Monet foi um dos fundadores e principais expoentes do movimento impressionista, revolucionando a história da arte com sua abordagem inovadora da luz e da cor.
Por Redação, com ABr – de São Paulo
No ano em que discute as Histórias da Ecologia, tema escolhido para todo este ano, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) apresenta duas novas mostras exposições: uma dedicada ao pintor francês Claude Monet (1840-1926) e outra sobre o artista polonês, que viveu grande parte de sua vida no Brasil, Frans Krajcberg (1921–2017). As mostras podem ser visitadas pelo público a partir desta sexta-feira.

A primeira delas, chamada de A Ecologia de Monet, faz uma leitura contemporânea sobre a relação do pintor com a natureza, apresentando 32 trabalhos impressionistas do artista, que revelam diferentes momentos de sua relação com a paisagem e o meio ambiente. A maioria dessas obras jamais havia sido mostrada no hemisfério sul.
– A exposição A Ecologia de Monet propõe uma leitura contemporânea da obra do artista, com foco na forma como ele representou a natureza e a paisagem em um momento em que a França vivia acelerado processo de industrialização e de expansão do turismo – disse o curador Fernando Oliva, em entrevista à Agência Brasil. “Nós trazemos essa discussão a partir do ponto de vista da ecologia. É claro que esse é um partido contemporâneo, que diz também sobre nossas preocupações atuais com a progressão da crise climática, causada por um modo de vida baseado na exploração da natureza. No entanto, a inquietação com os impactos negativos da ação humana sobre o meio ambiente remonta ao próprio período em que Monet produzia suas obras. É justamente nesse contexto histórico que começam a circular os escritos de Charles Darwin, contribuindo para a popularização do entendimento de que existe uma íntima conexão entre todos os seres vivos do planeta”, acrescentou o curador.
Monet foi um dos fundadores e principais expoentes do movimento impressionista, revolucionando a história da arte com sua abordagem inovadora da luz e da cor. Ao longo de sua carreira, dedicou-se a capturar os efeitos transitórios da luz sobre a paisagem, muitas vezes pintando o mesmo motivo em diferentes horários e condições atmosféricas.
– Durante muito tempo, dentro da hierarquia estabelecida pela Academia de Belas Artes francesa, a paisagem era considerada um gênero menor, subordinado à pintura histórica, que reunia temas mitológicos, religiosos e eventos heroicos, e à pintura de retrato. Essa visão começou a mudar ainda antes de Monet, com uma geração anterior de artistas que, impulsionados por transformações técnicas e sociais, passaram a se dedicar com mais liberdade à observação e a representação da natureza. Mas, nas obras de Monet, nota-se uma imersão ainda mais totalizante na paisagem pintada. A natureza não é apenas retratada: ela é vivenciada, explorada em suas mutações contínuas, em seus reflexos, neblinas, sombras e brilhos – explicou o curador.
Para apresentar as obras de Monet, a mostra foi dividida em cinco núcleos pelos curadores Adriano Pedrosa e Fernando Oliva e que tem assistência de Isabela Ferreira Loures.
Um dos núcleos foi chamado de O Sena Como Ecossistema e aborda a água como um elemento de destaque na produção de Monet. Como viveu parte de sua vida na cidade de Havre, onde o Rio Sena deságua no Oceano Atlântico, o artista desenvolveu uma relação profunda com as paisagens fluviais, que também expressam os hábitos sociais e o processo de industrialização.
O segundo núcleo trata sobre Os Barcos de Monet, no qual as barcas são mostradas de pontos de vista elevados, eliminando a noção de uma linha do horizonte. Em seguida aparece o núcleo Neblina e Fumaça, que mostra como o artista representou as transformações urbanas e industriais de seu tempo, evidenciando, por exemplo, o ar carregado pela fumaça liberada pelas indústrias que foram instaladas às margens do Rio Tâmisa.
O Pintor e o Caçador é o quarto núcleo, que parte das caminhadas do artista à procura de boas vistas para pintar. A mostra se encerra com o núcleo Giverny: Natureza Controlada, produzidas no refúgio que criou nos jardins de sua propriedade na cidade de Giverny.
– Monet criou paisagens que constituíam sistemas ecológicos em si, em uma espécie de desejo de controle e recriação do ambiente natural. Dando forma a esse esforço, durante as últimas décadas de vida ele se dedicou ao mais ambicioso projeto de seu percurso: representar os jardins ao redor de sua casa em Giverny, com seu célebre jardim aquático, que também lhe forneceu os temas mais emblemáticos de produção como as ninféias e a ponte japonesa – disse o curador.
Frans Krajcberg
Com curadoria de Adriano Pedrosa e Laura Cosendey, a exposição Frans Krajcberg: Reencontrar a Árvore apresenta panorama abrangente da produção do artista, reunindo mais de 50 obras entre esculturas, relevos, gravuras e pinturas de grandes dimensões ou em formatos que desafiam o convencional.
Nascido na Polônia e de origem judaica, Krajcberg perdeu toda sua família durante o Holocausto. Chegou ao Brasil nos anos de 1950 e naturalizou-se brasileiro, vivendo parte de sua vida em um sítio em Nova Viçosa (BA), cercado pela Mata Atlântica.
Artista multifacetado, seu trabalho é muito centrado na exploração de elementos da natureza e no ativismo ecológico, associando arte e defesa do meio ambiente: suas esculturas, por exemplo, se caracterizam pelo uso de troncos e raízes carbonizadas recolhidas em desmatamentos e queimadas.
Krajcberg já foi tema do programa Expedições, da TV Brasil, que pode ser visto na internet. Em um trecho do programa, o artista definiu seu trabalho como um grito da natureza.
– A minha vida é essa: gritar cada vez mais alto contra esse barbarismo que o homem pratica – disse.
Masp
A mostra dedicada a Monet fica em cartaz no Masp até o dia 24 de agosto. Já a de Frans Krajcberg se encerra no dia 19 de outubro.
O Masp tem entrada gratuita às terças-feiras e também nas noites de sexta-feira, a partir das 18h. Para visitá-lo é obrigatório o agendamento online no site do museu.