Ao longo das duas décadas de Vladimir Putin no poder em Moscou, pesquisas mostravam que russos culpam o governo, não o presidente, por seus problemas. Desde a reforma da Previdência, essa situação parece estar mudando.
Por Redação, com DW - de Moscou
Vladimir Putin iniciou seu mandato no topo da política russa em 9 de agosto de 1999, quando assumiu o cargo de primeiro-ministro. Na época, o homem que acabaria se tornando o sucessor de Boris Ieltsin era uma figura relativamente desconhecida. Em seu quarto mandato como chefe de Estado russo (além de uma legislatura como primeiro-ministro), Putin foi visto durante muito tempo como politicamente intocável, também no tocante à opinião pública. "O czar é bom, a nobreza é que é ruim", diz um ditado russo frequentemente citado para explicar por que o índice de aprovação do chefe de Estado permanece consistentemente mais alto do que o de seu governo. Até o próprio Putin tentou desmascarar esse mito de infalibilidade. "Existe esta eterna ideia russa de que o czar é bom e os senhores feudais são ruins. Mas posso dizer que, se algo não está indo bem, é culpa de todos", disse sobre a diferença salarial na Rússia, em sua coletiva anual de imprensa, em dezembro de 2018. Em seu mais recente programa de entrevistas, em junho último, ele também enfatizou sua responsabilidade pessoal pelas questões domésticas do país. As declarações de Putin soam proféticas, já que as pesquisas mostram que sua popularidade pode não ser mais intocável. No final de seu segundo mandato em 2008, os índices de aprovação para o cargo de presidente eram 35 pontos percentuais mais altos do que para o governo. Agora, a diferença diminuiu para 23 pontos percentuais, de acordo com o instituto estatal de pesquisa de opinião VTSIOM. Levantamentos do VTSIOM também mostram que o nível de confiança em Putin diminuiu recentemente para pouco mais de 30%, o menor índice desde que os registros se iniciaram em 2006. Tradicionalmente, a popularidade de Putin tem sido associada à restauração do sentimento de orgulho nacional da Rússia. Ele chegou ao poder no fim dos anos 1990, uma década tumultuada para o país. Quando a União Soviética entrou em colapso, isso criou um enorme caos econômico e revolta social, despertando em muitos o sentimento de que haviam perdido sua identidade nacional. Segundo Lev Gudkov, diretor da organização independente de pesquisas Centro Levada, o objetivo de Putin é "restaurar a imagem da Rússia como uma superpotência, pelo menos aos olhos dos russos, e recuperar a autoridade que tinha a União Soviética". Seus índices de aprovação alcançaram recorde absoluto após anexação da Crimeia em 2014, por exemplo. Embora condenada no Ocidente, essa medida era extremamente popular entre os russos. No entanto, uma mudança de clima político dentro da Rússia implica que Putin não poderá mais se esquivar de suas responsabilidades domésticas, concentrando-se nos assuntos externos. Por um tempo, disse Gudkov, "o mecanismo de desviar a culpa pela situação interna funcionou. Mas assim que Putin assinou a lei de reforma da Previdência, ele assumiu a responsabilidade pela situação doméstica". A reforma previdenciária da Rússia foi aprovada na Duma (Parlamento) no fim de setembro de 2018, e Putin sancionou a lei no início de outubro. A medida provocou protestos em todo o país.