O presidente Bolsonaro inaugura um novo estilo ao fazer seu primeiro discurso, no estilo evangélico americano. Se Deus é por Ele, quem será contra Ele? Quais serão as outras novidades?
Por Rui Martins, de São Paulo:
Agora o Brasil está sob a proteção de Deus
Citando um versículo bíblico, em João 8.32 (Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará) e com oração de olhos fechados, à maneira evangélica, dita por um pastor, no estilo dos crentes norteamericanos, e dizendo o lema nazista traduzido para o português (Deutschland Uber Alles), o Brasil acima de tudo, Bolsonaro fez seu primeiro discurso de boas intenções como presidente, mas sem precisar nenhuma medida especial embora tenha repetidamente afirmado que irá cumprir a lei e a Constituição.
Sem dúvida, muitos católicos devem ter se arrependido do voto, pois pela primeira vez na história do católico Brasil, um presidente adotou a maneira evangélica americana, digna de um Trump. Adeus laicidade.
Uma decisão ficou bem clara, logo no começo de seu discurso - a de que acabou o que chamou de flerte com o socialismo, comunismo, populismo e extremismo de esquerda. Se aplicar isso só no seu governo, será seu direito, mas o perigo é o de se tornar um regra para entidades, associações, manifestações e opções artísticas.
Como agora o Brasil vai só acompanhar os grandes países liberais, deverá haver uma mudança total da política internacional brasileira, seguindo principalmente os Estados Unidos, deixando de ser o incômodo país dentro da Organização Mundial do Comércio, que questionava o protecionismo americano.
E o Acordo de Paris, Bolsonaro fará como Trump? Houve um desmentido durante a campanha, porém resta ainda a dúvida - a ecologia será respeitada ou o Brasil, como os EUA, dirá também que o aquecimento global nada tem a ver com os predadores humanos?
Sem dúvida, a insistência na citação da Bíblia e de Deus, mais a oração pública guiada por um pastor evangélico são um agradecimento ao esforço dos evangélicos em considerar Bolsonaro como um "messias" enviado para solucionar os problemas brasileiros. Sem o apoio dos evangélicos não teria sido possível a vitória.
No passado, houve sempre a presença próxima do clero católico junto do poder, porém é a primeira vez que um conglomerado de igrejas evangélicas substitui o populismo apenas político, dando uma coloração de influência teocrática numa competição presidencial. Infelizmente, isso lembra a rapidez com que as denominações protestantes alemãs apoiaram Hitler e nos faz entrar no mesmo esquema de governos muçulmanos, como o Irã, onde o poder supremo é religioso.
Aonde iremos? Estamos realmente intrigados em saber. E, nos inspirando em Bolsonaro, dizemos, que deus nos proteja, mesmo se nele não acreditamos e preferimos que fique longe da política. A particpação de carros com militares na comemoração da eleição, reforçou nossos temores.
Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI. Editor do Direto da Redação.
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.