urânio seria enriquecido de forma a conter não mais de 3,5 por cento do isótopo urânio-235. Para a fabricação de bombas, o material precisa ter cerca de 90 por cento desse isótopo.
Outros diplomatas confirmaram que a UE está considerando a proposta iraniana, mas enfatizaram que isso não significa sua aceitação. "As idéias que eles (iranianos) apresentaram não eram realmente aceitáveis, mas dissemos que voltaremos a elas", disse um diplomata do trio europeu.
Mas o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Adam Ereli, disse que a UE não está considerando um acordo. "Nós e os três da UE continuamos unidos na opinião de que só o total cesse e desmantelamento das buscas do Irã pelo ciclo nuclear sensível pode fornecer o tipo de confiança que estamos procurando."
O apoio norte-americano é vital para os incentivos oferecidos pela UE ao Irã, como a adesão do país à Organização Mundial do Comércio (OMC) e a autorização para que ele compre peças avulsas para a aviação comercial.
Negociações informais entre a UE e o Irã foram inicialmente marcadas para 29 de abril em Londres, segundo os diplomatas. Antes, haverá negociações em menor escalão em Genebra.
Um diplomata disse que a França parece disposta a aceitar um acordo sobre o enriquecimento de urânio, que a Grã-Bretanha se opõe veementemente e que a Alemanha adota uma posição intermediária.
A disposição européia em ceder pode ser uma tática para incentivar os políticos iranianos que defendem as negociações com a UE. O Irã terá eleições presidenciais em junho. "Mesmo discutir isso com a UE é considerado uma vitória para os iranianos", disse um diplomata.