Rio de Janeiro, 10 de Dezembro de 2025

Tensão entre Camboja e Tailândia desloca meio milhão

Conflitos na fronteira entre Camboja e Tailândia forçam mais de 500 mil pessoas a evacuarem suas casas. Entenda a disputa histórica e as consequências.

Quarta, 10 de Dezembro de 2025 às 10:47, por: CdB

Os bombardeios e disparos começaram no último domingo, motivados por uma antiga disputa fronteiriça entre os dois países.

Por Redação, com CartaCapital – de Bangkok, Phnom Penh

Mais de 500 mil pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas e seguiram para abrigos seguros após os confrontos na fronteira entre a Tailândia e o Camboja, que deixaram pelo menos 11 mortos, informaram nesta quarta-feira as autoridades dos países do sudeste asiático.

Tensão entre Camboja e Tailândia desloca meio milhão | Moradores deslocados descansam enquanto se abrigam em um centro de evacuação durante confrontos ao longo da fronteira entre a Tailândia e o Camboja, na província tailandesa de Sa Kaeo
Moradores deslocados descansam enquanto se abrigam em um centro de evacuação durante confrontos ao longo da fronteira entre a Tailândia e o Camboja, na província tailandesa de Sa Kaeo

Os confrontos começaram no domingo, motivados por uma antiga disputa fronteiriça, menos de dois meses após um acordo de cessar-fogo assinado com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A maior parte dos deslocamentos ocorreu na Tailândia, segundo o Ministério da Defesa do país.

– Civis deixaram a região em grande número devido ao que avaliamos como uma ameaça iminente à sua segurança. Mais de 400 mil pessoas foram levadas para abrigos em sete províncias – declarou à imprensa o porta-voz do ministério tailandês, Surasant Kongsiri.

O Camboja, por sua vez, informou que mais de 100 mil pessoas foram deslocadas pelos confrontos fronteiriços.

– Um total de 20.015 famílias, equivalente a 101.229 pessoas, foram levadas para abrigos seguros e casas de parentes em cinco províncias até a noite de terça-feira – afirmou a porta-voz do Ministério da Defesa do Camboja, Maly Socheata.

A porta-voz anunciou na terça-feira que sete civis morreram e 20 ficaram feridos nos confrontos. O Exército tailandês anunciou em um comunicado a morte de quatro soldados.

Correspondentes da agência francesa de notícias Agence France-Presse (AFP) na localidade cambojana de Samraong relataram disparos de artilharia na direção de alguns templos na disputada zona fronteiriça.

Trump anuncia ligação

A disputa entre os dois vizinhos envolve uma divergência centenária sobre as fronteiras de 800 quilômetros traçadas durante o domínio colonial francês na região. Tanto a Tailândia quanto o Camboja reivindicam a soberania sobre vários templos antigos na área limítrofe.

Os dois países travaram cinco dias de combates em julho, que deixaram 43 mortos e quase 300 mil deslocados, antes da entrada em vigor de uma trégua.

O cessar-fogo foi ratificado em um acordo no fim de outubro, impulsionado por Trump, mas foi suspenso pela Tailândia semanas depois, após a explosão de uma mina terrestre que feriu vários soldados

Trump anunciou na terça-feira, em um comício, que telefonaria para os líderes dos dois países para acabar com o conflito.

– Amanhã tenho que fazer uma ligação telefônica, e acho que eles vão entender – declarou o presidente norte-americano em referência aos governantes do Camboja e da Tailândia.

– Quem mais poderia dizer: ‘Vou fazer uma ligação e interromper uma guerra entre dois países muito poderosos’? – acrescentou Trump durante o comício no estado da Pensilvânia.

A União Europeia fez um apelo na segunda-feira por “máxima moderação” enquanto o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, instou as partes a “renovar seu compromisso com o cessar-fogo”.

Poan Hay, uma cambojana de 55 anos, saiu às pressas de casa com sua família, incluindo três crianças pequenas, assim que ouviu os disparos.

– Esta é a quarta vez que tenho que fugir – disse ela à AFP em um pagode na província de Siem Reap. “Não sei quando poderei voltar. Tenho dormido muito pouco nos últimos cinco meses; estava preocupada com a nossa segurança”.

Na província de Surin, na Tailândia, Sutida Pusa, que administra um pequeno mercado, hesitou antes de deixar seu vilarejo, localizado a cerca de 20 quilômetros da fronteira.

– Primeiro, eu queria ver a situação com meus próprios olhos, porque os combates não estão tão intensos quanto em julho – disse a mulher de 30 anos à AFP. “Nem sempre confiamos no que nos dizem”.

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