Dentro de pouco mais de quatro meses, os franceses irão às urnas escolher o presidente. Já existem 13 candidaturas confirmadas, representando as diversas tendências políticas. O atual presidente Emmanuel Macron deverá pleitear sua reeleição em janeiro, enquanto o mais ativo e turbulento pré-candidato, o nacionalista franco-atirador Éric Zemmour, racista, islamofóbico e anti-imigração, acaba de oficializar sua participação.
Por Rui Martins
Jornalista de televisão, conhecido polemista, escritor de livros políticos com venda na casa do milhão de exemplares, Zemmour estava sendo o mais ativo, o mais popular, o mais entrevistado, o mais amado e o mais odiado de todos os pretendentes ao Eliseu.
Em plena campanha há meses, aproveitando o lançamento de seu livro A França não disse a última palavra, Zemmour vinha de debates e dando entrevistas por todo país, mas sem se declarar candidato.
Embora haja sido considerado capaz de chegar ao 2º turno e seu nome tenha subido nas pesquisas eleitorais, ele parece ter alcançado o seu limite máximo de popularidade nos 15%, dando agora sinais de um corredor de maratona perdendo o fôlego.
Jornalista de televisão, conhecido polemista, escritor de livros políticos com venda na casa do milhão de exemplares, Zemmour estava sendo o mais ativo, o mais popular, o mais entrevistado, o mais amado e o mais odiado de todos os pretendentes ao Eliseu.
Em plena campanha há meses, aproveitando o lançamento de seu livro A França não disse a última palavra, Zemmour vinha de debates e dando entrevistas por todo país, mas sem se declarar candidato.
Embora haja sido considerado capaz de chegar ao 2º turno e seu nome tenha subido nas pesquisas eleitorais, ele parece ter alcançado o seu limite máximo de popularidade nos 15%, dando agora sinais de um corredor de maratona perdendo o fôlego.
A última sondagem eleitoral revelou ter sido suplantado, com 19%, por Marine Le Pen, candidata pela terceira vez à presidência pelo partido Rassemblement National (Reunião Nacional). Embora ambos defendam ideias de extrema-direita, é difícil imaginar uma desistência de Zemmour em favor da Le Pen, embora esta já se tenha pronunciado por uma união de forças.
Comparado com Jean-Marie Le Pen, fundador do partido Frente Nacional de extrema-direita, e com sua filha Marine, o combativo Zemmour é muito mais radical. Na sua campanha, ele traça um quadro apocalíptico para a França, com as mulheres perdendo seus direitos se não for eleito; assume de certa forma a figura de um salvador da França como um país de raça branca, e de seu idioma, o francês.
Se nada for feito, segundo ele, a França como é hoje desaparecerá, substituída por um país inseguro e dividido como o Líbano, tendo suas periferias e algumas regiões com suas populações dominadas pelos muçulmanos, falando árabe e considerando o chefe religioso local, com suas leis religiosas da shariah, como superior ao presidente e à Constituição da França.
A culpa, segundo Zemmour, é dos governos atual e anteriores, que permitiram a entrada de imigrantes africanos e muçulmanos com famílias numerosas e de alta natalidade.
Zemmour não demonstrou nenhuma dificuldade em explicar numa entrevista a um canal francês de televisão como acabará com essa situação, considerada pela imprensa exagerada e catastrófica. Para ele, no caso de ser eleito, as soluções serão:
— a promoção de um plebiscito autorizando a expulsão de todos os estrangeiros ainda em situação irregular;
— a suspensão ou anulação de toda legislação favorável à entrada de parentes dos já legalizados para as famílias serem reunidas de novo;
— a expulsão de todos os estrangeiros que tenham sido condenados por infrações ou delitos; e
— a expulsão para seus países de origem de todos os estrangeiros ora presos aguardando julgamento ou cumprindo pena de prisão, tão logo saiam da prisão ou terminem suas penas.
Essa relação de atos racistas e discricionários inclui também a anulação de todas as leis favorecendo as famílias de imigrantes e seus filhos, por considerá-las como um tipo de incitação à imigração na França.
UM POLEMISTA E NÃO UM POLÍTICO
Na França de hoje, embora o islamismo seja a segunda religião professada, ele representa apenas 8% da população. E embora haja muitos franceses com nomes árabes (o que irrita Zemmour), continuam nascendo muitos franceses com nomes tradicionais cristãos.
Muitas mulheres se vestem cobrindo todo o corpo e o rosto com a burca, porém isso não significa o fim da moda francesa. Mesmo porque, de uma maneira geral, apesar das pressões comunitárias, as estatísticas mostram não serem todos os imigrantes africanos fiéis seguidores do Islã. Apenas um terço da população faz suas cinco preces diárias e nem todos observam o jejum do Ramadã e ou comem só carne halal.
Zemmour critica igualmente o Tratado de Maastricht, de 1992, fundador da União Europeia, pelo qual os países europeus deixaram de ser isolados para viverem em comunidade, inclusive com um Parlamento Europeu.
Na contramão do ideário de Zemmour, a França e os cidadãos europeus tiveram crescimento econômico nestes últimos 30 anos, embora sem resolverem o problema do desemprego de massa, com transformações estruturais influenciando na vida comum dos franceses.
Mesmo tendo preocupado muitos franceses com o risco de conseguir eleger-se e aplicar suas medidas draconianas contra os estrangeiros, Zemmour é basicamente, como disse sua concorrente Le Pen, um polemista e não um político. Na verdade, Zemmour não conta com uma base de políticos já eleitos (como prefeitos e deputados) para apoiá-lo, nem com um partido que o sustente.
É também criticado por não possuir um programa global detalhado para o exercício da presidência. E o mais grave, não parece dispor de condições para obter as exigidas 500 assinaturas de parrainage (que se poderia traduzir por patronagem). de personalidades como parlamentares, prefeitos, conselheiros de prefeituras.
Essas 500 assinaturas são essenciais para confirmar a candidatura. Ora, o fato de Zemmour defender posições consideradas de extrema-direita e de tais assinaturas serem públicas pode provocar a rejeição de muitos. (Publicado no Observatório da Imprensa com iconografia do blog Náufrrago da Utopia)
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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
Direto da Redação é um fórum de debates publicado no Correio do Brasil pelo jornalista Rui Martins.