Rio de Janeiro, 01 de Abril de 2025

UnB: Estudantes protestam contra a Extrema Direita

Estudantes e professores se mobilizam na UnB contra tentativa de invasão de grupo de extrema direita. Ato destaca a luta pela democracia e resistência acadêmica.

Sexta, 28 de Março de 2025 às 16:46, por: Redação Brasília
Por Redação, com sucursal – de Brasília, por Thamy Frisselli
UnB: Estudantes protestam contra a Extrema Direita | Ato na UnB no dia 24 de Março de 2025. Foto: Thamy Frisselli.
Ato na UnB no dia 24 de Março de 2025. Foto: Thamy Frisselli.

Na segunda-feira (24/3), mais de 400 pessoas, incluindo estudantes, professores, sindicalistas, partidos e diversas organizações, se reuniram na Universidade de Brasília (UnB) para um protesto contra uma tentativa de invasão por um grupo de extrema direita. O ato ocorreu no primeiro dia de aulas e teve como objetivo responder às ameaças de agressores ligados ao bolsonarismo, que haviam planejado um evento de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro e aos aliados presos.

Max Maciel, deputado distrital pelo (PSol) lembrou que na CLDF são três filhos dessa luta que essa universidade conquistou, historicamente derrotando todos os ataques que ela já passou. “Esse ataque não é nada do que essa universidade já passou. O que eles querem fazer é continuar e perpetuar, na verdade, uma universidade ainda para poucos. Uma universidade apenas para elite. Porque vocês não vão ver essas caras indo pra porta do ministério pedir mais recursos e valorização dos nossos professores e técnicos. Vocês não vão ver essa turma se mobilizando para valorizar os corpos periféricos que ocuparam a universidade, estou pedindo permanência aqui dentro. Você não vai ver essa turma se organizando para fazer essa universidade melhor. Tem uns que se preocupam com a estética. Mas não se preocupa com a estética do Caos Maior, que foi um governo Temer, golpista, que cortou o teto de gasto lá pelo teto de gasto e tirou dinheiro da nossa universidade”.

UnB: Estudantes protestam contra a Extrema Direita | Deputado Distrital Max Maciel (Psol). Foto: Thamy Frisselli.
Deputado Distrital Max Maciel (Psol). Foto: Thamy Frisselli.

Dias antes, em 14/3, o mesmo grupo, que defende a anistia para os golpistas apoiadores de Bolsonaro, havia invadido um campus vazio da universidade. Lá, danificaram grafites do Centro Acadêmico de Artes Visuais, pintando-os de branco, e espalharam cartazes defendendo a agenda da extrema direita bolsonarista. Entre as acusações infundadas, alegaram que salas de aula estavam sendo usadas para relações sexuais entre alunos e professores, e que espaços de convivência eram pontos de consumo de drogas ilícitas e tráfico, tudo financiado com recursos públicos – um ataque clássico da extrema direita às universidades públicas.

Direto do comando geral do Diretório Central dos Estudantes, e do Coletivo Juntos, Macto, reafirma que está ali hoje para demonstrar a força da Universidade de Brasília, que não vai arredar o pé para nenhum ataque da extrema-direita. “Vamos chegar mais perto para a gente mostrar a força da educação, a força da universidade pública, porque é isso que tem força aqui na nossa universidade. Estou muito feliz com a presença de todo mundo, queria desejar as boas-vindas a cada calor, caloura, calor que está chegando hoje aqui na UnB. A gente está aqui para poder mostrar a nossa força. Esse é um ato que está sendo organizado pelo DCE, pelo SINTFUB, pela ADUNB também, que é a associação dos docentes da Universidade de Brasília”.

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Para Carol Paz, secretária da Chapa Pagu, que é a atual gestão do Centro Acadêmico de Artes Visuais, o CAVIS lembrou o acontecido na última semana, o influencer de direita, Victor Johnson, postou um vídeo falando dentre várias outras barbaridades sobre a Universidade de Brasília. “Ele falou que queria fazer uma limpeza na universidade, ele e sua gangue de malucos. Alguns dias depois, ele foi convocado. Pessoas nos teatros de artes visuais e pintou a nossa porta de branco. A nossa porta é um símbolo. Lá tem camadas e camadas de tinta, não sei se vocês namoraram no camisa alguma vez, ali na ponta do ICC Sul, mas ele é todo pintado, para mim tudo era teatral de arte. Lá tem muita arte. Lá tem arte que foi acumulada durante anos. Aqui é um espaço que foi conquistado pela luz estudantil. E eles foram lá e pintaram a nossa porta de branco. Eles não são burros. Eles sabem exatamente o que eles estão fazendo. Eles sabem que isso ia atentar contra os nossos princípios, os nossos direitos e a nossa liberdade de expressão dentro da universidade.

Maurício Alves é coordenador do SITFUB, sindicato dos servidores técnicos administrativos da Universidade de Brasília e vem passar uma mensagem de ânimo. “Politicamente, sou filiado ao PT. “É muito bom ver esse ânimo, essa disposição de luta, essa garra toda. Porque a gente vai precisar disso e mais dez vezes disso para enfrentar os ventos gélidos que vem lá do norte. O Trump está encarando tudo quanto é retrocesso civilizatório. Ele é machista de sonho, ele é contra os LGBTQIA+. Ele é contra as mulheres, ele é contra os palestinos, ele é contra quase tudo que existe nesse mundo, que transpira a civilização. E esse vento gere do que vem lá do norte, não é passageiro. Não é passageiro. Por isso, nós nos confundimos, viemos aqui reafirmar que é fundamental nos mantermos todos unidos, vigilantes, respondendo a cada provocação da direita. Porque a gente sabe a serviço de quem está essa provocação”.

UnB: Estudantes protestam contra a Extrema Direita | Entidades de classe presentes no ato.Foto: Thamy Frisselli.
Entidades de classe presentes no ato.Foto: Thamy Frisselli.

O deputado distrital Fábio Félix (PSol) reiterou a importância da nova onda de mobilização contra a extrema-direita e o fascismo no Distrito Federal em Brasília. “A nossa universidade tem sido um alvo direto desses setores que se organizam no nosso país e eles se organizam por vários motivos. Eles odeiam a educação, eles odeiam a produção do conhecimento científico. Foi esse segmento que se organizou de forma negacionista na época da Covid-19. Foi esse segmento que lutou e organizou uma ideia anti-vaccina no nosso país. É esse segmento que odeia a liberdade de expressão e a pluralidade que a nossa universidade. Capaz de produzir. A nossa UNP é território de diversidade, é território das LGBTs, é território das pessoas negras, é território das mulheres e a gente precisa provar isso todos os dias. A gente não pode deixar barato o silenciamento da diversidade na nossa universidade.Tenho orgulho dessa universidade que foi a mesma que em 1968 os estudantes resistiram à ocupação militar, é a universidade que em 2008. Ocupou a reitoria e derrubou toda a gestão da universidade é a mesma que agora de pé e organizada vai derrotar o fascismo e a extrema direita mobilizados, aqui eles não ficam”.

Maria Lídia Bueno é professora da Faculdade de Educação e atual Presidenta da Associação dos Docentes da UNB. É um prazer ter composto esse ato junto com as outras categorias, com o DCE, com o CityFube, contando com a presença de professores, docentes e técnicos, para dizer que essa universidade tem uma história, uma história de resistência, uma história de luta, uma história de projeto democrático a ser irradiado para alcançar os diferentes rincões deste país. Nós temos um desafio enorme, não é fácil, a responsabilidade é enorme. E nós vamos ter que nos reinventar, nos rearticular, nos posicionar para transformar esse país da forma que nós acreditamos essa universidade continuará sendo esse baluarte de resistência. E eu conclamo as categorias a continuarem unidas e a continuarem pautando as mudanças necessárias nesse país”.

Gabriel Magno, deputado distrital (PT) prestou solidariedade especialmente ao Centro Acadêmico de Artes Visuais, que enfrentou um ato de vandalismo, não só na sua porta, mas na sua história, no seu território, o Diretório Central dos Estudantes, pela luta que tem tocado, mas o conjunto da comunidade acadêmica, que hoje inicia o semestre. “É importante dizer, que quando a extrema-direita, agora, parece que quer reivindicar direitos humanos, que agora parece que é contra a tortura, que agora quer reivindicar, inclusive, a universidade, lembra-se da escolha desse país, da relação da extrema-direita com a universidade. A extrema-direita e a universidade sempre foram sinônimo de muita divergência. Na ditadura militar, a extrema-direita tentou fechar a Universidade de Brasília. A extrema-direita expulsou estudantes, perseguiu professores, matou aqueles que resistiram e tentaram lutar por democracia. Brasília, que tem representantes do DF, não podemos esquecer que o governo Ibaneis Rocha, aliado com a Damaris, com a Bia kics, com a Michelle Bolsonaro, com a Celina Leão, agora, nesse ano de 2025, promover um corte do fundo de apoio à pesquisa de mais de 40 milhões de reais, que impacta na produção científica, que impacta nas bolsas de estudos dessa universidade. Essa é a relação da extrema direita e da direita desse país com conhecimento, é na lógica do negacionismo, é na tentativa de calar professores e estudantes”.

Entenda o caso:

  • O grupo de jovens de direita realizou atos polêmicos no Centro Acadêmico de Artes Visuais (CAVIS) na sexta-feira (14/3), cobrindo símbolos com tinta branca e estendendo uma bandeira de Israel.

  • O Diretório Central dos Estudantes (DCE) organizou um manifesto de repúdio aos atos, defendendo valores democráticos, na segunda-feira seguinte (17/3).

  • Wilker Leão, youtuber conhecido por causar tumulto em aulas, foi liberado da suspensão e se matriculou na disciplina Pensamento LGBT Brasileiro, gerando receio entre os alunos.

  • A UnB afastou Wilker Leão novamente, agora por 60 dias nesta segunda-feira (24/3), com um período de 10 dias para que ele se manifeste sobre a decisão.

  • O Youtuber, determinado a reverter sua situação, foi à universidade, a fim de reverter a decisão.

  • Os alunos de esquerda, por sua vez, também se mobilizaram para impedir a manifestação. Formaram um paredão humano nas entradas da universidade com o objetivo de bloquear o acesso dos opositores.

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