Rio de Janeiro, 24 de Abril de 2025

Congresso debate tratamento à autistas no sistema prisional

Congresso discute projeto para tratamento de autistas no sistema prisional, mas falta de infraestrutura de saúde pode comprometer a eficácia.

Segunda, 14 de Abril de 2025 às 14:38, por: Redação Brasília
Por Redação, com sucursal Brasília por Vitoria Carvalho

“Projeto de Lei propõe tratamento para autistas no cárcere, mas saúde precária nos presídios ameaça sua eficácia”

Congresso debate tratamento à autistas no sistema prisional | Deputado Amon Mandel (Cidadania-AM). Crédito: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Deputado Amon Mandel (Cidadania-AM). Crédito: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O debate que busca garantir tratamento especializado para autistas no sistema prisional é, em tese, um avanço necessário. No entanto, ele esbarra em um problema crônico: a falta de estrutura básica de saúde nos presídios brasileiros, que já falha em atender até mesmo demandas primárias, como atendimento médico, medicamentos e higiene.

A Câmara dos Deputados está analisando um projeto de lei que busca garantir atendimento especializado para pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) dentro do sistema prisional. A proposta, de autoria do deputado Amom Mandel (Cidadania-AM), prevê terapias, assistência psicológica e programas de ressocialização adaptados às necessidades dos presos.

O que propõe o PL 4461/24?

O projeto altera a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista para incluir medidas específicas no ambiente carcerário. Entre as principais diretrizes estão:

– Atividades educativas e terapêuticas adaptadas;

Continue lendo

– Acompanhamento psicológico e ocupacional;

– Programas de reintegração social voltados para as particularidades do autismo;

– Capacitação de agentes penitenciários e profissionais de saúde para lidar com pessoas com TEA.

Por que a medida é necessária?

Mandel argumenta que, apesar de a legislação já garantir direitos às pessoas com deficiência, os autistas enfrentam desafios únicos no sistema prisional. Muitos têm hipersensibilidade sensorial, dificuldades de comunicação e comorbidades associadas, como ansiedade e depressão, agravadas pelo ambiente de confinamento.

“O sistema prisional atual não está preparado para lidar com as especificidades do autismo. Sem adaptações, essas pessoas ficam ainda mais vulneráveis a violações de direitos”, afirma o parlamentar.

Próximos passos

O projeto será analisado em caráter conclusivo pelas comissões de:

1. Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado;

2. Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência;

3. Constituição e Justiça e de Cidadania.

Se aprovado na Câmara, seguirá para o Senado antes de virar lei. A proposta surge em um contexto de discussões sobre humanização do sistema prisional e inclusão de grupos vulneráveis.

Impacto social

Especialistas em direitos humanos e inclusão defendem que a medida pode reduzir a revitimização de autistas no cárcere e melhorar suas chances de reinserção na sociedade. No entanto, críticos questionam a viabilidade operacional, já que muitos presídios brasileiros sequer oferecem condições básicas de saúde.

A proposta pode trazer visibilidade a uma população invisibilizada, mas será inócua sem um plano concreto para superar as deficiências do sistema. Antes de criar novas leis, o poder público precisa responder: como implementá-las em presídios que mal conseguem fornecer sabão ou remédios para infecções simples? A matéria, portanto, deveria pressionar não apenas a aprovação do PL, mas também a cobrança por orçamento, capacitação de servidores e mudanças estruturais. Do contrário, o texto da lei será só mais uma promessa vazia em um sistema que já fracassou em garantir o básico.

Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo