Rio de Janeiro, 04 de Maio de 2025

Queiroz pode ser preso a qualquer momento e entregar Bolsonaro

Nas mensagens recuperadas pela polícia, a ex-servidora se arrepende de ter recebido dinheiro ilícito, depositado em sua conta por Fabrício Queiroz, suspeito de cometer crimes em série por ordem do filho ’01’ de Bolsonaro.

Quinta, 19 de Dezembro de 2019 às 13:09, por: CdB

Nas mensagens recuperadas pela polícia, a ex-servidora se arrepende de ter recebido dinheiro ilícito, depositado em sua conta por Fabrício Queiroz, suspeito de cometer crimes em série por ordem do filho ’01’ de Bolsonaro.

 
Por Redação - de Brasília e Rio de Janeiro
  Ex-mulher de Adriano Nóbrega, um miliciano perigoso e foragido da Justiça, a ex-assessora de gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), hoje senador sem partido, Danielle Mendonça teve seu celular apreendido durante a operação que investigou a atuação de milicianos na Zona Oeste do Rio. Em face do conteúdo descoberto, Fabrício Queiroz, ex-assessor da família Bolsonaro, pode ser preso a qualquer momento.
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Filho '01' de Bolsonaro, Flávio é apontado como chefe do esquema de corrupção
Nas mensagens recuperadas pela polícia, a ex-servidora se arrepende de ter recebido dinheiro ilícito, depositado em sua conta por Fabrício Queiroz, suspeito de cometer crimes em série por ordem do ex-patrão, o filho ’01’ do presidente da República, Jair Bolsonaro. A partir deste contexto, a ex-mulher do miliciano acusado de pertencer ao grupo de extermínio Escritório do Crime e foragido desde o ano passado passa à condição de uma das principais linhas da investigação, em curso. Em uma das mensagens, Fabrício Queiroz envia para Danielle o contracheque dela, para que fizesse seu imposto de renda. É um indício, segundo o MP, de que ela sequer comparecia ao gabinete.

Problemas

Em outro texto, ela diz a uma amiga que há muito tempo vinha “incomodada com a origem desse dinheiro”. A conversa aconteceu em janeiro deste ano. No mesmo mês, Danielle conversou por mensagem com outra amiga, que confirmou a ilicitude dos pagamentos que recebia. Identificada apenas como “Paty”, a amiga da mulher de Adriano lembra a Danielle que foi o marido que havia conseguido uma nomeação como funcionária fantasma na Alerj e, por isso, ela poderia “ter se enrolado” com a Justiça. Ainda segundo o inquérito policial, vazado para a mídia conservadora, as mensagens de Danielle mostraram conversas entre a ex-assessora e Queiroz falando sobre a intenção de continuar com o esquema ilícito em 2019. No entanto, com a publicação da reportagem sobre as movimentações atípicas detectadas pelo Coaf, Danielle é exonerada da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), em janeiro. Na conversa, Queiroz adverte a ex-assessora: “Tá havendo problemas. Cuidado com que vai falar no celular”.

Amigos

O último contato de Queiroz com Danielle por WhatsApp ocorreu em 16 de janeiro. De acordo com o MP, apesar de algumas mensagens terem sido apagadas, é possível entender que Queiroz pergunta se a ex-assessora foi chamada a depor pelo Ministério Público e a orienta a faltar o depoimento. “Chamaram sim”, escreve Daniella, que responde a outra pergunta, adiante, apagada por Queiroz: “Um policial veio aqui na quinta-feira passada. Amanhã será o dia do depoimento”. Queiroz, então, manda mais algumas mensagens, também apagadas. A ex-assessora, por fim, sugere que conversou com advogados: “Eu já fui orientada. Ontem eu fui encontrar os amigos”.

‘Rachadinha’

No processo, em fase de investigações, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) afirma ter indícios de que o senador Flávio Bolsonaro e sua mulher, Fernanda, pagaram em dinheiro vivo de forma ilegal R$ 638,4 mil na compra de dois imóveis em Copacabana (Zona Sul da Cidade). Segundo os promotores, o uso de recursos em espécie tinha como objetivo lavar o dinheiro obtido por meio da "rachadinha" no antigo gabinete de Flávio na Alerj, que consiste em coagir servidores a devolver parte do salário para os deputados. A informação sobre os imóveis consta do pedido de busca e apreensão de 111 páginas feito pelo MP-RJ à Justiça fluminense, autorizado e cumprido em operação realizada na véspera. A suspeita dos promotores decorre do fato de Glenn Dillard, responsável por vender os imóveis a Flávio e Fernanda, ter depositado ao mesmo tempo em sua conta os cheques entregues pelo casal e a quantia em dinheiro vivo. No dia 27 de novembro de 2012, Flávio e a mulher compraram dois imóveis em Copacabana. A escritura aponta o valor da operação como sendo de R$ 310 mil. O pagamento ocorreu em duas etapas. Primeiro, foi feito um sinal de R$ 100 mil pago em cheques no dia 6 de novembro. Dois cheques (que somam R$ 210 mil) foram entregues na data da assinatura da escritura. Além do volume movimentado, chamou a atenção dos investigadores a forma com que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo em datas próximas do pagamento de servidores da Assembleia do Rio.

Voz de prisão

Diante da série de denúncias e evidências colhidas durante as operações policiais, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) cobrou, nesta quinta-feira, a prisão de Flávio Bolsonaro. Ele disse ainda que o esquema de corrupção constrange Sergio Moro. Pimenta refere-se, entre outros atos suspeitos do senador ’01’, a sociedade em uma franquia de uma rede de chocolates, alvo de busca e apreensão do MP-RJ. O advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef, confirmou em nota a batida em um dos endereços do seu cliente. “Recebemos a informação sobre as novas diligências com surpresa, mas com total tranquilidade. Até o momento, a defesa não teve acesso a medida cautelar que autorizou as investigações e, apenas após ter acesso a esses documentos, será possível se manifestar”, disse. “Confirmo que a empresa do meu cliente foi invadida, mas garanto que não irão encontrar nada que o comprometa. O que sabemos até o momento, pela imprensa, é que a operação pode ter extrapolado os limites da cautelar, alcançando pessoas e objetos que não estão ligados ao caso”, afirmou.

Salários

Frente às informações reunidas, no inquérito, o MP-RJ cogita o pedido de prisão a Fabrício Queiroz e ao miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega. Ambos “tentaram embaraçar” a investigação sobre peculato e lavagem de dinheiro envolvendo o hoje senador. Segundo os promotores, ambos determinaram que Danielle Mendonça possa ter sido funcionária fantasma e faltado ao depoimento para o qual havia sido convocada pelo MP-RJ, tomando cuidado ao falar no celular, para não expor o esquema do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, acrescenta a reportagem. O MP informou, ainda, que os parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, que constaram como assessores de Flávio Bolsonaro "sacavam quase a integralidade dos salários recebidos na Alerj para repassar os valores em espécie a outros integrantes da organização criminosa". O total recebido pelos 9 integrantes da família que tiveram o sigilo quebrado é de R$ 4,8 milhões. Segundo a Procuradoria, esses parentes, que então moravam em Resende (RJ), sacaram 4 milhões de reais, o equivalente a 83% da remuneração paga.

‘Nada com isso’

Com base no noticiário desta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro insinuou que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, estaria por trás da operação de busca e apreensão em endereços ligados ao filho ’01’ e ex-assessores. Ao ser questionado sobre se havia uma armação contra Flávio, Bolsonaro citou uma suposta gravação contra ele, que teria sido armada por Witzel. — Vocês sabem do caso do Witzel comigo. Vocês sabem do caso do Witzel. Foi amplamente divulgado, a inteligência levantou, já foi gravada a conversa de dois marginais citando meu nome, para dizer que eu sou miliciano. Armaram — afirmou Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada. Enquanto cumprimentava apoiadores, Bolsonaro foi questionado sobre a operação de quarta-feira, mas afirmou que só falaria sobre questões indígenas. Depois, ao se aproximar de jornalistas, disse que só não fala por si mesmo e que não tem "nada a ver" com problemas de outras pessoas. — Eu respondo por mim — concluiu.
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