Apesar de ter nascido nas Ilhas vulcânicas do Pacífico, o 50º Estado dos Estados Unidos, Kalani seguiu para o Brasil ainda bebê e aprendeu a surfar nas potentes ondas da Praia de Itacoatiara, em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, de onde literalmente saiu para rodar os sete mares do planeta.
Por Redação, com ABr - do Rio de Janeiro
Bodysurf, surfe de peito ou o popular jacaré. Os nomes são muitos, assim como as origens deste esporte, considerado a forma mais pura e original de deslizar sobre as ondas, valendo-se apenas do próprio corpo para fluir e se conectar à natureza.
– Não tem uma data exata, um momento de invenção. Veio antes de tudo e ninguém sabe quem inventou. Talvez, até um homem da caverna tenha entrado no mar e pegou uma onda com o próprio corpo – filosofa Kalani Latanzzi, apostando nos conterrâneos havaianos como os precursores do esporte.
Apesar de ter nascido nas Ilhas vulcânicas do Pacífico, o 50º Estado dos Estados Unidos, Kalani seguiu para o Brasil ainda bebê e aprendeu a surfar nas potentes ondas da Praia de Itacoatiara, em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, de onde literalmente saiu para rodar os sete mares do planeta. Além de vencer a edição de 2017 do Mundial de Bodyboard, desceu de peito pelos paredões de Nazaré (Portugal), Jaws (Havaí) e Puerto Escondido (México). Com tantas façanhas ele ganhou o apelido de waterman (homem água, em tradução livre) e virou tema de um documentário.
– O surfe de peito é o princípio de tudo, esporte base que pode evitar dificuldades e traumas. Caso o strep (cordinha da prancha) arrebente, (o surfista) precisa saber furar a onda ou pegar uma que o tire da arrebentação e o leve de volta para terra em segurança – explica o atleta de 29 anos, que aprendeu a modalidade aos 12 acompanhando, pelo YouTube, o multicampeão de bodyboard Mike Stewart: “Ele também é supercampeão no bodyboard. Quem vem dessa modalidade traz um conhecimento, porque há muitas similaridades, basta tirar a prancha”.
Aos 60 anos, o norte-americano Mike também pratica a modalidade, na década de 1990 chegou a ser chamado de arte perdida, mas que a partir dos anos 2000 evoluiu em popularidade com cada vez mais estilos e manobras como rolo, tubo e 360º. “O que me motiva é o oceano. O mar muda sempre, e toda vez que entro nele, seja para competir ou para me divertir, sempre tenho uma nova e diferente experiência”, afirma o veterano, citando os motivos para continuar disputando competições ao redor do mundo.
Homem-peixe
Outro personagem do Itacoatiara Pro (festival de esportes ao livre) é Henrique Pistilli, também conhecido como homem-peixe. Radicado em Fernando de Noronha (Pernambuco) desde 2010, o carioca sofreu uma lesão no joelho e acabou não competindo: “Minha intenção era participar, celebrar este cardume de gente incrível. Mesmo aqui da areia, pude ver essas grandes performances. O esporte está crescendo cada vez mais por conta dessa convergência e troca entre os atletas”.
Segundo Pistilli, as crianças intuitivamente brincam de pegar jacaré, prática natural e que se observa em qualquer lugar do globo onde há uma pessoa próxima de uma praia: “No Pacífico, os termos mais antigos para identificar esta prática são Kaha Nalu e Umauma. No Brasil há os jacarezeiros, assim apelidados pelos militares do Forte de Copacabana no início do século XX”. Além disso, o atleta aposta que o futuro do surfe de peito passa por um estilo livre, cada vez mais aprimorado e independente das competições: “Elas (competições) são importantes, mas vejo o bodysurf mais próximo do ser zen da yoga, por permitir uma conexão profunda com o mar. A pessoa pode sentir na pele toda esta energia”.
Itacoatiara Pro
Após onze edições, o Itacoatiara Pro teve pela primeira vez uma prova de surfe de peito. A competição, realizada na terça, teve como campeão o carioca Yuri Martins. O vice-campeonato ficou com Kalani Latanzzi e o terceiro lugar com Mike Stewart. Já nesta quarta-feira, o evento reuniu nomes de peso do surfe de ondas grandes, como Lucas Chumbo, Vitor Ferreira, Eric Souza, Raoni Monteiro, Gabriel Sampaio, Pedro Calado e Guilherme Herdy.